Indústria musical: tendências, conteúdo e novas receitas
Relatório de tendências da Box1824 com Multishow expõe tendências aceleradas pela pandemia
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Thaís Monteiro
1 de julho de 2020 - 10h07
Desde que a pandemia se alastrou pelo Brasil, a indústria da música perdeu uma de suas principais fontes de receita: os eventos físicos. Buscando se reinventar, artistas, festivais e canais de televisão começaram a transmitir shows ao vivo gravados remotamente ou com equipe reduzida da casa dos cantores e bandas ou em estúdios controlados. O virtual teve sua relevância acelerada e novas formas de relacionamento entre fãs e artistas começaram a surgir.
Esses movimentos foram mapeados pela quinta edição do Music Trends, um estudo feito pelo Multishow com a Box 1824, cuja proposta é identificar tendências no cenário musical e estará disponível ainda este mês na plataforma Gente, da Globo. A pesquisa começou a ser realizada antes das medidas de isolamento social serem adotadas no Brasil e pôde obter insights pré e durante a pandemia, a partir de dados do canal da Globosat, de relatórios de tendências de institutos de pesquisas, conversas e entrevistas de profundidade com especialistas. Além disso, a edição, que normalmente traz resultados de médio e longo prazos, ganhou projeções mais práticas e de curto prazo devido ao cenário de incertezas e constantes mudanças.
Ao todo, foram identificadas dez tendências divididas em duas categorias: as de ordem individual, que concentram os movimentos de impacto pessoal, e as de ordem coletiva, que une as que tratam de relações e impacto social. De acordo com Henrique Diaz, head de tendências e futuro da Box 1824, as relações sociais, que já caminhavam para uma seletividade maior, agora serão mais pautadas pela formação de bolhas de relacionamentos que estão se fortificando virtualmente, tendo a música como uma cola cultural, e serão transpostos para o mundo físico conforme a reabertura for implementada. Já o individual foi alimentado pelo tempo maior que o público está passando sozinho, redescobrindo gostos e conectando consigo mesmo.
Games e música revivem combinação histórica
Como o próprio momento demanda, a música também passou a ter papel de auxiliadora em momentos de estresse ou então para a realização de atividades rotineiras, como as playlists de meditação ou faxina que já era uma tendência que vinha acontecendo. Segundo Diaz, muitos têm buscado a música para lidar com a ansiedade e alguns selos já vêm trabalhando com produções de combate a depressão. A música também virou mediadora ou provocadoras de discussões sobre desigualdade, como foram os movimentos #BlackOutTuesday e The Show Must Be Paused (o show deve ser pausado), lançados nas redes sociais pela indústria da música propondo que gravadoras, rádios e artistas interrompam suas programações ou falas na internet. As discussões também vão colocar a indústria em cheque, como em debates sobre o tipo de impacto no meio ambiente que um festival ou shows proporcionam.
Nas tendências coletivas, foi identificado que os artistas, com mais tempo de conexão com os fãs já que sua agenda de shows físicos foi pausada, estão começando a mostrar demais facetas da sua personalidade além de bom músico e, assim, sua atividade com a imprensa e relação com marcas começa a mudar. Ainda nesse quesito, os músicos, mais do que nunca, precisam se conectar de forma mais intensa ou profunda com seus fãs, até para compreender novas oportunidades de negócios. Se torna também mais fácil a conexão global com artistas de diversos cantos do mundo pois estes estão mais predispostos a realizar lives e gerar conteúdo.
Já considerada uma forma de cola cultural, a música teve essa função alimentada. Pessoas solitárias em casa começaram a buscar se aproximar de pessoas com os mesmos grupos musicais e formar novos grupos de amigos menores conectados pelo mesmo fator. Além disso, o relatório observa a dança como uma nova forma de interação por baladas ou festas pequenas por ferramentas de videoconferência. De acordo com Diaz, o público se atrai pela imprevisibilidade de como a festa acontecerá e quem estará lá.O estudo é realizado há dez anos e a principal tendência observada nesses anos, a força do ao vivo, foi interrompida. “Na música sempre foi falado da força do ao vivo. Sempre teve a concretude da vivência dela no ao vivo e no físico. Nunca foi um problema para as pessoas. Quando aconteceu a pandemia, essa foi a maior mudança. Não colabora que no Brasil tendemos a resistir a situações ruins, temos esse otimismo de que as coisas vão passar logo e vivemos um negacionismo”, diz Henrique. Outras tendências, como a formação de bolhas, o consumo de conteúdo, o viver intensamente, a ligação com os fãs e com artistas globais e até as atividades sociais feitas virtualmente — que eram mais nichadas, feitas por pessoas que não podiam sair de casa — já eram observadas foram aumentadas ou aceleradas. “O distanciamento é físico, virtualmente estamos muito próximos. O problema e o desafio é que não nos preparamos para resoluções virtuais completas”, afirma Diaz.
Para o especialista, a volta dos shows e eventos físicos não está num futuro próximo, portanto aposta que os drive-ins e locais com espaços fechados, como karaokês, festas em quartos de hotéis e bares com salas fechadas para um número limitado de pessoas podem ganhar força nos próximos meses. Com a falta de algumas fontes de receita, o artista deve ocupar os espaços virtuais fazendo conteúdo patrocinado ou provendo conteúdo exclusivo para os fãs. “A indústria fonográfica passou a ter grandes receitas com shows quando aconteceu o colapso dos discos nos anos 2000. A pandemia impacta tanto o artista grande quanto o menor. O que a gente pode afirmar que vai haver uma pulverização da receita, vai se quebrar. Para o show acontecer de forma normal, vai demorar muito. Quando tudo reabrir, o artista já vai ter descoberto novas formas de receitas”, coloca Henrique.
“A pesquisa reforçou os pontos principais que já vínhamos vendo: trabalho remoto, multitarefa, reinventar a maneira de trabalhar em equipe e otimizar tudo o que a gente aprendeu”, diz Juliana Costantini, gerente de conteúdo musical do Multishow. O Multishow ainda está definindo como realizará o Prêmio Multishow, que acontece anualmente em outubro e não deve retomar as gravações do Música Boa enquanto não puder ter algum número de plateia.No entanto, de acordo com a executiva, o período destacou novas tendências de conteúdo como cocriação de formatos com os artistas, como feito com a Anitta para o programa Anitta Dentro da Casinha, programas híbridos, que misturam gravações com ao vivo e interação com a internet, e despertou um olhar mais transparente e autêntico do público com o conteúdo em si e com os artistas, fortificando uma relação mais honesta. “Gravamos na casa dos artistas, com seus objetos pessoais afetivos pendurados na parede e parte da sua vida em casa acontecendo ali. O Diogo Nogueira comemorou o aniversário em live e a Teresa Cristina chorou várias vezes. É uma outra relação, humanizamos o conteúdo, mas mantendo a mesma qualidade, curadoria e vanguarda do canal”, afirma.
Esse caminho, da autenticidade e da colaboração com a indústria da música deve perdurar depois da pandemia. “Estamos abertos para andar junto com os artista nas ressignificações. Sabemos que eles precisam estar na TV e estamos em contato com bastante marcas para fazermos mais entregas. Queremos que seja um modelo de negócio que ajuda para todos. A TV consegue entregar mídia e a marca sai do estádio e pode estar com o artista na TV. Acho que está todo mundo pensando fora da caixa mesmo e estamos apostando na flexibilidade e união para passar por esse momento”, conclui.
**Crédito da imagem no topo: Stas Knop/Pexels
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