Facebook pra quê?
O que leva bilhões de seres humanos a acessarem a rede social todos os meses? E o que os impede de abandoná-la?
O que leva bilhões de seres humanos a acessarem a rede social todos os meses? E o que os impede de abandoná-la?
O tsunami de notícias ruins em que se meteu o Facebook pode deixar a impressão de que a empresa liderada por Mark Zuckerberg é um gigantesco instrumento do mal e que seus usuários são vítimas indefesas das mentes inescrupulosas do Vale do Silício. Nada mais distante da realidade, ainda que as polêmicas recentes sejam causa para muitas e legítimas preocupações e cobranças dirigidas à maior rede social do planeta.
Na verdade, não há registro de que algum de seus mais de dois bilhões de usuários pelo mundo tenha feito seu cadastro com uma arma na cabeça. Como diz a hashtag, qualquer um pode #deletefacebook quando quiser. O que nos traz à pergunta que tem martelado na minha cabeça esses dias: Facebook pra quê?
Dito de outra forma: o que leva esses bilhões de seres humanos a acessarem a rede social todos os meses? E o que os impede de abandoná-la? Comecemos pela segunda pergunta: a rigor, nada, exceto o medo de ficar de fora, como já mostraram estudos.
Mark pode nos ajudar a responder a primeira. “Há mais trabalho a fazer, mas não podemos perder de vista todas as maneiras que as pessoas estão utilizando o Facebook para o bem”, diziam os talking points do executivo, flagrados por fotógrafos logo após seu longo depoimento ao senado americano.
Durante a sessão, ele lembrou que a rede social vem sendo utilizada para unir pessoas em torno de causas como o movimento #MeToo e o levantamento de recursos para vítimas de desastres, e que 70 milhões de empresas em todo o mundo utilizam o Facebook “para criar empregos e crescer”.
A verdade é que as pessoas estão ali principalmente para se sentir parte de sua comunidade. Isso é ruim?
É claro que “a maior praça pública virtual do mundo”, nas palavras da Wired, também vem sendo utilizada para propagar notícias falsas, destruir reputações e manipular sentimentos. E também já está óbvio que o Facebook não pode se eximir de enfrentar esses problemas, algo que Zuckerberg está admitindo em todas as suas declarações recentes.
Mas não podemos liberar o resto do mundo de suas responsabilidades. Quem está na praça está exposto ao que está sendo dito na praça, e deve buscar meios de reconhecer (e não propagar) o que é falso. Assim como na praça do mundo físico, quem resolve colocar sua opinião deve fazê-lo com respeito às diferenças, e isolar quem só quer destilar ódio.
Marcas, empresas e mídia, da mesma forma que na praça, têm obrigação de só distribuir conteúdo verdadeiro, relevante e de qualidade.
E quem quiser deixar a praça (ou buscar uma praça diferente), está livre para fazê-lo. Basta se perguntar: por que mesmo tenho dedicado preciosa parte do meu tempo a esse feed de notícias? Se não encontrar motivos, então #deletefacebook e seja feliz.
Agora, se resolver ficar…
Primeiro, informe-se de uma vez por todas sobre os dados pessoais a que o Facebook tem acesso. Se há um resultado positivo dessa crise é ter aberto olhos de muita gente para importância da decisão que tomamos quando rolamos os termos de serviço até o fim e clicamos “aceitar”. Já se informou e não está confortável como que descobriu? Já sabe… Só não esqueça de fazer o mesmo com Google, Apple, Amazon e tantos outros serviços digitais que usamos quase 24 horas por dia.
Na convivência diária da praça, assuma suas responsabilidades. Não espere que alguém venha consertar o Facebook para nós!
Feito isto, resta manter distância do esgoto que, lamentavelmente, ainda escorre a céu aberto em muitos cantos da praça, e apreciar todo o bem que as conexões geradas diariamente pelo Facebook podem trazer para pessoas e organizações.
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