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Camila Coutinho: como a influência pode impulsionar a agenda ESG

Empresária, que foi primeira influenciadora brasileira a assinar o Pacto Global da ONU, fala sobre a responsabilidade de usar a voz em prol da transformação social


23 de setembro de 2022 - 6h05

Nos últimos dias, a influenciadora e empresária Camila Coutinho, dona das marcas Garotas Estúpidas (GE) e GE Beauty esteve em Nova York para participar da 77ª Assembleia Geral da Organização das Unidas por uma razão específica: sua empresa tornou-se signatária do Pacto Global da ONU, uma iniciativa pela qual as empresas se propõem a cumprir uma série de metas e ações a fim de contribuir com a agenda social, ambiental e de governança.

 

Influenciadora e empresária Camila Coutinho

Camila Coutinho tornou suas marcas, a GE e a GE Beauty, signatárias do Pacto Global da ONU (Crédito: Divulgação)

Embora já pensasse em alguns desses temas ao longo da carreira de forma natural, Camila levou um tempo para pensar na formalização de um compromissos com a causa. A empresária, que há 16 anos iniciou a carreira com um blog sobre beleza e estilo, revela que tinha mais inclinação à causa da equidade de gênero e que procurava, na produção de conteúdo, contemplar a diversidade e representatividade.

Foi durante a pandemia, no entanto, que Camila sentiu a necessidade aprofundar as questões sociais em sua empresa. Para isso, contou com apoio da plataforma Transforma Brasil para direcionar esforços em prol da causa da equidade de gênero. Dessa forma, surgiu o projeto GE Formando Líderes, voltado ao empoderamento de mulheres em situação de vulnerabilidade social. Criado em 2021, o projeto terá nova edição neste ano, voltada às mulheres da cidade de São Paulo, com inscrições até 9 de outubro.

Como signatária do Pacto Global da ONU, Camila diz que a missão não é apenas adequar sua empresas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da ONU, mas também usar sua voz como amplificadora da agenda de inclusão, sustentabilidade e diversidade.

De Nova York, Camila conversou com Meio & Mensagem para falar sobre como o marketing de influência pode se aproximar a agenda ESG. Veja:

Atuação em causas sociais

Tenho 16 anos de carreira e minha empresa já nasceu em um ambiente de mudanças, propício a coisas novas. Estamos, por exemplo, acima do desejado em termos de mulheres ocupando cargos de liderança – o desejável é 30%, estamos em 50%. Mas era algo natural: via as mulheres capazes e arrasando naquelas cadeiras e as coisas iam fluindo naturalmente. Sempre tivemos preocupação em relação à diversidade e pluralidade do conteúdo. Não digo que isso tenha sido desde o início, porque o mundo era outro em termos de percepção, mas digo que, de cinco anos para cá, é algo em que prestamos muito atenção. Havia vários pontos de trabalho que já eram naturais do grupo, mas aí, na época da pandemia, quando houve o movimento importantíssimo do Black Lives Matter, a gente se posicionou, mas senti um incômodo que, no começo, não consegui bem traduzir, mas que, depois, entendi que era porque não queria ficar só no âmbito da hashtag. Aí pensei que já fazíamos trabalhos voltados à diversidade, como a inserção de modelos trans em campanhas de GE Beauty e colunistas trans, e tive a ideia de colocar toda minha energia e verbas disponíveis para uma causa específica.

Dos projetos ao Pacto Global da ONU

Foi aí que entrei em contato com o pessoal do Transforma Brasil, passamos a conversar semanalmente, e disse que queria me dedicar, oficialmente, à causa do empoderamento feminino de maneira ativa. Começamos a montar o projeto do GE Formando Líderes, que estreou em 2021 e terá uma nova edição agora, como uma agenda continua. Não se trata de um projeto apenas de mentoria: estamos disponíveis para ajudar as mulheres a atingirem seus sonhos e furarem as bolhas 100% do tempo. Esse foi o grande start consciente e, a partir disso, da parceria com o Transforma Brasil, estruturamos um projeto e abriu-se uma janela de possibilidades para nós. Por isso, houve a ideia de inscrever o GE no Pacto Global. Assinamos o pacto, submetendo todas as nossas marcas e, agora, viemos ao evento em Nova York porque enxergo nosso papel não só como uma empresa cumpridora de todas as ODS e compromissos, mas como voz amplificadora.

Amplificação da pauta ESG

Na verdade, não se trata de algo sobre mim, e sim sobre todo o movimento. Fui a primeira influenciadora brasileira a aderir ao Pacto, mas a ideia é que venham mais, porque as influenciadoras brasileiras são empresárias, muitas têm marcas próprias, têm canais de comunicação, e tudo isso acaba entrando como elementos para o Pacto. O Garotas Estúpidas entrou pela responsabilidade de informação, pela diversidade, então, acho que todo mundo pode adaptar seu produto de uma maneira positiva. Aqui, nos debates do evento, foi muito falado que nosso papel é traduzir narrativas interessantes para educar o público sobre isso. Temos que criar histórias porque a gente não se identifica com dados e com números. Nos identificamos com histórias. Esse é um poder muito forte, sobretudo no mundo atual, em que a informação é usada para o bem e para o mal, e temos muito mais consciência sobre isso.

Marketing de Influência e responsabilidade social

Acredito que muitas meninas já façam trabalhos relacionados a responsabilidade social, como eu fazia antes, de forma reativa. Mas já estamos em um momento em que isso é importante para o mundo e para os negócios. Portanto, é importante ser ativo e não mais reativo e ir em busca de como ser mais positivo para a sociedade dentro daquilo que já fazemos. Isso, claro, exige muita dedicação: é preciso parar, estudar, conversar. Eu não sabia o que era uma ODS, por exemplo, mas tive a oportunidade de ter acesso a estudos e a toda a parte educacional. Imagine quantas pessoas não têm acesso a entender o que tudo isso significa. Seria muito legal se meu mercado começasse a agir mais ativamente nesse sentido. Hoje, já temos plena ideia do nosso papel, de como atingimos as pessoas e do que podemos mover com as redes sociais e nossa voz. Não dá para exigir que o Brasil todo, que é enorme e com grandes diferenças sociais, tenha essa consciência. Mas quem tem essa consciência tem de ter essa responsabilidade. Não tem desculpa. Se você tem consciência e não faz nada, está fechando os olhos.

Fortalecimento dos pilares

Embora estejamos bem-posicionados em termos de igualdade de gênero, ainda temos muito o que melhorar na questão de representatividade na empresa. Não tenho vergonha de assumir isso porque os desafios são muitos, para empresas grandes e pequenas, e é preciso assumir um compromisso e construir uma jornada. É impossível, de um dia para outro, querer dar ‘check’ e resolver tudo, ainda mais em empresas pequenas. Ainda temos que melhorar em relação à diversidade dentro do time, que é algo necessário, em todos os sentidos. Queremos melhorar muito a GE Beauty em termos de sustentabilidade. A linha já é clean, vegana, não-testada em animais e com embalagens recicláveis e recicladas (30% do plástico da composição já é plástico não-virgem). Ainda assim, há muita coisa para fazer em termos de logística reversa, para a conscientização do consumidor no processo de reciclagem. Temos um ecossistema, por termos o produto, a influenciadora e o veículo, então conseguimos unificar essas intenções, dentro de nosso guarda-chuva de valores. Além, claro, de trazer mais gente para a causa.

Atuação como pessoa física

Minha intenção, pessoalmente, é ser porta-voz da causa. Quero pentelhar todo mundo (risos). Conversei recentemente com o Edu Lyra [fundador e CEO da ONG Gerando Falcões]. Ele é sociável, entra em todos os lugares e fala com tudo mundo e sabe se colocar. Perguntei a ele como ele convence as pessoas a participarem das causas. Ele respondeu que temos que descobrir o que a pessoa quer com aquela doação. Para quem está recebendo a doação, não importa a motivação da doação. Mas quem doa, às vezes, quer ir para o céu, quer dormir bem após sentir que fez algo errado, ou as vezes quer só um acesso a um ambiente onde há pessoas que atuam em causas sociais. Temos que tirar o romantismo e ser mais práticos e ativos no ambiente em que frequentamos em prol das causas. Eu converso com várias pessoas, sento em mesas com profissionais que tomam decisões, falo com a mídia, então, ser porta-voz de uma causa é leva-la a todos esses lugares em que, muitas vezes, não há acesso para o tema. É preciso ativar as pessoas, apertando o “botão” certo em cada uma para que ela também se engaje.

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