Itaú mapeia drivers do consumo em 2021
Banco divulgou resultados de seu 1º relatório de Análise de Comportamento de Consumo, pesquisa que será trimestral
Banco divulgou resultados de seu 1º relatório de Análise de Comportamento de Consumo, pesquisa que será trimestral
Roseani Rocha
9 de fevereiro de 2021 - 12h45
A expansão do crédito, como consequência do relaxamento da política monetária ano passado (visto que seus efeitos demoram um tempo para atingir a economia em plenitude), “alguma” recuperação do mercado de trabalho e a redução da poupança, ou seja, pessoas animadas com a perspectiva da vacinação e retomada da economia e um pouco menos cautelosas e mais dispostas a gastar estão entre os fatores domésticos que deverão guiar o crescimento do consumo no Brasil em 2021. Também conta para isso um fator externo, que é a expectativa de crescimento da economia mundial.
As informações são do economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, que ao lado de Moisés Nascimento, diretor de estratégia e engenharia de dados, apresentou os resultados do 1º relatório de Análise de Comportamento de Consumo, que o banco pretende fazer trimestralmente a partir de agora, e respondeu a algumas perguntas da imprensa e convidados no evento online, realizado na manhã desta 3ª-feira, 9. As informações têm como base compras feitas nos cartões de crédito e débito do banco e nos equipamentos da Rede.
Avaliando o cenário macro, Mario lembrou que o tombo no PIB ano passado foi de 4,1%, sendo a expectativa de crescimento para 2021, de 4%. “Boa parte do crescimento esperado para este ano é herança estatística de 2020 ainda”, afirmou o economista que vê este ano iniciar meio que andando de lado ainda. Além disso, ele ressalta crescimento heterogêneo, com alguns setores bastante resilientes, como intermediação financeira, agricultura e construção civil. Ao passo que outros, como serviços em geral e o turismo especificamente, seguem enfrentando grandes dificuldades.
Ainda assim, ele avalia que mais recentemente, considerando a segunda onda da Covid-19 e a remoção de auxílios fiscais por parte do governo, a economia tem se mostrado resiliente, o lado meio cheio do copo. Já o lado meio vazio é o ritmo lento de crescimento desde o terceiro trimestre do ano passado.
Mesmo dentro de um mesmo segmento, notou Mario, a situação é heterogênea. O varejo de vestuário enfrenta dificuldades com as pessoas em casa, ao passo que farma e material de construção crescem. Ele também nota a existência de uma pressão inflacionária, relacionada a câmbio e ao redirecionamento da demanda de consumo a um conjunto mais limitado de bens, o que provoca aumento da demanda e restrição da oferta. “Houve muita inflação de alimentos ano passado, o que não deve se repetir em 2021, mas é um fator a se monitorar”, alerta o economista, para quem a inflação deve ficar entre 3% e 4% ao final deste ano. Ao longo do ano pode até ficar acima disso, chegando ao máximo de 6,5% e o Banco Central deve começar subir taxa de juro de 2% para 3,5%.
Efeitos da pandemia sobre comportamento
Apresentando os dados do relatório em si, Moisés Nascimento contou que o ponto de partida para essa primeira apresentação de resultados foi a pergunta “Como a pandemia afetou o comportamento do consumidor?”. Ele lembrou que o comércio vinha movimentado nos primeiros meses de 2020, com crescimento de mais de 16% nos dois primeiros meses em relação ao período equivalente em 2019, quadro que passou a mudar em março com a pandemia e as medidas de isolamento social. Abril registrou a queda mais acentuada nos valores transacionados (-22,4%), sendo que o consumo só começa a se recuperar no terceiro trimestre e o ano de 2020 se encerra com faturamento 3,2% maior que o de 2019. Os segmentos que puxaram essa alta foram os de Mercados, Atacadistas, Materiais de Construção, e Drogarias/Cosméticos. Na outra ponta, ou seja, os que mais perderam em valores transacionados estão o citado Turismo, assim como Vestuário, Cultura, Esportes & Entretenimento e Educação.
A despeito do quanto se exaltou o crescimento do e-commerce, que em alguns momentos tornou-se mesmo o único canal de vendas para muitas marcas, o varejo físico respondeu em 2020 por 81% de share dos valores transacionados e o digital, por 18,9%, uma alta de 19,4%, acelerada pelo isolamento social. “O que cresceu em ambos, físico e online, foram justamente Atacadistas e Material de Construção”, afirmou Moisés Nascimento.
O turismo caiu 39,5% no físico e 45,5% no online, na comparação ano a ano. Já as transações online de restaurantes cresceram 115,1% no ano, dadas as restrições que sofreram no ambiente físico. Moisés notou que a última Black Friday foi a primeira em que as transações em cartões foram maiores no online do que no varejo físico. No entanto, quando a partir do segundo e terceiro trimestres as medidas de isolamento são flexibilizadas a participação do varejo online retrai. “Tudo indica que o brasileiro foi para o online por necessidade, mas ainda tem preferência pelo varejo físico”, argumenta o diretor de estratégia do Itaú.
Para evitar sair muito de casa, mas também os gastos com frete, as pessoas passaram a fazer compras maiores, em menor frequência, aumentando gasto médio e o parcelamento das compras (aquelas parceladas em mais de 10x tiveram aumento de 12,8% sobre 2019). O valor do gasto médio por transação no comércio cresceu 6,9% sobre 2019, crescimento mais acentuado entre os consumidores de maior poder aquisitivo.
Outra mudança de comportamento foi o crescimento “exponencial” do pagamento por aproximação: 326% sobre 2019. Antes do isolamento, os pagamentos por aproximação vinham crescendo a uma taxa média mensal de 2,3%, depois, chegou a 17,3%, totalizando média mensal no ano de 13,6%. E esse comportamento é um dos que devem perdurar mesmo no pós-pandemia. Outro é o delivery nos restaurantes, por exemplo.
Neste primeiro relatório, o Itaú Unibanco também fez um recorte por perfis de consumo considerando gênero e faixa etária, além de detectar novos padrões de comportamento e hobbies.
As mulheres responderam por pouco mais da metade das compras online (50,4%), especialmente nos setores de Vestuário, Drogarias e Atacadista. Já os homens, gastaram 23,9% mais que elas por transação, com suas compras concentradas em Atacadistas, Eletrônicos e Saúde. Os consumidores da geração X (nascidos entre 1965 e 1984) foram os que mais gastaram em 2020, tanto em compras online quanto presenciais. Já a geração Y (nascidos entre 1985-1999) foi a que mais aumentou seu tíquete médio em relação ao ano anterior.
O home office e o isolamento social levaram a quedas, respectivas, de 38,6% e 43,8% no transporte urbano e turismo, em relação a 2019. Por outro lado, isso fez crescer 39% as vendas de móveis para escritório e de 29,8% outros itens para casa (materiais de construção e reforma; itens de decoração e jardinagem). Mesmo a convivência maior com pets em casa fez as transações relativas a artigos para eles e serviços veterinários crescerem 13,2%.
A pandemia também trouxe outros novos padrões de consumo. O isolamento social fez cair em 32,3% as transações de clubes e academias, mas elevou em 54,4% as vendas de bicicletas. Bares e baladas viram suas transações diminuírem 32%, mas o delivery aumentou 31%. Finalmente, se muitos equipamentos culturais das cidades seguem fechados, o consumidor tem tentado manter o entretenimento com outras fontes e o faturamento de streamings, livros, games e instrumentos musicais cresceu 40,4%.
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