Influência perigosa
Influenciadores despreparados para discernir o que é fake do que é news colocam em risco credibilidade das marcas que representam
Influenciadores despreparados para discernir o que é fake do que é news colocam em risco credibilidade das marcas que representam
(Crédito: Venimo/istock)
Influenciadores estão preparados para não caírem nas armadilhas dos conteúdos enganosos com verniz de jornalismo que circulam nas redes sociais? O caso mais recente, e talvez mais notório, da Amazônia, nos mostra que não. Madonna, Gisele Bündchen, Ricky Martin, Cristiano Ronaldo, Novak Djokovic, Leonardo DiCaprio e Emmanuel Macron, para citar apenas nomes grandes, com o intuito de alertar sobre as queimadas que atingem a região, compartilharam fotos antigas da floresta ou até mesmo de outros lugares com seus milhões de seguidores. A gafe acabou contribuindo para desinformação e, pior, prejudicando a própria campanha #PrayForAmazonia que buscavam apoiar. O fato de celebridades terem replicado imagens fora de contexto foi amplamente divulgado e esvaziou a denúncia em si.
Influenciadores ganharam popularidade com anúncios de produtos de todos os setores. E não foi à toa. A revista americana Entrepeneur apontou que 80% do tráfego online estão ligados a algum tipo de influenciador e que 92% dos consumidores acreditam mais na recomendação deles do que de instituições. Após amigos e parentes, eles já são a segunda fonte de tomada de decisão para consumidores, de acordo com estudo da Qualibest. As marcas se esforçam para fazer uma curadoria cirúrgica. Esmiúçam o perfil do influenciador e do seu público para garantir que ambos estejam de fato alinhados com o produto, vasculham seus perfis para garantir que seu histórico não contenha antecedentes que possam prejudicar a credibilidade da marca. Escarafunchar o passado, contudo, não basta.
Os influenciadores precisam ser qualificados para navegar em redes turvas e evitar problemas futuros. As webcelebridades estão em constante exposição. Não são poucos os que postam o que fazem e no que pensam do momento que acordam até irem dormir. Isso também quer dizer que estão mais sujeitos a repassar conteúdos enganosos, inapropriados ou serem vítimas de discursos de ódio. E, por tabela, botar em risco a credibilidade das marcas que representam. Um exemplo é o caso do youtuber Júlio Cocielo que acabou fazendo tuíte racista sobre o jogador Mbappé ao comentar os jogos da Copa. Certamente, pessoas da equipe das empresas patrocinadoras perderam alguns dos jogos seguintes redigindo notas de esclarecimento.
Dominar a tecnologia não é sinônimo de ter competência para identificar os maus usos dela. Só através da educação midiática as pessoas deixarão de ser manipuladas por conteúdos enganosos. Projetos como o Redes Cordiais, que promovem o diálogo entre influenciadores digitais de diversas bolhas sobre a responsabilidade nas redes sociais, trabalham o olhar crítico dos novos comunicadores da era digital. A precisão deve vir antes da velocidade, a checagem antes do compartilhamento e a compreensão antes do comentário.
Afinal, as redes estão emaranhadas e é preciso capacitação para discernir os conteúdos enganosos dos confiáveis. Apenas no ano passado, o YouTube removeu oito milhões de vídeos falsos. O Facebook, sozinho, puniu 33,6 milhões de postagens violentas que feriram as regras de comunidade da plataforma. Sabemos também que as notícias falsas têm 70% mais chances de viralizarem e os desmentidos nunca percorrem o caminho de volta. As informações verídicas levam seis vezes mais tempo para alcançar as mesmas pessoas. Os boatos inspiram medo, revolta e surpresa, sentimentos que provocam mais engajamento do que a tristeza, alegria e confiança provocados por conteúdos verdadeiros. Por isso, todo cuidado é pouco para não cair em uma mentira. Ou pior: passar adiante um conteúdo que vai gerar desinformação ou reações coléricas.
Mais do que nunca, influenciadores precisam estar preparados para exercer uma influência positiva e quebrar as correntes de desinformação. Afinal, apenas robôs não são capazes de viralizar a tal da “fake news”. Somos nós que caímos nas armadilhas.
**Crédito da imagem no topo: Reklamlar/istock
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