Opinião
Longe do fim
A luta pela equidade de gênero e raça no mercado da comunicação e do marketing
A luta pela equidade de gênero e raça no mercado da comunicação e do marketing
Ainda que lentamente, segundo dados da Associação de Marketing Promocional (Ampro), as mulheres ocupam 56% do mercado de marketing. No entanto, em um setor com a maioria de homens nas tomadas de decisão ainda reflete a falta de representatividade das consumidoras nas campanhas publicitárias.
Existe uma tendência de simplificar as personagens femininas. As propagandas, em sua maioria, propagam estereótipos irreais e objetificam o corpo feminino. E, é importante lembrar também que pessoas com deficiência, indígenas e LGBTQIA+ também são sub-representados nas campanhas. Desde sempre, vemos, principalmente em comerciais de cerveja, mulheres sendo expostas de maneira sexualizada e diminuída. Isso se dá devido à baixa presença de mulheres à frente do mercado publicitário, principalmente em cargos de gerência.
De acordo com o estudo “Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023” assinado pelo Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), homens representam 85% dos cargos de CEO e as mulheres são apenas 15%. Já os postos de trabalho de gerência e acima, por outro lado, possuem um equilíbrio maior, com 50,2% de homens e 49,8% de mulheres. No recorte de raça, os autodeclarados brancos ocupam 92% dos cargos de CEO e os negros correspondem somente a 8% das presidências.
Quando paramos para analisar os dados, se comparados aos anos anteriores, vemos uma melhora, embora ainda existam desafios persistentes em termos de igualdade de oportunidades. E neste ponto, as mulheres foram fundamentais, contribuindo assim para a transformação do mercado.
Transformações essas que foram e são impulsionadas por diversos fatores, entre eles o aumento do número de profissionais ingressando no setor publicitário, pois agora elas representam a maioria dos graduados em Marketing em muitas universidades. E, também, não podemos deixar de falar sobre a conscientização das empresas sobre a importância da diversidade e inclusão.
Um exemplo disso, concentra-se na campanha “Black Is King”, embora não seja uma campanha de marketing tradicional, “Black Is King” é um álbum visual lançado por Beyoncé em colaboração com a Disney+. Este projeto trouxe para o topo das discussões temas ligados a ancestralidade, diáspora, empoderamento negro e antirracismo, reforçando a beleza e a diversidade da comunidade negra.
De fato, a representatividade de pessoas negras na comunicação vem crescendo nos últimos anos, mas sabemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar a igualdade e a pluralidade.
É fundamental para as marcas olharem para diversidade não apenas durante momentos “hypados”, como o “boom” de 2020 para cá, impulsionado pelo assassinato de George Floyd e pelo movimento Black Lives Matter, em que o mercado começou a abordar temas ligados a questões raciais. Porém, mesmo que esses acontecimentos tenham impulsionado essas movimentações, somos constantemente bombardeados pela falta de intencionalidade da mídia e das marcas em ampliar vozes e fomentar oportunidades para profissionais diversos. Mas afinal, que futuro estamos construindo se ainda é um desafio ter maior inclusão na mídia e no setor publicitário?
Precisamos combater os estereótipos e exigir o engajamento de tomadores de decisões, trazendo para o centro das discussões a visão de mundo e do repertório dessa parcela da população com suas experiências e perspectivas únicas, moldadas por suas diferentes origens, trajetórias e identidades. Enriquecer os processos criativos, expandindo a gama de ideias, soluções e abordagens possíveis.
Faço aqui um chamado para marcas e empresas: invistam em programas de treinamentos para educar sua equipe sobre questões de diversidade, equidade e inclusão. Busque garantir que sua equipe e liderança representem uma variedade de identidades étnicas e de gênero, isso pode envolver a implementação de metas de diversidade e a criação de programas de desenvolvimento de liderança para indivíduos sub-representados.
Não dá mais para continuarmos errando na comunicação. A luta não é apenas das mulheres e sim da sociedade como todo. Precisamos estar engajados e mostrar nosso compromisso genuíno com a promoção da diversidade em suas práticas profissionais, criando um ambiente de trabalho mais justo, acolhedor e produtivo para todos e construindo um futuro mais justo e igualitário para todas as pessoas.
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