Passou da hora de termos transgêneros em campanhas

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3 de março de 2021 - 13h01

(Crédito: Arusyak Pivazyan/iStock)

Ao criar uma campanha com pessoas transgêneras, você pensa no seu poder como comunicador de provocar uma mudança social ou nos prêmios que isso pode render para o seu portfólio?

Precisamos falar sobre representatividade de pessoas trans na publicidade. Essa pauta é necessária e urgente.

Pelo 13º ano consecutivo, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Sua expectativa de vida no nosso país é de 35 anos, enquanto para o restante da população é de 76 anos. Apesar dos dados assustadores e da necessidade iminente de falarmos publicamente sobre esse assunto, a publicidade ainda se mantém tímida, omissa e cisgênera.

Mas, qual é a importância de a publicidade abordar essa questão?

Primeiro porque apoiar a integração e a inclusão da sigla LGBTQIA+ só faz sentido se pessoas trans estiverem como protagonistas também, e não marginalizadas no discurso de marcas “LGBTfriendly”. Além do mais, a transgeneridade traz consigo uma tecnologia social que aponta para o que há de mais moderno na discussão de gênero, as pessoas trans carregam em si intersecções que pautam não apenas transfobia, mas machismo, masculinidades, combate ao racismo e contribuição crítica ao feminismo. A tônica do discurso trans é o respeito à IDENTIDADE, por isso ela amplia a política de inclusão de minorias e possibilita a fluência comportamental, pautada pela LIBERDADE e pelo RESPEITO.

Por isso, normalizar corpos trans é urgente e se alinha a uma política moderna, vide o discurso eleitoral de Joe Biden; quando perguntado por uma mãe de uma criança trans sobre como ele reverteria a agenda discriminatória do governo anterior, ele respondeu: “Vou simplesmente mudar a lei… Irei eliminar essas ordens executivas”. A resposta prática a isso foi: Biden nomeou Rachel Levine, mulher trans, para secretária de saúde e como uma das lideranças para conter a crise sanitária da Covid-19. É imprescindível que a publicidade entenda a normalização e o protagonismo de corpos trans como um avanço social inevitável e necessário. Além do mais, sem representatividade, sem mostrar que essas pessoas existem socialmente, que são plurais e que podem ocupar qualquer espaço, reforçamos o discurso transfóbico e mantemos as pessoas trans vivendo à margem da sociedade ideologicamente e geograficamente.

A primeira vez que uma mulher trans protagonizou uma campanha no Brasil foi em 2015. Podemos contar esse fato de outra forma: a primeira vez que uma mulher trans se viu representada por uma campanha publicitária no Brasil foi há 6 anos. Apenas 6 anos atrás. Isso traz a necessidade de uma reflexão urgente sobre o quanto estamos atrasados e sobre como é importante que nós, como comunicadores, exerçamos um papel ativo para a construção de uma publicidade plural e inclusiva para pessoas transgêneras.

O mundo se transformou e a publicidade também. Mas é preciso fazer mais, ser mais, ter mais coragem e dar passos grandes e significativos. Do mesmo tamanho que a violência que pessoas trans sofrem todos os dias simplesmente por existir. Ao ignorar, escolhemos excluir.

*Crédito da foto no topo: iStock

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