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Nova edição da pesquisa Melhores da Produção Publicitária mostra o efeito positivo de movimentos como o Free The Work, que luta por mais espaço para as mulheres no mercado de produção publicitária


19 de setembro de 2023 - 14h00

Sem ações afirmativas, os modelos e práticas vigentes não mudam. Por outro lado, quando há organização, mobilização e pressão, a transformação pode ser acelerada. Um exemplo disso é o que acontece com as diretoras de filmes publicitários. Nos últimos anos, na esteira dos movimentos pela equidade na indústria de comunicação, que passam pela equiparação salarial entre mulheres e homes que ocupam cargos similares e pela maior presença feminina nas áreas de criação das agências de publicidade, abriu-se também mais espaços para as diretoras de filmes.

Nessa caminhada, o atalho mais expressivo dos últimos tempos é o movimento global Free The Work, nascido nos Estados Unidos e importado para o Brasil em 2017 pela Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro). O objetivo é pressionar o mercado por mais visibilidade para mulheres diretoras, roteiristas, diretoras de fotografia, editoras e outras funções do audiovisual publicitário. Para isso, foi preciso mobilização, criação de uma plataforma de cadastro de profissionais, organização de encontros e realização de pesquisas periódicas sobre a presença feminina no segmento e, especialmente, batalhar para que as listas de orçamentos de diretores feitas por agências e produtoras para determinado projeto ou campanha tivessem ao menos uma mulher entre as indicadas. Desde que firmou parceria com a Aliança Sem Estereótipos da ONU Mulheres, no ano passado, a Apro estabeleceu outras metas, como a inclusão de uma porcentagem progressiva na participação de mulheres nas equipes técnicas, sendo 20% no primeiro ano, 30% no segundo e 50% do total no quarto ano.

Além desse, outros importantes passos foram dados nos últimos anos para aumentar a presença feminina atrás das câmeras. Um deles foi a inclusão, em 2020, da categoria de mulheres diretoras entre as premiadas pelo Anuário do Clube de Criação.

Um efeito dessas mobilizações pode ser sentido na pesquisa Melhores da Produção Publicitária, que Meio & Mensagem publica nesta semana, pelo quarto ano. O novo ranking dos novos talentos mais promissores na direção de publicidade é quase que totalmente dominado por mulheres. As diretoras, trabalhando solo ou em duplas, ocupam nove das 11 vagas da lista consolidada a partir de indicações de 100 profissionais de criação e produção das principais agências atuantes no País. Embora a liderança seja do trio masculino Youth, a presença feminina nunca foi tão forte. Em 2019, elas ocuparam apenas três das dez posições; em 2016, apareceram em duas das 11 vagas; e em 2011, só Mariana Youssef foi listada entre os cinco talentos mais promissores.

No ranking de melhores da direção de filmes publicitários, que traz Vellas novamente na liderança, repetindo o primeiro lugar da edição anterior, a presença feminina também bate recorde, com as duplas We are Magnolias e Irmãs Fridman — ambas listadas entre os novos talentos da edição de 2019. Naquela ocasião, não houve nenhuma mulher no ranking de melhores da direção, assim como na estreia da pesquisa, em 2011. A única diretora já mencionada nessa lista foi, novamente, Mariana Youssef, em 2016. Não por acaso, ela é a embaixadora do Free The Work no Brasil.

Neste ano, a pesquisa Melhores da Produção Publicitária passa a integrar o conteúdo do projeto Talento, reforçando seu propósito de reconhecer e dar visibilidade a profissionais de múltiplos perfis que impulsionam a evolução do mercado brasileiro, como feito nos dois anos anteriores com as listas de Game Changers (2022) e 30 Under 30 (2021). O site que consolida o conteúdo do projeto Talento, além de disponibilizar os rankings completos de 2023, faz um resgate histórico do conteúdo das listas anteriores de melhores diretores e novos talentos, publicados em 2019, 2016 e 2011, usando os textos e fotos originais.

Pela primeira vez, em 2023, a pesquisa inclui a categoria de melhores profissionais de produção de áudio, liderada por Edu Luke, Lou Schmidt e André Faria, em uma lista 100% masculina — mais um indício de que a luta por maior participação das mulheres no mercado ainda tem muito o que avançar.

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