Tendência on demand: ainda há saída para os canais tradicionais

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Opinião

Tendência on demand: ainda há saída para os canais tradicionais

A convergência digital trouxe a convergência entre os negócios do esporte, da mídia e do entretenimento em suas diversas arenas, dentro da tela, em nossas casas


13 de outubro de 2016 - 13h00

Entrei na sala de casa e encontrei meus filhos em silêncio, com a televisão ligada. A mais velha (15) estava interagindo nas redes sociais com seu smartphone, o do meio (12) assistia luta livre no Youtube com o seu tablet e o mais novo (8) vidrado numa série de animação no Netflix pelo tablet. Visto que a TV estava ligada, falando sozinha, propus desligá-la e a desliguei. Ninguém levantou a cabeça. Nem um murmúrio sequer.

A tecnologia colocou na mão do cidadão mais do que o controle remoto que passa de um canal para outro. Antes, os chamados “canais” escolhiam a linha editorial de seus programas e as pessoas assistiam o quê uma dúzia de empresas determinavam. Essa era a nossa rotina até que a tecnologia deu ao ocupante da poltrona o controle editorial. Ele passa a escolher se vai ver, o quê e quando. As barreiras territoriais já não são mais respeitadas. Filmes ou séries são lançados aqui e no exterior no mesmo dia. A internet transformou a tela em uma janela universal.

Programas de ficção, documentários e animações migraram para as plataformas cuja tecnologia permite que o usuário assista seu programa favorito na hora e no local que lhe é mais conveniente.

Cada vez menos a programação linear, aquela com data e hora de exibição, tem o poder de atrair a valiosa atenção de seus expectadores. Até as antigamente onipotentes novelas estão sofrendo com essa nova realidade.

A velocidade com que os serviços de vídeo sob demanda (VODs) vêm crescendo e, com qualidade substituindo as antigas formas de consumo de filmes e séries, já é mais do que uma tendência e se consolida como um movimento de mercado, num processo disruptivo.

Com essa queda na preferência do público, a queda do valor das inserções comerciais na programação linear impactou diretamente o orçamento das emissoras de televisão aberta. Ano após ano a participação da mídia televisão no orçamento de publicidade das empresas vem caindo. O consumidor não está mais disposto a assistir propaganda por imposição de alguém. Ele paga para não ver!

Hoje empresas como Google e Facebook já a bocanham um pedaço grande do bolo publicitário que vem encontrando nelas uma nova via para se impor na retina do consumidor.

Não só a televisão aberta que vive de publicidade está sentindo a mudança de hábito. Os canais por assinatura, com ou sem intervalos comerciais, estão experimentando o “corte do cordão umbilical”, evento pelo qual os assinantes cancelam seus serviços de televisão por assinatura, substituindo-os por VODs tipo Apple TV, Netflix. O telespectador virou usuário, não estamos mais limitados a 24h por dia por canal, quem tem o melhor conteúdo ganha a preferência, clássicos e lançamentos ganham espaço.

Paradoxalmente, nesse mar de mudanças ainda existe um território para a hora marcada que vai se tornando cada vez mais valioso. Enquanto o conteúdo gravado (filmes e séries) se liberta da linearidade da programação, ainda existe um tipo de conteúdo que possui um grande valor em seu momento de exibição: o esporte.

Na hora do jogo do Brasil na Copa do Mundo, até as moscas param de voar. Na abertura da Olimpíada, bilhões de pessoas se fixaram diante dos aparelhos no mundo todo. Quem pode, paga para assistir a luta e ver o knock-out no instante em que o lutador beija a lona e não meia hora depois.

O esporte é hoje, de maneira geral, o maior âncora da televisão como nós conhecemos. Algumas modalidades alteraram suas regras para se adequar melhor à linguagem televisiva. Até as Olimpíadas com seus nobres princípios e ambientes livres de marcas se transformaram num evento para a televisão. A captação e transmissão de eventos esportivos fica cada vez mais elaborada e sofisticada.

Com esses elementos em campo, atletas se transformam em estrelas pop com seus salários milionários e sua imagem na TV. Grandes grupos se digladiam para adquirir os direitos de patrocínio e de transmissão dos grandes torneios e as entidades organizadoras arrecadam recursos financeiros em volumes que antes eram comuns a nações. A Rede Globo tem agora a Time Warner competindo pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro e da Champions League. Com a Fox, ela disputa a Taça Libertadores da América.

Dentro deste panorama, os negócios do que se chamava anteriormente de “entretenimento” vão convergindo para o “esporte” e vice versa. A final do campeonato tem mais audiência do que o final da novela. Aliás, cada vez menos a novela tem poder de influenciar o horário do jogo. Os interesses da mídia vão influenciando práticas do esporte. O contrato de exclusividade de um atleta é igual ao do ator e parte expressiva de sua renda vem da exploração de sua imagem e não da prática esportiva. A relação do atleta deixou de ser restrita ao clube e seu agente. Atletas e cantores ditam moda e vendem produtos de varejo.

A convergência digital trouxe a convergência entre os negócios do esporte, da mídia e do entretenimento em suas diversas arenas, dentro da tela, em nossas casas. Ao mesmo tempo, a tecnologia digital serve de base para essa revolução, sendo alimentada e por sua vez alimentando o esporte e o entretenimento. O meio digital, a computação em nuvem, o IP (Internet Protocol) em suas várias formas empacota e distribui essa que é uma das maiores indústrias globais (comparável com indústria bélica e as drogas) para todos os cantos.

Ao mesmo tempo você vê o ressurgimento do vinil e dos equipamentos analógicos. Nessa terra de diversidade, economia criativa e tecnologia são protagonistas. Há espaço para um pouco de tudo.

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