Agora vai? Idadismo nunca mais!
As marcas, os desejos e as necessidades do público 50+, que se consolida cada vez mais como oportunidade imperdível
As marcas, os desejos e as necessidades do público 50+, que se consolida cada vez mais como oportunidade imperdível
(Crédito: Ilustração por Marcelo Menolli/Instagram)
A notícia da Band é um alento: MasterChef + estreia edição inédita, com participantes acima de 60 anos. Depois do The Voice, agora MasterChef. Os puristas dirão que é pouco. Eu prefiro olhar o copo meio cheio.
São episódios de uma jornada que vem ganhando força e espaço nos últimos anos. A luta contra o idadismo, o preconceito por conta da idade, tanto em relação a pessoas mais jovens quanto com mais idade, mas majoritariamente com as mais velhas, é uma vertical que passou a fazer parte, quando faz, das iniciativas de diversidade.
Levar para horários de destaque na televisão aberta tem que ser encarado como oportunidade para aproveitar a audiência para ampliar ainda mais o debate. Afinal, de alguma forma, nossa formação cultural nos levou a incidir numa visão excludente, desqualificante, associando pessoas com mais idade a uma série de aspectos negativos.
Da dificuldade de aprendizado à resistência a novidades, passando por teimosia, fraqueza, só para ficarmos nos mais comuns e que afetam tanto o ambiente de trabalho quanto o convívio social. Os programas corporativos de inclusão, em suas diversas verticais, têm cada vez mais que lidar com o seguinte fato: estamos envelhecendo rápido e vivendo mais em condições plenas para exercer atividades em geral.
Numa sociedade multigeracional como a que vivemos, o desafio é transformar o sinal de adição associado ao número 60 na trilha de soma também em competências, olhares, pensares que irão tornar mais ricos e eficientes os processos criativos. Pesquisa do Instituto Locomotiva em 2019 estimava que “Os Grey Power movimentarão R$ 2,1 trilhões no mercado em 2020”. Essa cifra por si só deveria ser mais que indutora de novos negócios e iniciativas voltadas para esse segmento, mas ainda hoje nos surpreendemos com projetos, muito bem-vindos, como o MasterChef +.
Afinal, de quais categorias de produtos e serviços os 50+ estão aptos a participar? Poderia listar aqui, só para ilustrar, alguns óbvios e que já aparecem, como saúde e bem-estar. Mas, de verdade, por que não financeiro, turismo, vestuário, comida, bebida, lazer, educação, mobilidade, esportes, livros, cinema, vídeos, games, seguro, imobiliário?
Aliás, exatamente as mesmas categorias que o mercado entrega para pessoas com 40 ou 30 anos. O viés cultural, o preconceito, contamina as análises de negócios e inibe o reconhecimento da potência desse segmento. E foi exatamente assim que a pesquisa do Instituto Mediator indicou como sentimento do segmento em relação às marcas: “somos invisíveis”.
A invisibilidade é fruto da ignorância, sem viés agressivo. As marcas ainda ignoram esse segmento. Para mudar o jogo, a regra é clara e está no core da definição de marketing de Philip Kotler: entender quais são os desejos e necessidades dos possíveis clientes e atendê-los de maneira eficiente e lucrativa.
Ouvir, observar, entender, aprender. Quais demandas, quais dores, quais desejos estão por ser atendidos pelas marcas?…R$ 2,1 trilhões estão passando pelas nossas mãos e as desculpas ainda são as mesmas: “vai contaminar minha marca”, “precisamos conquistar o público mais jovem, que vai ficar mais tempo com a gente!”. Será?
Com as possibilidades exponenciais de segmentação de oferta, será que contamina mesmo?
E, se esse for o risco, como fazer do ônus um bônus?
Os 50+ são mais fiéis às marcas. Se considerarmos que viverão até os 80 anos, ao menos os boomers e a geração X, já que os mais novos viverão até os 100 anos, temos 30 anos de contribuição.
Está na hora de deixarmos o preconceito de lado, definitivamente. Como no racismo, somos idadistas em desconstrução. Mas podemos e vamos ver mais iniciativas como o Master Chef +. Ou vamos abrir mão de R$ 2,1 trilhões?
Compartilhe
Veja também
E se o Cannes Lions premiasse as melhores parcerias do ano?
Num mundo em que a criatividade virou moeda valiosa, colaborações bem construídas se tornaram a força motriz da inovação
Os cases gringos mais memoráveis de Cannes 2025
Iniciativas como The Final Copy of Ilon Specht, vencedor do Grand Prix de film, são exemplos de consistência das marcas e reconhecimento a quem faz parte da história delas