A LGPD, os CMOs e o futuro do marketing digital
Negócios centrados nos usuários devem respeitar seus usuários, inclusive sua privacidade
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24 de novembro de 2020 - 14h08
Em todo o mundo, há uma expectativa crescente de que todos se beneficiem da tecnologia digital sem perder o controle de suas informações pessoais. Esse sentimento ganhou força desde, ao menos, 2018, quando da eclosão do escândalo que tornou a empresa de análise de dados Cambridge Analytica símbolo do lado sombrio das redes sociais.
Apesar disso, nunca estivemos tão conectados. E a pandemia e o isolamento social fizeram aumentar ainda mais o acesso a internet e as redes sociais ao redor do planeta. É dentro desse contexto que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou finalmente em vigência no Brasil, no fim de setembro.
É uma lei tão importante quanto o Código de Defesa do Consumidor foi no início dos anos 1990. De lá para cá, o brasileiro entendeu que, como cliente, ele possui direitos. O mesmo acontece agora com a LGPD que levou a privacidade para as reuniões de conselhos, primeiras páginas dos jornais e sites e fez todos repensarem sobre como lidam com dados digitais.
Inspirada na GDPR europeia, a LGPD diz, em poucas palavras, que todos os dados coletados sobre nós, por qualquer site, aplicativo, rede social, plataforma etc. é nosso. Eles pertencem a cada pessoa – a cada um de nós – e não mais as empresas.
É uma garantia legal de acesso e transparência sobre o uso de nossos dados. O cidadão poderá exigir de empresas públicas e privadas informações claras sobre quais dados ela coletou, como os armazena e para quais finalidades os usa. Poderá pedir cópia dos mesmos, solicitar que sejam eliminados ou até transferidos.
Mas o que muda na prática?
Para começar, já que estamos em ano de eleição, a distribuição indiscriminada de mensagens por WhatsApp agora pode configurar não só infração eleitoral, mas também infração à própria LGPD. Se um partido possui o celular de alguém isso é um dado pessoal. Para usá-lo mandando uma mensagem, por exemplo, será necessário que haja o consentimento livre, prévio e informado. Esse consentimento não pode ser implícito. É necessário que cada pessoa efetivamente manifeste sua vontade (e haja comprovação disso) para que o dado seja usado.
Não é exagero dizer que a LGPD vai mudar o jogo para os profissionais de marketing – não apenas político. Nos últimos cinco anos, os CMOs se concentraram em trazer mais e mais tecnologia para o marketing. Agora, organizações com o hábito de acumular dados antes mesmo de saber o que farão com eles, precisarão passar por uma mudança de mindset.
Eles também precisarão repensar seus modelos de atribuição sem rastrear pixels ou como direcionar seu público sem coletar dados de listening, DMPs, provedores de ISP e bancos de dados de CRM quando não tiverem o consentimento de um usuário ou interesse legítimo (por exemplo, quando você precisa adquirir novos contatos para criar novos negócios).
Oficialmente, no entanto, as punições por desobediência à LGPD só serão aplicadas a partir de agosto de 2021. Ainda assim, os profissionais da área devem começar desde já a buscar um parceiro de marketing seguro, que possa fornecer os insights e o desempenho de que precisam para atingir seus objetivos, mas sem comprometer a privacidade do consumidor. Parceiros que sigam não apenas as regras da LGPD, mas também as diretrizes e limitações de cada rede e suas APIs. O foco em um ótimo conteúdo será ainda mais crítico para atrair e reter públicos em vários pontos de contato digitais.
A boa notícia é que você não precisa mais criar conteúdo para atingir o indivíduo, você precisa inspirar seus criadores de conteúdo sobre a persona de marketing específica que você deseja alcançar e, uma vez que eles estejam criando esse conteúdo, entregue-o às redes sociais e elas cuidarão da última milha de personalização.
Bem-vindo à nova era do marketing digital seguro. Uma realidade onde os profissionais de marketing precisarão repensar como criar conteúdo e redirecionar seu público. Assim, a inovação assume a liderança para fornecer uma realidade de negócios segura, onde experiências personalizadas e novos negócios ainda podem ser criados sem comprometer a privacidade.
Afinal, negócios centrados nos usuários devem respeitar seus usuários, inclusive a privacidade deles.
*Crédito da foto no topo: iStock
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