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A era dos dados: o iceberg ainda não está todo revelado

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Opinião

A era dos dados: o iceberg ainda não está todo revelado

A National Retail Federation, nos Estados Unidos, prova que todos os mercados serão revolucionados pela tecnologia de dados


17 de janeiro de 2017 - 17h32

Foto: Reprodução

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E foi com a gigantesca sala do North Hall completamente lotada para receber o lendário Richard Branson, fundador da tão admirada companhia aérea Virgin, que teve início o segundo dia da NRF, em Nova York. O executivo britânico conquistou a todos com o seu carisma e alguns detalhes da sua ousada história. Como se fosse uma coisa comum, conta que foi da saudade de uma namorada que estava em outra cidade que tudo nasceu. Não havia vôos disponíveis naquela noite e ele decidiu fretar um avião particular e angariou outros passageiros que estavam no aeroporto, oferecendo lugares em sua pequena aeronave por alguns dólares. No dia seguinte, deu início à pesquisa de como começar a sua própria companhia aérea.

A história cheia de peripécias hoje se concentra em dois grandes projetos: a Virgin Galactic, que tem a “pequena” ambição de ser a primeira companhia aérea do mundo a oferecer um vôo comercial para o espaço (e que conta com uma equipe de mais de 600 engenheiros que trabalham arduamente para que isso se concretize) e sua iniciativa social Time B, que promove ações sem fins lucrativos. Ambos possuem sinergia no propósito. Sua ideia é mudar o mundo em que vivemos, seja indo ao espaço para buscar inspiração ou por aqui ao promover melhorias.

Toda essa introdução para entender que não há limites e barreiras para inovar. O CEO da Intel, Brian Krzanich, não apenas navegou pelas definições das maiores tendências para os próximos anos do varejo, como surpreendeu os presentes com apresentações ao vivo e cases já implementados, ou tecnologias já disponíveis para serem vendidas aos varejistas dos Estados Unidos e outros cantos do mundo. O executivo reforçou o posicionamento e os planos futuros da marca, que concentra-se no que chama de “ciclo virtuoso”, que é a relação da internet das coisas e da revolução dos dados suportada por uma grande nuvem analítica. É essa conexão que provoca um ciclo capaz de gerar um poder absurdo ao permitir que tudo esteja conectado, como as aplicações do carro e do relógio inteligente e por aí vai.

Estar presente em um evento como esse torna-se interessante ao perceber que todos os temas apresentados, por mais distintos que sejam, se relacionam diretamente e ditam as previsões desse futuro tecnológico. A fala de Krzanich faz crer que todos os mercados serão revolucionados por esse ciclo virtuoso, o que faz o racional do varejo se dividir em três grandes blocos. O primeiro é a “revolução da experiência da loja”, para criar experiências memoráveis, dando mais controle ao cliente e exigindo muito mais treinamento do vendedor. Nesse sentido, a realidade virtual é a grande promessa para os próximos anos. Imagine uma loja virtual de móveis, onde se consegue aplicar em sua própria casa os diferentes modelos de sofá, de eletrodomésticos, brincando com cores e medidas, com os filhos correndo pela sala e podendo, ali mesmo, arrastar o móvel para a cesta de compras. Ou, ao assistir a final do jogo de basquete da NBA, não somente poder interagir com o jogo através da realidade virtual, mas ver o jogo através dos olhos do seu jogador favorito.

Estar presente em um evento como esse torna-se interessante ao perceber que todos os temas apresentados, por mais distintos que sejam, se relacionam diretamente e ditam as previsões desse futuro tecnológico

E não é um futuro distante, não! No último 11/11, data importante do varejo chinês, com dimensões parecidas com a já famosa Black Friday dos EUA, o gigante Alibaba envolveu nada mais nada menos do que oito milhões de consumidores que puderam, por meio de um “card box” acoplado em seus próprios smartphones, acessar corredores das lojas virtuais para realizar suas compras. Como se estivessem literalmente dentro das lojas, mas sentados confortavelmente em suas casas ou nos desktops dos seus escritórios.

A realidade virtual traz ao ambiente online a “serendipty” da experiência da loja física. E há um ponto a ressaltar: essa é apenas a ponta do iceberg. Segundo os especialistas ouvidos, o próximo passo é a união da realidade virtual com a capacidade analítica e inteligência artificial. Para exemplificar esse tema, o CEO da Intel escolheu uma demonstração de um trabalho para a revisão do “planograma ideal” das gôndolas do varejo. Ao se colocar em frente à gôndola virtual de sua farmácia, e através da apresentação dos dados de ranking de vendas, zonas de calor e caminho do shopper, virtualmente vai montando o planograma ideal. A análise em tempo real dos dados otimiza os enormes investimentos atuais em auditorias de gôndola, o desperdício com as rupturas e daí em diante!

Tally, o robô

Para encantar a plateia, subiu ao palco o simpático robô Tally, já em testes com alguns varejistas no último ano. Tally é conectado com sensores espalhados por toda a loja, tem autonomia de 12 horas e se recarrega sozinho. Não só faz o atendimento do consumidor como gerencia de forma inteligente todos os dados da operação da loja. É fantástico pensar no salto de produtividade possível ao usar uma tecnologia como essa. E, antes que se pense que os vendedores de carne e osso estão com os dias contados, a reflexão é contrária! Sim, ele irá mudar de perfil, mas será muito mais encantador, pois poderá contar com alta tecnologia de apoio para que a loja seja mais preditiva aos desejos dos seus clientes, diminuindo a fricção da transação e aumentando o prazer das experiências de comprar.

Em terceiro lugar, dividindo o palco com a Levi´s, foi apresentado o projeto Responsive Retail, que significa um conjunto de sensores na loja e etiquetas inteligentes nas mercadorias, com alto grau de análise de dados e integração! Quem nunca se frustrou ao ver um sapato lindo na vitrine, pedir pelo seu número e ouvir do vendedor que o produto consta no estoque, mas que não consegue localizá-lo? A Levi´s já tem essa tecnologia implantada em lojas ao redor do mundo e prometeu aos profissionais que assistiam a apresentação que, em breve, abrirá a análise de resultados comparando lojas com e sem essa tecnologia. Vale acompanhar esse case nos próximos meses.

Ao longo do segundo dia, foram inúmeros os cases apresentados usando e abusando desse “tudo junto e misturado” de realidade virtual e inteligência artificial, mostrando que, além da gigante nuvem de dados, as máquinas estão indo para o caminho da interpretação e predição do que o consumidor quer por meio do conceito “machine learnings”. Alguns exemplos já rodam por aí. O personal robot Alexa, da Amazon, que fez grande barulho quando foi lançado pela maneira que interage com as pessoas e com as coisas, já está disponível na China e é uma das maneiras de ilustrar toda essa revolução. Ou um caminhão de pizza nos Estados Unidos que é todo automatizado. Imagine um delivery em que você faz o pedido por um app e fornece seus dados. Enquanto ele está indo para a sua casa, calcula o tempo de preparo e durante o caminho prepara o seu pedido para que a pizza chegue fresquinha e crocante.

Ao longo do segundo dia, foram inúmeros os cases apresentados usando e abusando desse “tudo junto e misturado” de realidade virtual e inteligência artificial, mostrando que, além da gigante nuvem de dados, as máquinas estão indo para o caminho da interpretação e predição do que o consumidor quer por meio do conceito “machine learnings”

E não para por aí. Em Shanghai, o robot Baidu pode fazer os seus pedidos nas redes de fast food, em Londres já é possível produzir você mesmo em três horas uma blusa de lã com as tramas e cores do jeito que quiser e na Rússia a loja St Petersburg abre as portas da sua nova loja 100% robotizada!

O projeto piloto da Amazon GO, em que o consumidor entra e sai da loja com celular no bolso e faz sozinho e automaticamente toda a transação da compra, ou o de auto checkout da Apple por meio do ApplePay e até mesmo o da Uber com carro automatizado, já disponível em algumas cidades dos EUA, testando as funções e a receptividade dos consumidores, são pinceladas que fazem parte do dia a dia e que provoca e faz imaginar se estamos preparados.

Até mesmo o serviço de atendimento ao cliente e de vendas virtuais que conhecemos parece estar com os dias contados. Os bots, sistemas inteligentes de conversa via chat, parecem estar chegando com tudo e estão nesse hall das máquinas preditivas. São inteligentes o suficiente para atender a um consumidor sem a necessidade de um suporte humano 100% do tempo. O Facebook, por exemplo, oferece o recurso para que algumas marcas usem no Messenger em suas fanpages. E um dado que comprova a tendência é que 37% dos americanos se mostram dispostos a fazer compras via chatbots.

É ingênuo dizer que teremos esse novo varejo disponível e pulverizado no Brasil em um universo pequeno de tempo. Mas, a velocidade com que as evoluções tecnológicas caminham e a disponibilidade e implantações concretas ao redor do mundo, aliadas a uma geração de consumidores 100% conectada, faz ter a certeza de que não dá para ficar parado no tempo. Talvez não seja possível responder a pergunta de onde estaremos nos próximos dez ou 20 anos, já que nos próximos cinco anos as mudanças deverão ser maiores do que as ocorreram nos últimos cinquenta anos. Mas é factível prever que apenas com processos muito bem definidos de inteligência será possível chegar até lá para apreciar todas as transformações que estão por vir.

 

 

 

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