“Erros das marcas nascem da falta de novas referências”
Ex-head de marketing da Lab Fantasma, Felippe Guerra assume como head comercial e projetos da Trace Brasil e reforça o papel da cultura afrourbana
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Luiz Gustavo Pacete
30 de outubro de 2020 - 6h00
Egresso da Lab Fantasma, holding de música e moda dos irmãos Fióti e Emicida, onde atuava como head de marketing, Felippe Guerra assume como head comercial e projetos da Trace. A filial brasileira do grupo de mídia global que tem em seu DNA a cultura afrourbana foi criada em outubro do ano passado e prevê, em 2021, a criação das verticais Trace Trends & Brazuca, Trace Academia e Trace Plus.
“O Brasil é um país com uma das maiores diversidades culturais do planeta. Temos um target que consome R$ 1,7 trilhão sem ser realmente representado”, afirma Felippe. Em entrevista ao Meio & Mensagem, ele reforça o papel da cultura afrourbana e reforça a necessidade de as marcas buscarem novas referencias culturais. Empreendedor, Felippe é cofundador da RangoTV e da Snacklicious Foods, com passagens pelas áreas de marketing de multinacionais como Asics, Adidas e Puma Group, além de colunista do ProXXIma.
Meio & Mensagem – Qual o potencial da cultura afro urbana e como ela pode servir de inspiração para as marcas?
Felippe Guerra – Se olharmos a história da cultura pop global dos últimos 50 anos, veremos em quase todos os momentos a influência da cultura afro. Seja na moda, na música ou em praticamente todos os aspectos do ecossistema de entretenimento. Agora, some isso a uma população que não se vê representada, que não vê o que chamo de “Brasil Real”, na TV, no cinema e muito menos na publicidade, mas é a maioria no país e consome R$ 1.7 trilhões, mesmo com um mercado que oferece pouquíssimas opções de serviços e produtos que dialoguem direto com ela. É uma cultura que pauta a diversidade e a pluralidade brasileira de forma legítima com um potencial que vai muito além das comunidades.
Movimentos transformam inclusão em marcas
M&M – Como transformar esse potencial em oportunidades de produtos mas de forma legítima?
Guerra – Sendo genuíno na construção de sua narrativa e desenvolvimento de produtos. E isso só se consegue ao sair das nossas usuais bolhas e trocar informações com os jovens nas ruas, observar muito e o principal que é trabalhar com um time realmente diverso. Backgrounds diversos levarão à idéias originais que vão certamente gerar bons resultados. O mercado Brasileiro vai muito além de São Paulo, e como o que estamos construindo é algo que busca falar com toda população brasileira, acredito que temos muitas oportunidades de aliar bom conteúdo e resultados impactantes aos nossos parceiros anunciantes.
M&M-Quando falamos de collabs de marcas tradicionais e coletivos e artistas, quais os cuidados e pontos de atenção?
Guerra – Acredito que o principal deles é realmente dar valor e espaço criativo a esses artistas e novos talentos. Não é porque normalmente eles vêm de uma realidade financeira desfavorável que o trabalho deva valer menos e do lado criativo, é preciso que eles tenham liberdade real para apresentar suas ideias e criar de forma original e legítima.
M&M -Qual o papel da cultura afrourbana em educar nossa sociedade contra o racismo e qual a importância de que esse tema ganhe cada vez mais projeção?
Guerra – Muitos dos erros que vemos atualmente algumas marcas cometerem acontecem principalmente por falta de outras referências culturais além daquelas que vêm sendo mostradas no mainstream e essa invisibilidade serve de combustível para aumentar essa falta de referência e valorização. De um lado você tem uma população que aprendeu que tudo que é europeu é incrível e de outro pessoas que nunca se viram representadas e, com isso, têm dificuldades de se reconhecer e estabelecer conexões positivas. Ao darmos referências sócio culturais mais amplas todos os lados sairão vencedores.
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