Empatia anticrise

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Opinião

Empatia anticrise

Conflitos globais concomitantes impactam comportamento e confiança de cidadãos e consumidores, e causam medo e ansiedade nas novas gerações que chegam ao mercado de trabalho


31 de outubro de 2023 - 14h00

O Brasil convive com taxa recorde de envelhecimento. O contingente formado por maiores de 65 anos cresceu 57% desde 2010 e representa 11% do total de habitantes do País, segundo dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo IBGE, na sexta, 27. A população de cinco a 29 anos, que abarca as gerações Z e Alpha — que consideram, respectivamente, nascidos a partir de 1995 e a partir de 2010, e no seu conjunto são chamadas de “Zalphas” — responde por cerca de 18% do total.

Os números confirmam a inversão da pirâmide etária e apontam para um cenário mais intenso de convivência multigeracional, que impacta as estratégias de marcas, empresas e profissionais. Duas reportagens desta edição abordam a necessidade de melhor preparo da indústria para lidar com as camadas mais jovens da população. Uma delas se fixa na formação de um novo grupo de cidadãos e consumidores forjados em meio ao enfretamento à “Era das policrises”, expressão usada pela consultoria WGSN para se referir ao aumento das fricções causadas por conflitos geopolíticos, sociais, econômicos e ambientais ou em decorrência de enfermidades, insegurança alimentar e deslocamento de refugiados. Com vários desses problemas ocorrendo concomitantemente e em escala global, há efeitos potencializados no comportamento das novas gerações que desenvolvem suas identidades, definem propósitos, entram no mercado de trabalho e ganham independência financeira justamente neste momento conturbado.

Em se tratando dos estudos que acompanham as gerações Z e Alpha, nota-se uma guinada do individual para o coletivo, uma transformação drástica na relação com o conteúdo de informação e entretenimento e um preocupante aumento da ansiedade e do medo. Um caminho importante apontado para as estratégias de produtos, organizações e pessoas que precisam combater esse estado de alta pressão é o que une empatia e autenticidade. Se a crença em heróis solitários já embalou o imaginário de outras gerações, agora conquistam mais corações e mentes os que privilegiam visões comunitárias, como debate a reportagem da jornalista Taís Farias, publicada nas páginas 24 e 25.

A investigação de como se molda o comportamento da geração Alpha é importante porque essas pessoas se tornarão as principais tomadoras de decisões de compras na próxima década, a partir de 2030. Ou seja, a questão central aqui não é entendê-las como crianças para elaboração de estratégias e abordagens a um público infantil, mas sim desenvolver mecanismos que proporcionem uma conexão desde já com os consumidores do futuro.

Como auxílio nessa empreitada, foi lançado neste mês o estudo “O Fenômeno Alpha”, parceria entre WGSN Mindset e Meio & Mensagem, com o objetivo de apontar as tendências possíveis de serem antevistas na observação dos nascidos a partir de 2010 sobre aspectos que vão da tecnologia ao meio ambiente, da diversidade à estética. Pela pouca idade que tem, a conexão com a geração Alpha ainda é um desafio. O levantamento inclui pesquisa quantitativa realizada junto a 63 líderes de marketing dos principais anunciantes do País, e mostra que mais da metade (58%) ainda não considera os Alphas em suas estratégias. Lançado durante o Maximídia, o report foi distribuído aos membros do Círculo Liderança, benefício do plano corporativo de assinaturas de Meio & Mensagem; embasou o episódio 99 do Next, Now, o podcast quinzenal apresentado pela editora Isabella Lessa, que, neste programa, disponível nas plataformas digitais, entrevista o consultor sênior da WGSN Mindset, Vitor Coelho; e, agora, é tema da reportagem da jornalista Giovana Oréfice, nas páginas 22 e 23.

Acostumadas ao acesso fragmentado à informação, guiado por algoritmos e referências culturais mais efêmeras, as gerações “Zalphas” têm, por outro lado, a chance de tornarem-se voz ativa com repercussões que as anteriores não tiveram desde sempre. Com isso, ganham a possibilidade de influenciar futuros mais positivos em diversas áreas da sociedade, do conhecimento, do trabalho e do consumo, quebrando ciclos estruturais anteriormente estabelecidos e, assim, melhorando o mundo inclusive para o crescente contingente de idosos.

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