Os desafios da valorização de influenciadores negros
Além de serem menos recrutados por marcas do que influenciadores brancos, esses criadores de conteúdo ainda enfrentam diferenças de remuneração
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Carolina Huertas
21 de novembro de 2022 - 16h45
O Brasil possui mais de 500 mil influenciadores digitais com, no mínimo, 10 mil seguidores cada, apontam dados da Nielsen. A profissão vem em uma crescente e um dos atrativos é a remuneração. Segundo a SamyRoad, os micro influenciadores (pessoas que têm de 10 a 20 mil seguidores) chegam a ter um faturamento de até R$ 15 mil. Enquanto os mega influencers (mais de 1 milhão de seguidores) tem o seu faturamento estimado em R$ 500 mil, por mês.
Entretanto, apesar do País ter 56% de sua população auto declarada negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), influencers negros ganham menos e são menos contratados para campanhas, revela estudo realizado pela realizado pela Squid, Black Influence, Sharp, Site Mundo Negro e YouPix.
A questão não é particular do Brasil. Um relatório da Bloomberg, divulgado pelo site norte-americano BusinessWeek, mostra que influencers negros recebem uma remuneração menor. Em alguns casos, até mesmo tendo um numero maior de seguidores, e em outros, recebem apenas produtos como “forma de pagamento”.
“Nós estamos vendo uma estrutura social errada que cascateia para todas as áreas, não é um problema só do marketing digital, é um reflexo da estrutura social não inclusiva e pouco diversa” , comenta Nohoa Arcanjo, chief growth officer da Creators LLC.
Segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, trabalhadores pretos ganham 40,2% menos do que brancos por hora trabalhada no Brasil. A diferença salarial é a mesma há 10 anos.
Nohoa comenta porém, que as empresas estão cada vez mais – mesmo que lentamente – se atentando à questão, principalmente por cobrança do público. A profissional aponta também que é responsabilidade das agências estar constantemente alertando seus clientes sobre a inclusão de diversidade nos castings. Nesse caminho, ela afirma que a tecnologia pode ser uma aliada.
“No nosso próprio formulário de briefing da plataforma o cliente responde algumas perguntas e ajudamos ele a chegar em uma estratégia de marketing de influência. Ele diz o objetivo e tamanho dos creators que imagina. E temos um item onde perguntamos sobre os tipos de diversidade, temos opções drop down, é só escolher, não precisa nem pensar muito, facilitamos ao máximo”, explica.
A executiva afirma que, se até o momento o cliente não estava pensando em questões de diversidade, a partir desse momento ele começa a refletir sobre. Além disso, Nohoa conta que, para garantir a supervisão da questão, coloca metas de performance para o time para que ele supervisione as sugestões do algoritmo, tendo certeza que todos os mapeamento de squads que entregam tenham 50% de perfil diversos. “Isso é meta de performance, vale promoção e bônus”, conta.
Ricardo Silvestre, CEO e fundador da Black Influence, reforça que as pesquisas e provocações das agências sobre a inclusão são essenciais para pressionar o mercado. Porém, segundo ele, ainda é preciso avançar. O executivo aponta que é possível ver uma evolução, mas ainda a passos mais lentos, pois muita marca não entende ainda seu papel na influência e na valorização. “É um reflexo do que somos como sociedade. E no nosso caso, é um pouco mais difícil porque envolve a comunicação e o poder que ela tem de criar o imaginário na mente das pessoas” reflete.
O profissional comenta que ainda falta muita abertura das marcas, além da necessidade de enxergar o influenciador negro para além das temáticas raciais. Apesar de existirem criadores de conteúdos negros em diversos segmentos, ele aponta que os contratantes ainda têm essa visão limitada.
“O maior desafio que encontramos é justamente encontrar essas oportunidades de entradas nas marcas. Existe até uma certa resistência em ter uma empresa preta ou influenciadores pretos envolvidos, porque foge do convencional. Estamos em um mercado centenário que sempre teve agências com perfis muito parecidos. Como temos uma proposta diferente que muda a vida das pessoas, existe este lugar de desconforto”, explica.
Nohoa comenta que, para além do lado das marcas e das agências, a questão da remuneração está envolvida com uma fragilidade da população negra. A executiva explica que a população negra foi desvalorizada profissionalmente por muito tempo e que, por isso, muitas vezes ainda tem medo de se posicionar e cobrar o que acredita, por ter medo de ser preterido e perder um pequeno acesso que começou a conquistar.
“Um trabalho de autoestima precisa ser feito de maneira ampla, para que as pessoas pretas se sintam mais seguras, pertencidas e merecedoras”, reflete.
Para trabalhar a questão, a Preta Hub, em parceria com a XP Inc. realizou no começo de novembro o evento Preta Poupa Fest. Para desmistificar crenças sobre dinheiro que atravessam a história da comunidade, diferentes profissionais abordaram os desafios dos empreendedores negros vinculados a questões psicológicas com o dinheiro. Adriana Barbosa, CEO da PretaHub, afirma que educação, saúde e gestão financeira são temas muito caros para a comunidade negra.
A partir do momento em que a problemática começou a ser pautada, as plataformas também entraram no jogo para tentar mudar o cenário. Em 2020, o YouTube lançou o Fundo Vozes Negras para destacar e incentivar o crescimento de criadores e músicos negros na plataforma.
Sendo assim, os criadores selecionados para o ciclo anual ação têm acesso a suporte dedicado de um gerente de parceiros do YouTube e a capital semente investido no desenvolvimento no canal. Além de acesso à sessões exclusivas focadas em produção, envolvimento da comunidade e bem-estar e treinamentos personalizados, workshops e oportunidades de networking.
No mesmo sentido, em setembro desse ano, o Google em parceria com a Creators LLC, lançou o “Black Creator Program”. Para incentivar a produção de conteúdo feitos por pessoas negras e promover a diversidade, a ação capacitará 100 criadores pretos no início de carreira. Os selecionados receberão mentoria profissional para criar o próprio site e gerenciar sua presença digital.
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