Novo Nordisk: os planos e a atuação da farmacêutica além do Ozempic
General manager da farmacêutica dinamarquesa no Brasil, Isabella Wanderley comenta explosão global do consumo do medicamento e desafios de comunicação no setor
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Roseani Rocha
30 de janeiro de 2024 - 6h00
Até 2030, estima-se que o mercado de emagrecedores movimentará globalmente US$ 100 bilhões. Nesse universo, alguns produtos foram destaque em anos recentes pelo pico de procura que tiveram, entre eles o Ozempic, medicamento para diabetes tipo 2 produzido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, mas que acabou sendo largamente usado por pessoas em busca de perder peso.
Atuando em tratamentos de doenças de alta complexidade, a Novo Nordisk, que em 2023 completou 100 anos, tem ampliado fábricas na matriz e em Chartres, na França, para adequar produção à alta demanda. Na Europa, a empresa tornou-se a mais valiosa entre as negociadas na bolsa, passando o grupo de luxo LVMH, ao atingir valor de US$ 431 bilhões. O Brasil está entre os cinco maiores mercados da companhia no mundo e, recentemente, tornou-se um de seus 16 hubs globais de pesquisa clínica.
Isabella Wanderley, general manager da farmacêutica no País, comenta o fenômeno Ozempic, assim como a importância, no setor de saúde, de combater a desinformação e fazer com que as marcas do segmento tenham voz ativa e transparente nas pautas em torno de medicamentos.
Tem aumentado a consciência de que obesidade é uma doença que tem estigma de não ser doença, de ser culpa de quem é obeso, “a pessoa é preguiçosa, é desleixada, não quer se cuidar”. Temos aumentado a conscientização. Inclusive, é doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde e isso tem ajudado as pessoas a buscarem tratamentos, que têm que ser feitos em conjunto com uma mudança de estilo de vida, com atividade física, mas que ajudam o paciente a ter controle, porque é uma doença que tem um efeito social e é a causa de mortalidade de outras doenças – diabetes tardio, do tipo 2, alguns tipos de câncer, problemas cardiovasculares; tem efeito no Alzheimer. É uma doença com a qual a sociedade toda terá que aprender a lidar. No Brasil, daqui dez anos teremos em torno de 56% de pessoas com sobrepeso e obesidade – metade da população – e esse número não é muito diferente do resto do mundo. Então, precisamos entender melhor essa doença e como tratar.
A Novo tem um posicionamento forte em relação ao uso de todos os produtos do nosso portfólio dentro das indicações de bula. É isso que endossamos e incentivamos. A comunicação tem um papel grande de colocar nosso statement na mídia. Enfim, em cada colocação que sai estarmos presentes com nosso ponto de vista. Obviamente, temos um papel limitado; a prescrição é feita pelo médico, mas deixamos clara nossa posição.
Temos um acompanhamento grande, no mundo inteiro, do que acontece nas redes sociais, na mídia, e a estratégia é sempre colocar a nossa posição e ser muito transparentes, ou seja, assim que tivermos informações, nos pronunciar. Como temos tido portas abertas, essa proximidade de falar “olha, não é bem assim, deixa eu te explicar o que acontece com o uso do medicamento, que efeitos colaterais podem ter eventualmente”, temos tido uma relação muito boa com a mídia, que nos procura até antes e a notícia já tem saído com nosso statement. Não conseguimos parar algumas notícias, porque ajudam com alguns cliques, talvez. Mas temos conseguido combater desinformação, que em qualquer situação é ruim, mas na saúde, está afetando uma vida. Uma pessoa que precisa de um remédio pode se assustar e não querer continuar com um tratamento que vai fazer diferença para a vida dela.
Aqui no Brasil, já investimos mais de R$ 125 milhões em pesquisa nos últimos anos. Não temos a pesquisa fundamental das moléculas – os centros de pesquisa e desenvolvimento estão na Dinamarca e nos EUA -, mas temos a pesquisa clínica, quando o medicamento já está seguro e vai ser testado com humanos. O Brasil é um dos hubs. Hoje, temos 16 pesquisas, mais de dois mil pacientes participando. E o papel da Novo é ser uma indústria de inovação. Completamos 100 anos (em 2023) e lembramos que há 100 anos uma pessoa com diabetes tipo 1 era uma sentença de morte. Hoje, não se fala mais disso. Infelizmente, ainda tem uma dificuldade de diagnóstico, mas a Novo há 100 anos inovou e é isso que vem fazendo. Depois, inovou na insulina, que era do porco, passou a ser humana, daí às insulinas modernas e, hoje, já temos moléculas que não trabalham com insulinização. Inovou na maneira de aplicar; a agulha de 100 anos atrás era assustadora, agora, é uma de 3 mm. É uma empresa que olha para os desafios que existem no mundo da saúde, das doenças crônicas e gosta desses desafios, de investigar como pode ajudar.
O Brasil segue uma situação que vemos no mundo inteiro, mas há questões diferentes. Existe a falsificação; existe o uso de uma similaridade de marca, quando se tem um nome muito próximo de um produto, mas ele não é a mesma coisa, até porque os produtos são patenteados; e tem produtos que podem ter uma origem que não sabemos por onde andou, pois, por algum motivo, houve um desvio. Nossos produtos, em sua maioria, são de cadeia fria, ou seja, refrigerados até chegar ao paciente. Para isso, existe um controle de qualidade desde a produção: os itens que saem da Dinamarca têm a vida mensurada, com sensores, assim como o pallet, quando chega ao nosso centro de distribuição, e dali até chegar à farmácia, onde ficam em geladeiras. Quando vemos movimentos de desvio, falsificações etc, temos caminhos jurídicos, em que atuamos não só no Brasil, mas no mundo, ou seja, temos uma equipe corporativa; também ativamos os agentes de segurança, porque estamos falando de uma falsificação de uma coisa que… imagina se alguém se injeta com um produto que não é o do seu tratamento, pode morrer. No Brasil, temos um pouco de tudo, mas menos falsificações e mais cópias. Então, existe um escritório de marcas e patentes atuante. E na comunicação temos esse papel de usar todos os meios disponíveis, inclusive meu LinkedIn. Para todos nós executivos esse é um tema muito sério e temos tentado dar mais voz. Não é um problema da Novo Nordisk, mas da indústria farmacêutica como um todo e vemos, inclusive, ação da própria Anvisa de tentar esclarecer. Primeiro, temos que combater quem está fazendo errado, mas também avisar os pacientes, os compradores, que eles deveriam desconfiar de ofertas mágicas na internet. Até porque o preço do medicamento no Brasil é regulado pelo Governo. Nós trabalhamos com distribuidores e parceiros varejistas de confiança. Temos trabalhado em expandir (alertas) em tudo, nas nossas mídias sociais, no nosso site. As associações de pacientes também nos ajudam bastante nesse trabalho, porque não é um problema de uma empresa, mas da indústria. Existe há bastante tempo e precisamos de quem quiser se juntar a nós nessa bandeira, porque temos consciência de que estamos salvando vidas.
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