O ritmo da Amazon

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Opinião

O ritmo da Amazon

Até onde a companhia de Jeff Bezos pode chegar quando optar por explorar todas as suas possibilidades como veículo de mídia?


4 de fevereiro de 2019 - 15h23

 

(Crédito: Reprodução)

O início da venda direta ao consumidor pela Amazon no Brasil e o incremento do portfólio da gigante do comércio eletrônico, que passou a oferecer mais de 20 milhões de produtos em 15 categorias, ganharam as manchetes das editorias de negócio dos principais veículos do País, há duas semanas. Dentre as diferentes abordagens, praticamente todas as reportagens aventavam a possibilidade de a companhia que dominou por completo o e-commerce nos Estados Unidos passar a exercer influência similar no mercado nacional.

Parte da dinâmica habitual do ajuste diário de preços na Bolsa, mesmo em ações cujo histórico recente registra valorização consistente, as quedas pontuais nas cotações dos papéis da B2W e Magazine Luiza, cujas performances estiveram entre as melhores do ano passado na Bovespa, foram precipitadamente interpretados como um sinal de que o varejo online cá por estas bandas está também fadado a se tornar território de um único dono. Ao final do pregão da sexta-feira 1o de fevereiro, as duas companhias nacionais já tinham recuperado as perdas e os preços de suas ações estavam próximos dos recordes históricos registrados recentemente.

Barulho à parte, será preciso mais tempo para uma leitura acurada do impacto sobre o negócio dos competidores deste ainda pequeno passo da Amazon — se tivermos como referências o tamanho e a ambição da companhia. Hoje, certamente tanto o Magazine Luiza quanto o Submarino (a bandeira nativa digital da B2W) estão mais bem preparados para enfrentar a concorrente dos pesadelos de qualquer um do que há alguns anos. Mais importante, parecem determinados a encarar a desafiadora jornada da busca pela excelência do comércio eletrônico, conscientes de que, mais cedo ou mais tarde, terão de enfrentar a Amazon atuando aqui com potência máxima.

Personagem da entrevista da semana de Meio & Mensagem, publicada nas páginas 6 e 7, Alex Szapiro, executivo número 1 da Amazon para o Brasil desde o primeiro dia da operação, afirma que o prazo para isso acontecer não será determinado pela concorrência, nem mesmo pela economia do País. O ritmo será ditado pelo
comportamento do consumidor e a capacidade da empresa em entregar o que prometeu sem gerar falsas expectativas.

“Olhamos o cliente final, os problemas dele que podemos resolver para elevar conveniência (…) A economia pode subir e descer, mas quando você pensa um cenário para os próximos 20, 30, 40, 50 anos, isso se torna irrelevante”, afirmou o diretor-geral da Amazon à repórter Roseani Rocha.

O mais recente balanço financeiro da empresa fundada e liderada por Jeff Bezos mostra que o avanço da Amazon não deveria preocupar apenas os competidores diretos dentro do seu core business. Divulgado na semana passada, o documento apontou que a companhia engordou seu caixa em US$ 10 bilhões com publicidade no ano passado, mais do que o triplo projetado por analistas no começo do ano.

O valor é o suficiente para elevar a empresa, com folgas, ao posto de terceira plataforma digital que mais ganha dinheiro com anúncios no mundo, mas pequeno quando comparado às receitas anuais com publicidade registradas pelo Facebook (aproximadamente US$ 55 bilhões) e pelo Google (mais que US$ 130 bilhões). O curioso é que, até aqui, a Amazon parece ter feito muito pouco esforço para chegar onde chegou — e com uma consistência no ritmo de aumento do faturamento nunca demonstrada por nenhuma das outras companhias, como o Twitter, o Snapchat e a Oath, que já pleitearam essa emblemática posição de “terceira força”.

Com uma plataforma que, hipoteticamente, pode envolver também, seja com entregas, seja com dados, os serviços prestados pela assistente virtual Alexa nos aparelhos Echo, o player FireTV, o streaming Amazon Prime e uma rede de lojas físicas nos Estados Unidos do porte do Whole Foods, é interessante imaginar até onde a Amazon pode chegar quando optar por explorar todas as suas possibilidades como veículo de mídia.

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