“A jornada de música na Globo é sólida”, diz diretora
Joana Thimoteo, diretora do gênero música dos Estúdios Globo, revela como a companhia tem estruturado um pilar musical

Joana Thimoteo é diretora do gênero música dos Estúdios Globo (Crédito: Divulgação/Fábio Rocha)
O que o Carnaval, o São João, a Festa do Peão de Barretos, o The Town e o Lollapalooza têm em comum? A música. Mas, além disso, todos esses eventos são transmitidos pela Globo.
A música sempre esteve ligada aos negócios da companhia, indo desde as trilhas sonoras de suas novelas, até apresentações de artistas em programas semanais. No entanto, de uns anos para cá, a Globo vem redefinindo sua estratégia musical, consolidando todas as suas iniciativas em uma única área sob a direção de Joana Thimoteo.
Em entrevista ao Meio & mensagem, Joana, diretora do gênero música dos Estúdios Globo, revela de que forma essa movimentação chega para transformar a música em um pilar ainda mais robusto e perene da companhia, oferecendo ao público e às marcas parceiras uma experiência que vai além das transmissões.
Meio & Mensagem – A Globo se consolidou na transmissão de festivais e grandes eventos de música no Brasil, como o Lollapalooza, The Town, Rock in Rio e Festa do Peão de Barretos. Qual é o papel desse pilar musical dentro do negócio mais amplo da companhia?
Joana Timotheo – A música é uma parte fundamental do que fazemos, afinal de contas, fazemos audiovisual. Então, a música está numa camada muito importante e que nos traz a possibilidade de uma conexão maior com a audiência, com o consumidor, que é o nosso “cliente”. A música traz essa capacidade de conectar. Porque quando você para pra pensar em música e para para pensar em nós, em qualquer conteúdo nosso tem música. Tem música na novela, na trilha Sonora, tem música nos programas de auditório. Quando olhamos para a nossa capacidade de ecossistema das nossas marcas, temos também os festivais, os shows. Estamos ofertando para o nosso consumidor, de janeiro a janeiro, opções musicais, opções relacionadas à música em todo tipo de conteúdo que fazemos. O que fizemos recentemente que foi uma mudança que o mercado percebeu? Unificamos tudo isso em uma única área, porque tínhamos o Multishow cuidando das transmissões dos shows que eles faziam, tínhamos a TV Globo cuidando da parte dela, tínhamos a dramaturgia com seu olhar de trilha de novela, com músicas novas e lançamentos, tínhamos os programas de auditório com seus convidados. Juntamos tudo isso e criamos uma área que representa toda a música da Globo, que é essa área que me chamaram para coordenar e desenvolver. A ideia dessa área é criar uma cauda longa na conversa com a música, com os artistas, de alguma coisa constante e perene. Então, se eu converso com um artista sobre alguma coisa aqui, já consigo dizer para ele onde vou até o ano que vem. Quais são as propostas que temos? Que tipo de trabalho podemos trazer? Como fomentamos isso? E, com isso, viramos um parceiro mesmo do mercado musical. Estamos ali junto. Passamos a ser um player dessa conversa. Ampliamos a nossa capacidade. E estamos ampliando essa capacidade num lugar que somos muito proprietário, porque temos muito lugar para mostrar isso. E também estamos ampliando essa capacidade, porque somos capazes de criar. Temos os festivais, os shows, os programas, mas também estamos criando produtos proprietários que sejam musicais. Acabamos ficando com um leque, aproveitando que temos uma quantidade de marcas e de produtos para escoarmos todos os nossos desejos e vontades em relação à música, unificando isso, olhamos isso sob um olhar de ecossistema e vamos customizando onde vamos fazer o quê. Isso fica muito interessante para os nossos parceiros, sejam eles os artistas, as gravadoras, o mercado publicitário. Porque começa a caber marca de todos os tamanhos, de todos os jeitos, com todos os níveis de interatividade. Vamos ampliando isso. Esse é o caminho que temos feito.
M&M – Como essa nova área se divide?
Joana – Dentro da área de música, temos uma área que olha para o que chamamos de nosso portfólio de eventos. Dentro desse portfólio temos os grandes festivais, os shows que transmitimos, os eventos proprietários que criamos. Por exemplo, Carnaval, Lollapalooza, Novela em Sinfonia, que foi um produto que criamos, que trouxemos grandes artistas. Primeiro, fizemos uma sinfonia junto à Orquestra Sinfônica Brasileira das nossas trilhas de novela mais impactantes e depois convidamos artistas populares para cantarem essas sinfonias. No São João, para o Multishow transmitimos um show de Campina Grande e para a TV Globo fizemos um especial onde fomos a cinco São Joãos muito conhecidos e reconhecidos no Nordeste, e contou um pouco da história de cada um deles num grande especial. Obviamente, a Globo transmite e cobre São João há muitos e muitos anos, mas localmente. Pensamos em como transformar isso num olhar nacional. Agora temos o The Town, depois vamos para o Amazônia Live, um show que vai ser feito numa folha, no meio do rio, no Pará. Outra vertical que cuidamos é a produção musical, quando debatemos e criamos caminhos para construção de trilhas sonoras, quando trazemos músicas novas para os personagens, quando pensamos em novela, filme, séries e toda essa relação com as trilhas sonoras. Além disso, cuidamos dos convidados que vão aos nossos programas, Caldeirão, Domingão, Altas Horas, que é um produto muito musical, o próprio Bial, que entrevista artistas, os nossos matinais. Isso falando só da TV Globo, temos a TVZ, temos os outros programas do Multishow, do GNT. Temos uma capilaridade muito grande para colocarmos nos nossos conteúdos. Trabalhamos divididos nesses dois lados e, obviamente, esses lados estão ligados, porque se tenho uma oportunidade numa relação com artistas, transformo isso numa participação de um show, num festival. Vamos criando uma cauda mais longa dessa relação. Com bom planejamento, vamos abrindo espaço para tudo, obviamente, que represente os nossos telespectadores, que represente quem gosta de nos consumir. Sabemos que a música mais ouvida do Brasil, por exemplo, é o sertanejo. Temos amplificado a nossa relação com a música sertaneja, Temos o Viver Sertanejo, temos Barretos ao vivo na TV Globo, estamos nos aproximando cada vez mais dos artistas sertanejos. Tudo isso é uma estratégia pensada. Estamos fazendo uma próxima novela das sete, que o tema é o mundo sertanejo. Estamos olhando e caminhando nesse sentido de uma forma bem planejada, mas sempre estivemos junto, não é uma novidade, cobrimos Barretos há muito tempo, fizemos Amigos, e agora revivemos Amigas. Só que o tamanho do sertanejo no Brasil cresceu, então também precisamos crescer o olhar que colocamos nisso.
M&M – Em cada transmissão, a Globo defende que não se trata apenas de mostrar um show ao vivo, mas de criar uma experiência completa. Como transformar um evento em uma experiência única para o público e para as marcas?
Joana – Temos diversas fortalezas, mas uma nessa área que é importante é essa capacidade que temos de trabalhar um produto a partir do pré. Conseguimos no pré construir uma experiência, promover, se aproximar dos artistas, entender o que podemos fazer para convidar o público, o consumidor, o telespectador a consumir os conteúdos que formos fazer. No durante, temos diversificado o que fazemos. Quando olhamos paras as transmissões ou para os especiais na TV Globo, temos tentado trazer o que é o DNA da música na TV Globo, o que é importante fazermos, para que quem assiste à TV Globo entenda, temos esse mesmo olhar para o Multishow. O Multishow é o canal da música, no qual transmitimos longas horas, porque o consumidor do Multishow tem a certeza que quando ele ligar uma coisa boa, ele vai no Multishow que vamos estar transmitindo. Continuamos essa percepção. Temos as nossas transmissões que também estão no Globoplay, temos as nossas transmissões digitais. Estamos tentando ao máximo ir ampliando essa distribuição nas nossas plataformas. E depois temos o pós, que é: a partir de tudo que fizemos, como empacotamos e levamos isso para o público, para dar continuidade ao trabalho que estamos fazendo. Primeiro, que o nosso ecossistema é muito grande e possível disso, com o jornalismo e os programas matinais que trabalham conosco. Temos uma capacidade muito grande de transformar o produto em uma coisa maior. E na hora do produto, conseguimos diversificar e customizar para as plataformas em si. E, fora isso, temos ampliado o nosso olhar, pensando no Brasil e suas regiões, em como diversificamos o nosso elenco, ter dentro pessoas das mais diversas possíveis e que representem a música das formas mais diversas possíveis.
M&M – Do ponto de vista comercial, quais são as entregas mais estratégicas que atraem as marcas para os projetos musicais da Globo?
Joana – Em 2025 já passaram pelos conteúdos musicais 32 marcas. A percepção de que os conteúdos musicais podem andar junto com a música pelo público é muito interessante, porque as marcas quando embarcam naquele conteúdo o público acaba tendo o desejo de consumo daquilo. Então, acabamos ajudando e colaborando para essa relação da marca com o público. Por conta disso, cada vez, estamos mais perto das marcas. Os conteúdos musicais, cada vez, criam mais oportunidades, estão mais abertos a criar junto das marcas essas possibilidades. Neste sentido, temos atravessado uma evolução de inovação, de possibilidades, de linguagem, obviamente, tentando fazer com que isso seja de uma forma orgânica, priorizando o conteúdo, priorizando a música. Essa mistura tem cada vez dado mais certo. Os festivais são a prova disso, vamos criando e customizando desejos, vontades. Estamos sempre em busca de inovações tecnológicas, de inovações de linguagem, de inovações de uma forma geral, para que possamos agradar o público e agradar os nossos clientes, que são as marcas também. E tem funcionado, estamos bem felizes com os resultados que temos alcançado.
M&M – O que esperar dessa frente musical da Globo para os próximos anos dentro da estratégia geral da companhia?
Joana – Estamos num ano de estruturação. Caminhamos bastante, hoje, somos uma área bem mais estruturada. O nosso grande objetivo é que indústria musical, os players da música, os nossos parceiros comerciais e o nosso público, que é o nosso principal cliente, entendem que a jornada de música na Globo é sólida, constante, de longo prazo e que está ligada ao gosto popular brasileiro. Queremos ser um dos lugares representantes de música em geral e da música brasileira, prioritariamente. Quando falamos em visão de longo prazo, o nosso desejo é ser cada mais um ator dessa equação, mas relevante, que o Brasil entenda que na Globo ele vai encontrar os melhores conteúdos musicais, que na Globo ele vai ouvir os principais artistas do Brasil, que na Globo ele vai ter a chance de conhecer as músicas que estão fazendo mais sucesso. E, por outro lado, também queremos inovar e trazer quem vai ser esse futuro. Também queremos ser a casa e o espaço onde ajudamos no desenvolvimento desses artistas, buscamos novos talentos. Estrela da Casa é um exemplo disso, estamos buscando novos grandes nomes e estar do lado desses novos grandes nomes. É um olhar que estamos tentando colocar em todos os nossos conteúdos, já que a música está em tudo.