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Opinião

Além das quadras

Onde nem sempre talentos têm oportunidade, o esporte é, por excelência, uma atividade mais democrática e acessível, capaz de transformar a realidade de muitos jovens


3 de março de 2020 - 10h49

(Crédito: iStock/ DDurrich)

“Quem já viu filho de pobre fazer esporte de gente rica?”, foi o que a mãe do tenista Paulo André Saraiva perguntou para ele nove anos atrás, quando soube que seu filho havia começado a treinar tênis. Apesar de forte, a reação é compreensível. Para o imaginário de muitos, o tênis está sempre associado a torneios glamourosos que oferecem prêmios milionários para atletas-celebridade. Além disso, foi, durante anos, praticado por pessoas que podiam pagar e ter acesso ao esporte.

De fato, tênis não é um esporte simples de se praticar: ao contrário da corrida, por exemplo, que pode ser feita sem equipamentos específicos, em qualquer lugar e com baixo investimento, o jogo de tênis depende, ao menos, da existência de uma quadra, raquete e bolinha adequadas. Exige aulas e o mínimo de infraestrutura.

Apesar disso, o tênis está se tornando mais democrático e capaz de proporcionar um caminho para milhões de jovens realizarem seus sonhos. Onde nem sempre talentos têm oportunidade, o esporte é, por excelência, uma atividade mais democrática e acessível, muitas vezes capaz de transformar a realidade de muitos jovens sem acesso a essas oportunidades. Com o tênis, não é diferente.

Mesmo que o acesso a quadras profissionais de tênis ainda seja pequeno em comparação a outros países, a oferta de projetos sociais e espaços públicos só tem aumentado. De acordo com levantamento do portal TenisBrasil, 284 quadras públicas estão disponíveis gratuitamente em 110 cidades de vinte estados brasileiros. Há ainda centenas de clubes, academias e associações que oferecem vagas sociais para aqueles que não podem pagar pela estrutura e equipamento necessários.

Sabemos que não há limites para a ambição de uma criança. Muito menos para jovens talentos. O que esses projetos sociais fazem é permitir que jovens de qualquer origem social conheçam o tênis e entendam que é acessível para quem está disposto a se dedicar a essa desafiadora e, para muitos, encantadora atividade.

Foi o caso do Paulo André Saraiva, hoje com 19 anos. Sua trajetória no tênis começou quando ainda era criança. Filho de mãe diarista e pai pedreiro, jogava futebol em um projeto social que garantia um lugar para ele passar o dia. Quando esteve em um treino de tênis, foi amor à primeira vista. Não demorou para que sonhasse em se tornar um atleta profissional. Apesar da reação inicial da mãe, foi ela mesma quem ensinou Paulo André a nunca desistir. Aos 17 anos, ele estreou na chave principal de um torneio profissional e realizou seu sonho. Sua trajetória, que está só começando, demandou muito esforço de sua família e de diversos apoiadores, mas o fato é que o tênis já mudou sua vida.

Tivemos o prazer de convidá-lo para treinar com profissionais do Rio Open, o maior e mais importante torneio de tênis da América do Sul. O Rio Open não é apenas uma grande competição, mas também uma ferramenta para popularizar e democratizar o tênis no Brasil. Foram oferecidos ingressos a R$ 30 e, para ver as etapas de qualificação, as entradas eram gratuitas. Mas o evento vai muito além das quadras. Dezenas de professores foram capacitados durante o torneio para que ensinem as novas gerações e atuem como multiplicadores da paixão pelo esporte. O Rio Open também apoia projetos sociais que envolvem mais de 500 crianças. Algumas puderam conhecer o local que já recebeu ídolos como Rafael Nadal, um dos maiores esportistas de todos os tempos e campeão da edição de 2014.

*Crédito da foto no topo: iStock/ Golero

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