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“Os eSports são o grafite e o street dance de hoje”

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“Os eSports são o grafite e o street dance de hoje”

José Junior, fundador do AfroReggae, fala sobre o AfroGames, projeto realizado em sociedade com Ricardo Chantilly que conta com patrocínio da Oi


26 de fevereiro de 2019 - 10h07

Levar o game profissional às comunidades e capacitar jovens para que atuem no cenário de competição de jogos eletrônicos. Esse é o principal objetivo do projeto AfroGames, fruto da parceria entre o AfroReggae e Ricardo Chantilly, empresário responsável pelas carreiras de nomes como Jota Quest, O Rappa, Onze:20 e Gaby Amarantos. A iniciativa passa a contar com o patrocínio da Oi e o apoio da Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro.

Um centro de treinamento está em construção em Vigário Geral, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e contará com cem vagas para capacitar jovens da comunidade com aulas de League of Legends, programação de computadores, produção de trilha sonora focada em games e aulas de inglês.

“Nosso objetivo é democratizar o e-Sports no Brasil. Pela primeira vez no mundo, crianças de áreas conflagradas terão a oportunidade de treinar num centro técnico de ponta”, diz Chantilly. Ao Meio & Mensagem, José Junior, fundador do AfroReggae, ressalta que os eSports possuem um poder de conexão e transformação assim como vários outros movimentos culturais de outras épocas.

Meio & Mensagem – Qual o papel dos games e, especificamente dos eSports, como ferramenta de transformação social?
José Junior – Principalmente de dialogar e conectar. É uma ferramenta que você pode utilizar da mesma forma que nos anos 1990, quando boa parte dos projetos sociais usaram a percussão e, no inicio dos anos 2000, eram a batida eletrônica, DJ, grafite, street dance… E depois vieram as lan houses com a informática e os centros de formação e qualificação. E é também o que está acontecendo com o audiovisual. Todos estes itens foram ferramentas utilizadas por projetos sociais para poder de alguma maneira formar e qualificar os jovens das favelas. Os eSports e games são uma nova ferramenta de impacto, transformação e monetização, pois é muito importante quando você consegue fazer com que o dinheiro também circule nessas comunidades periféricas — não importa se são favelas, vielas, aglomerados. Ou seja, por meio do eSports, nos acreditamos que é possível de alguma forma criar uma nova economia.

Quando falamos em profissionalização, os eSports possuem várias barreiras de entrada. Equipamentos são um deles, tornando a modalidade cara. Qual o desafio de romper essa bolha?
Nosso objetivo com o centro e com os equipamentos financiados pela Oi é que este cara da favela possa competir de igual para igual com o jovem da classe média e alta, a partir do momento em que ele também possa ter não só um suporte não só tecnológico, de infraestrutura, mas também de formação e qualificação

Nos últimos anos, os eSports se tornaram o centro das atenções em termos de oportunidade de negócios. Isso ajudou, de alguma forma, a dar visibilidade ao projeto?
Sem dúvida, por este novo momento em que o eSports está tendo no mundo todo, já passando a indústria do cinema, da música… E nosso público não tem acesso a esse tipo de ferramenta esportiva, de entretenimento… Ferramenta até pedagógica, porque não? Que é o jovem na sua grande maioria negro e da favela. Eu acho que essa junção foi muito bem vista pela Oi, por isso que ela fez questão, junto à Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, de ser o primeiro grande apoiador do projeto. Basta a gente ver o que aconteceu na noite da premiação do Oscar, que teve o maior numero de negros premiados, foi o Oscar da diversidade… Ou vendo o próprio Roma, que é um produto Netflix, do Cuarón que é um diretor mexicano. Teve essa mistura, mulheres sendo premiadas como diretora, uma mulher negra ganhando como atriz coadjuvante, e o Pantera Negra se destacando. Ou seja, todo este referencial. Até pouco tempo atrás, essa indústria não via o negro como um público protagonista. Aí o Spike Lee ganha, o Pantera Negra é um dos mais rentáveis da Marvel. Tem uma mistura muito grande e com o eSports não poderia ser diferente.

Qual é a importância de ter na cena gamer pessoas de outros contextos sociais, perspectivas? Os eSports também podem viver um processo de deselitização?
A gente brinca muito que vamos criar o “Jamaica Abaixo de Zero” dos games… No começo nosso time vai perder para todo mundo, mas depois ele seguirá a mesma saga de outras modalidades esportivas que foram criadas por brancos, como futebol, basquete, baseball, box, atletismo… Nas quais os negros, quando aportam nessas modalidades, acabaram reinventando. Acredito que com eSports corre esse risco também e acho que isso será muito bom. Ver atletas negros, das favelas, atletas gays, trans, portadores de necessidades especiais… Isso é muito do viés do AfroGames. Ele não é só um projeto social e de inclusão. É óbvio que a gente quer disputar de igual para igual, profissionalmente, mas também terá como bandeira trazer mais mulheres, mais gays, trazer todos os segmentos hoje considerados minoria dentro do universo do eSports.

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