Para o varejo brasileiro, questão é a produtividade, diz executivo da Capgemini
Mauricio Andrade de Paula, da Capgemini Brasil, aponta a busca por mais produtividade e a revisão do modelo de negócios como prioridades para varejistas
Mauricio Andrade de Paula, da Capgemini Brasil, aponta a busca por mais produtividade e a revisão do modelo de negócios como prioridades para varejistas
Isabella Lessa
18 de janeiro de 2023 - 14h47
A situação financeira é a principal preocupação de seis em dez consumidores globalmente, aponta a Capgemini. Segundo o estudo realizado pela empresa com quase 12 mil consumidores de diversos países, intitulado “What Matters to Today’s Consumer”, 73% dos participantes estão comprando menos por impulso, enquanto 65% estão dando preferência a produtos “private-label” (marcas proprietárias de varejistas, como Target, Pão de Açúcar ou Carrefour); e 78% afirmam que serão mais leais às empresas que os ajudarem a enfrentar este período difícil. E a expectativa desses consumidores é de que auxílio venha em forma de descontos.
A alta no custo de vida dos consumidores também provocou uma queda no índice daqueles dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. Na edição passada da pesquisa, 57% pagariam mais por um item sustentável, mas neste ano, essa taxa caiu para 41%.
Frequentador da NRF há anos, Mauricio Andrade de Paula, diretor de soluções para bens de consumo e varejo da Capgemini Brasil, comenta alguns dos principais temas do estudo e o que significam para o mercado brasileiro, além de apontar tendências que acompanhou no evento este ano:
O mundo está ficando igual ao Brasil: problemas e dificuldades macro e microeconômicos estão afetando muitos países. Existia uma questão relacionada a abundância nos EUA, em sortimento, disponibilidade, experiência. Brasil e EUA eram planetas distantes, mas hoje as gôndolas por aqui estão, o prazo de entrega é extenso mesmo em Nova York. Na pesquisa, consumidores trazem preocupação em relação a preço, disponibilidade, algo que antes não existia. Os varejistas precisam endereçar esses pontos, dizendo que têm produto de marca própria tão bom quanto o premium, que irá ajudar o consumidor nesse momento de crise. Há um desenvolvimento grande de criar marcas exclusivas, preocupação de renegociar contratos e condições entre indústria e varejistas, para ter baixa de preço e ajudar o consumidor. Viemos de ano conturbado no Brasil e no mundo. Mas a dinâmica do nosso mercado é diferente: nos EUA, muita gente ganha por hora e, portanto, se preocupa com a semana que vem, o mês que vem. Mas os brasileiros ganham por mês, se perdem o emprego têm multas rescisórias, então há oxigênio para sobreviver por um tempo. As gerações X e Y estão mais preocupadas com a situação financeira, porque têm de manter casa e família, muitas vezes. A Geração Z está preocupada, mas, ainda assim, esse grupo ainda tem a renda concentrada em si mesmo.
Quem está no vermelho não discute verde. Seja empresa ou família, se gasta mais do que ganha, o restante não interessa. Esse tipo de discussão é legal quando vai tudo bem. Quando a pessoa precisa comprar 5kg de arroz para alimentar a família, não importa se esse arroz foi produzido em área de preservação ambiental, quer saber do arroz mais barato. Varejistas têm de suprir as necessidades básicas, não estamos falando de topo da pirâmide, voltamos para a base, embora o contexto seja outro. Fazer o básico bem feito hoje é diferente de dez anos atrás. Se a empresa de varejo prevê bem a demanda e distribui os produtos, o custo de operação é menor, pois não sobra e não falta em lugar nenhum. Posso vender mais barato sem impactar minha margem, então continuo ganhando o mesmo dinheiro e repasso minha excelência operacional para o consumidor. Quando tudo está dando errado, as comidas estragam, o transporte roda mais e sai mais caro, então a improdutividade e falta de uso eficiente de dados impacta o consumidor. Por isso que ter esse suporte tecnológico de melhores práticas é fundamental para ajudar o consumidor de verdade.
A grande temática do Brasil hoje é produtividade em todos os aspectos. Em comparação com outros países, o nosso é pouco produtivo em termos de pessoas, sistemas, informação. O foco precisa estar em produtividade, que gera excelência operacional, que por sua vez significa custo menor e, por fim, preços menores. Fica mais fácil de ganhar dinheiro e quando estiver numa situação ruim, entrega o limite dá margem, mas sem deixar de entregar.
Este ano está interessante, acompanhoo evento há décadas e tem movimentos pendulares. Há momentos em que há viagem no reino da maionese, tecnologias novas sem muita aplicação e momentos em que voltamos ao back to basics. Estamos neste segundo. Vejo todo mundo falando sobre como, de fato, temas dos quais vínhamos falando há anos, ajudam a melhorar o negócio no curtíssimo prazo. A preocupação desta NRF é essa. Claro que essa feira fala muito sobre os problemas dos EUA. Eles estão com muitos desafios de mão de obra, empresas de alimentos estão preocupadas em como montar o lanche roboticamente porque ninguém quer fazer mais esses trabalhos. No Brasil ainda temos desemprego alto. A NRF está trazendo pragmatismo, questões de logística e sustentabilidade, afinal há ações sustentáveis que ajudam a diminiur o custo.
Não é é uma questão de fisico ou digital, mas de confiança. Uma loja pode ser um bom ponto de resolução de conflitos para o consumidor que tem problema no online. Como sempre o mundo cria novas coisas e equilibra tudo o que é importante. O que está se movendo o tempo todo é o modelo de negócios. Com o consumidor mudando o tempo todo, o varejista precisa entender o quanto isso muda o modelo dele, o quanto precisa ser mais físico, mais digital e estratégico. Entender o gatilho dessas mudanças é importante.
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