Para quê serve o jornalismo?
As entrevistas dos candidatos à Presidência na Rede Globo – um dos assuntos mais polêmicos da semana –, fizeram renascer uma discussão essencial: qual é a função da imprensa?
As entrevistas dos candidatos à Presidência na Rede Globo – um dos assuntos mais polêmicos da semana –, fizeram renascer uma discussão essencial: qual é a função da imprensa?
(Crédito: RawPixel/Pexels)
As entrevistas dos candidatos à Presidência na Rede Globo – um dos assuntos mais polêmicos da semana –, fizeram renascer uma discussão essencial: qual é a função da imprensa?
Deveria ser uma resposta óbvia, mas não é.
Escreveu Pedro Dória, do excelente Canal Meio, sobre uma das entrevistas: está arraigada na cabeça de muita gente, inclusive de muitos jornalistas, que o “trabalho” em relação a muitos candidatos à Presidência deve ser desmascará-los. “No fundo, é acreditar que a imprensa deve exercer ativamente um papel nas eleições. Não deve”, diz ele. “O que a imprensa tem de fazer é não comprar as histórias contadas por nenhum partido. E revelar cada candidato, exatamente como eles são”.
Não poderia concordar mais. Mas a realidade, infelizmente, não tem sido assim.
Não são poucos os jornalistas que assumem o papel de paladinos da Justiça, absolutamente partidários do que acreditam ser “o certo”, passando por cima de valores democráticos fundamentais e tentando “salvar” as pessoas da escuridão intelectual e ideológica. Se esquecem que as pessoas não necessariamente estão iludidas sobre as coisas.
Parece ser o caso dessa eleição. Muita gente parece acreditar que, se o candidato A ou B for “pego na mentira”, isso irá provocar um efeito que levará à Iluminação das pessoas que votariam nele. E, elas, diante dessa “nova verdade”, mudarão seu voto.
Bullshit.
Parece cada vez mais nítido que quem escolhe o candidato A, B ou C acredita nele. São pessoas que não necessariamente estão fazendo uma escolha desinformada. E não necessariamente querem ser convencidas a mudar sua escolha, pois estão confortáveis com ela.
Um dos princípios fundamentais do jornalismo é levar informação às pessoas para ajuda-las a formar sua opinião. Formar, não impor.
Nessas eleições, o papel da imprensa não deveria ser de desconstruir ninguém, mas sim escancarar o jeito de pensar dos candidatos até que os eleitores cheguem a algum tipo de conclusão. Contrapor fatos, refutar, fazer perguntas certeiras são tarefas de um bom jornalista. Já provar que ele, jornalista, está certo, não faz parte de seu job description.
O Jornalismo é um dos pilares de qualquer sociedade democrática. E o papel da imprensa, numa eleição, é levar informação às pessoas. Expor fatos. Não comprar facilmente versões partidárias ou pessoais. Pressionar os candidatos a respeito de suas crenças fundamentais. E questionar seus argumentos. Fiscalizar, sempre. Mas deixar os julgamentos para a opinião pública.
Então, recapitulando: para quê serve mesmo o Jornalismo? Qual seu verdadeiro papel?
Martin Baron, atual editor do Washington Post, disse certa vez que a função da imprensa é fazer as instituições poderosas prestarem contas à sociedade. Sua opinião tem fundamento: em seu emprego anterior ele chefiou, em 2002, a equipe do jornal Boston Globe que investigou abusos sexuais cometidos por clérigos da Igreja Católica. O caso deu origem a “Spotlight”, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2016.
“Nosso papel é investigar. O dos políticos é prestar contas”, disse Baron. “O governo é a instituição mais poderosa que existe em qualquer país. E nosso dever é fazer as instituições poderosas prestarem contas à sociedade.”
O resto, como diria Millôr, é armazém de secos e molhados.
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