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Quarto de Despejo: filme atrai marcas e quer destacar brasilidade

Idealizado e protagonizado por Maria Gal, longa-metragem estreará em 2026 com a missão de levar à tela a obra e a história da escritora Carolina Maria de Jesus

i 12 de dezembro de 2025 - 13h41

Quarto de Despejo

Maria Gal, caracterizada como Carolina Maria de Jesus, em cena do filme (Crédito: Divulgação)

Entre a primeira vez que a produtora e atriz Maria Gal decidiu adquirir os direitos da obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, para adaptá-la ao universo audiovisual e o início da produção do filme que chegará às salas de cinema do País em 2026, passaram-se 11 anos.

“Todo esse processo está sendo uma escola”, confessa a artista em entrevista ao Meio & Mensagem. Além de idealizadora e produtora, Maria Gal também é a protagonista do longa-metragem Carolina: Quarto de Despejo, no qual dará interpretará a autora cuja vida e obra ainda são desconhecidas de muitos brasileiros.

A vontade de contar a história veio a partir da observação de Maria de como a obra – publicada em 1960 a partir das vivências da escritora Maria Carolina de Jesus, uma mulher preta, na favela do Canindé, em São Paulo – ainda é atual.

“Os temas que ela abordava ainda são extremamente atuais. Ela falava sobre etarismo, sobre empreendedorismo e batalhou diretamente para que seu livro fosse publicado, enviando os diários para editoras nacionais e internacionais. Além disso, ela tinha um lugar de brasilidade, de poder falar sobre esse universo tão comum a tanta gente, principalmente para as mulheres”, comenta a produtora e atriz.

As gravações do filme terminaram em novembro e tiveram direção de Jeferson De. O longa tem roteiro de Maíra Oliveira e produção de Clélia Bessa, Move Maria (produtora de Maria Gal), Raccord Produções e Buda Filmes. A coprodução é da Globo Filmes. Além de Maria Gal, também fazem parte do elenco Raphael Logam, Clayton Nascimento, Fabio Assunção, Caio Manhente e outros atores.

Marcas, história e inclusão

Apesar do longo período para conseguir transformar seu sonho em um projeto cinematográfico, que envolveu a captação de parceiros, a captação de verbas e a estrutura para o início da produção, de fato, Maria Gal celebra a adesão que a filmografia da obra de Maria Carolina de Jesus obteve em termos comerciais.

Até o momento, para as fases de produção e gravação, o filme já contou com parceria de dez marcas. São elas: Ambev, Itaú, Aegea, Suzano, Novelis, Cateno, Hapvida, Mattos Filho, Ford Foundation, Petrobras, além do apoio da própria Globo Filmes.

A produtora e protagonista da obra conta que a adesão das empresas ao projeto não foi algo imediato e envolveu um grande esforço, por parte dela e de toda a equipe, de captação de explanação sobre o tema e os objetivos da obra. Um ponto, no entanto, foi importante para que as empresas enxergarem a importância do investimento na temática social e racial: a ampliação do debate sobre inclusão.

“Ao longo desses 11 anos em que adquirimos os direitos de filmagem da obra até sua realização, agora, o Brasil passou por diferentes cenários e questões. Dentre elas, houve um acontecimento importante, que foi a reflexão sobre a morte de George Floyd, nos Estados Unidos, em 2020, que colocou a discussão sobre racismo e inclusão em um patamar diferente. Acredito que essa mudança de olhar se refletiu também na forma como as empresas e a sociedade enxergam essas histórias de pessoas negras”, comenta Maria.

A produtora conta que participou, pessoalmente, das conversas sobre captação de apoio e patrocínio junto às marcas e que sempre iniciava os encontros com um questionamento. “Perguntava aos executivos se eles já tinham ouvido falar ou já tinham lido alguma obra de Clarice Lispector. Todos respondiam que sim. Em seguida, fazia a mesma pergunta sobre Carolina Maria de Jesus, e quase ninguém a conhecia. São duas escritoras praticamente contemporâneas, que tiveram uma visibilidade totalmente diferente ao longo da história”, exemplifica.

Quarto de Despejo

(Crédito: Divulgação)

Carnaval e marketing de lançamento

Com as gravações encerradas, o filme agora entra nas etapas de edição e pós-produção, que deve durar meses. Para essas novas fases, bem como para o lançamento, Maria Gal conta que a equipe segue prospectando parcerias e apoios de marcas.

Segundo ela, mais recursos são fundamentais para que as produtoras concretizem o projeto de transformar o filme em uma iniciativa de impact entertainment, como são chamadas as iniciativas que, além de entreter, levam alguma mensagem educativa – nesse caso, sobre combate ao racismo, inclusão, desigualdade social e maior conhecimento a respeito da história nacional. “Queremos distribuir o filme para o número maior de salas possível”, conta.

Justamente por conta de ainda depender de parcerias para essas próximas etapas, Maria Gal prefere não dar uma data para o lançamento do filme. Uma coincidência, contudo, poderá fazer com que o buzz em torno da escritora brasileira aumente em 2026 e, com isso, ajude a divulgação do filme: Carolina Maria de Jesus será o enredo da Unidas da Tijuca, escola do Grupo Especial do Rio de Janeiro, no Carnaval de 2026.

Maria Gal também estará na Sapucaí, interpretando a autora, assim como no filme. “Essa foi uma feliz coincidência que acredito que ajudará a colocar o nome da Maria Carolina ainda em maior destaque no próximo ano e aguçar a curiosidade das pessoas em torno do filme”, conta.

O processo de filmagem e produção do filme ainda deve render um documentário, que está sendo produzido pela Move Maria.

Por enquanto, as produtoras envolvidas vêm trabalhando o marketing do filme por meio de postagens nas redes sociais. Mais do que mostrar os bastidores, o objetivo principal, até agora, foi destacar a escrita, as ideias e a obra de Carolina Maria de Jesus. Veja: