Opinião: Mulheres no topo
Por que a participação das mulheres no mercado de trabalho não acompanha ou reflete a própria sociedade?
Por que a participação das mulheres no mercado de trabalho não acompanha ou reflete a própria sociedade?
Meio & Mensagem
26 de outubro de 2015 - 9h46
Por Paula Pedrão*
O Brasil não foge à regra mundial e tem uma estrutura demográfica na qual o número de mulheres é ligeiramente superior ao de homens, em uma razão de 96 homens para cada grupo de 100 mulheres, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa paridade de gênero na sociedade, no entanto, está longe de se repetir no mercado de trabalho.
Somente 3% dos CEOs no mundo são mulheres. Mais dados: levantamento da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) mostra que, de 100 cadeiras de diretorias e Conselhos de Administração das empresas listadas no mercado, apenas oito, isto mesmo, oito, são ocupadas por mulheres. Precisa dizer que é pouco?
A questão não é apenas estatística, mas social. Ou seja, se somos praticamente metade da população, ocupar menos de 10% dos cargos executivos e/ou assentos no Conselho das empresas poderia parecer uma esquizofrenia.
Mas, por que a participação das mulheres no mercado de trabalho não acompanha ou reflete a própria sociedade? Alguns fatores contribuíram para esta situação. Além da entrada razoavelmente recente das mulheres no mercado de trabalho, características que são inerentes à condição feminina (maternidade, em especial, pelo período de licença que a enseja) ainda são tacanhamente contabilizadas como “prejuízo”, ou pior, visto como um problema ou uma enfermidade. Anda hoje, a mulher encontra obstáculos bem maiores para ascender do que homens com o mesmo grau de escolaridade e competências similares.
A cada degrau dessa escalada corporativa o ar vai ficando mais rarefeito às mulheres em comparação com os homens. E não é porque não se tenha bons pulmões ou capacidade de se chegar ao cume. Fincar os primeiros cravos nessa subida, para muitas, é também o momento em que se decide pousar sobre a planície. É a hora do opt-out, do “me inclua fora disso”.
É bem verdade que nos últimos anos a situação tem se modificado e mais mulheres competentes tem sido nomeadas para cargos de liderança. Mas ainda não é uma situação ideal. A pesquisa Women in Business 2015, da Grant Thornton, divulgada este ano, revela que o Brasil é o 3º colocado entre os países que menos promovem funcionárias em posições de liderança.
A consciência dessa situação fez com que um grupo de mulheres executivas estivessem engajadas nessa temática e começasse a trabalhar para viabilizar formas e mecanismos de aceleração dessa mudança. Já são muitas frentes ocorrendo em várias esferas, tanto no campo social, empresarial e político. Eu fui uma dessas mulheres mordidas pelo bichinho da igualdade. E, com total apoio e incentivo da Companhia, me uni a um grupo de mulheres no GPA e partimos para a ação.
Não há nada pior do que querer discutir na teoria algo que não faz sentido, que não é aplicado na prática. Felizmente, este não é o nosso caso. Hoje, 47% do quadro de colaboradores do GPA é composto por mulheres. Somos uma daquelas oito companhias entre as 100 listadas em Bolsa com mulheres no Conselho de Administração.
Há nove meses começamos a gestar esse projeto com o objetivo de contribuir e acelerar a mudança desse cenário. Como primeiras medidas, montamos nosso comitê, o Comitê Executivo de Mulheres (CEM) e com a participação também dos nossos colegas homens – alguém aqui ainda pensa que querer mais tempo para família é um desejo exclusivamente feminino? – estamos identificando gaps e trabalhando consistentemente em programas para eliminá-los. Paralelamente, estamos em uma empreitada para promover a conscientização, deles e também delas, para o tema e assim evoluir em ações que torne o ambiente corporativo ainda mais favorável ao desenvolvimento de carreira, seja para mulheres, seja para homens. É evidente que também compõe nosso programa a discussão e solução de questões “exclusivas” ao universo feminino, como maternidade (gestação, aleitamento) e o retorno à rotina de trabalho após o período de licença. Vale destacar que esse processo é um dos mais complexos e decisivos na escolha por permanecer ou sair do mundo corporativo.
Lamentar o leite derramado ou o sonho que ainda não se conquistou, porém, é perda de tempo e energia. Se cada um fizer a sua parte, este cenário muda, mais rápido do que se imagina.
*Paula Pedrão é diretora de Comunicação Corporativa do Grupo Pão de Açúcar
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