Mobile news, now
Provavelmente o erro mais comum dos jornais seja pensar em como monetizar antes de avaliar a plataforma digital e o conteúdo
Provavelmente o erro mais comum dos jornais seja pensar em como monetizar antes de avaliar a plataforma digital e o conteúdo
O fim da edição impressa do The Independent, o primeiro jornal britânico a ser publicado apenas em versão digital, a chegada ao fim da edição diária da Gazeta do Povo no Brasil, o encerramento do impresso do Económico em Portugal e a nova era digital do El País. Cortes nas redações e nos custos de manutenção do jornal impresso ou a visão de uma nova era?
Foto: Reprodução
O fato é que o que muitos ainda enxergam como tendência já é uma realidade latente. O mobile first onde o modo de pensar – e priorizar – o conteúdo para o digital para os dispositivos móveis é abordado desde o início da década. Mas priorizar é diferente do exclusivo, obviamente. A técnica de aplicação dos projetos web que priorizam os dispositivos móveis foi a porta de entrada para uma transformação em andamento na forma como consumimos as notícias do cotidiano e nos mantemos informados com assuntos aprofundados.
Exatamente. Foi. O mobile news – variação do mobile first para o jornalismo – é uma realidade. Apesar de enxergar que muitos veículos ainda estejam buscando um caminho para seguir, outros já se aventuram ainda sem entender ao certo o que fazer e há, ainda, os apegados a tradição que não conseguem imaginar as suas vidas sem as manchas deixadas nas pontas dos dedos ao folhear o jornal impresso de cada dia.
Há uma enorme preocupação em apenas acabar com as versões impressas e continuar com uma versão digital – quase sempre uma réplica da versão em papel. Ideia que obviamente se mostrará precipitada em breve.
Para o mobile news será preciso entender que é uma nova era. Nem melhor e nem pior. Apenas uma nova era. Algo “estranho” para a maioria dos proprietários de veículos de comunicação impressos que sempre tiveram os ganhos em publicidade como sustentação do negócio. Enquanto para os jornalistas será colocada a prova a capacidade de síntese e aprofundamento da informação com uma nova linguagem.
O público do mobile possui um perfil completamente diferente do leitor habituado aos antigos jornais impressos. A plataforma de leitura e navegação também muda drasticamente e exige uma adaptação do conteúdo – com ganho de qualidade. Sim, o público quer qualidade em poucas linhas. A monetização na internet também conta com um sistema muito diferente dos jornais. Seja pelos anúncios rotativos nos sites, paycontent ou paywall. Algo semelhante ao que está acontecendo com a TV e o efeito second screen – ou segunda tela.
Provavelmente o erro mais comum dos jornais seja pensar em como monetizar antes de avaliar a plataforma e o conteúdo. Fica óbvio que a lógica de monetização e construção de valor é plataforma – conteúdo – relevância – publicidade. Claro, não serei hipócrita em afirmar que a questão financeira não é importante. Ela é fundamental. Mas apenas as outras três podem garantir o sucesso do “novo” negócio.
O paywall – barreira que restringe o acesso dos usuários não-assinantes aos sites – é uma das principais formas para rentabilizar o jornalismo digital. Os usuários brasileiros já estão adaptados ao formato. Claro, os próprios jornais criaram um grande problema ao oferecer o conteúdo do impresso no digital – e de graça. Acabar com um “privilégio” não é fácil e nem simples. É preciso dedicação, paciência e, o mais importante, entregar o conteúdo relevante e pensado para o mobile.
Em 2016, o número de assinaturas digitais dos 33 jornais com conteúdo online e monitorados pelo IVC bateu em um milhão de assinantes. No mesmo período, a circulação de exemplares vendidos pelos mesmos veículos chegou aos 2,6 milhões. Ou seja, caminhando para a inversão nos próximos meses. A Folha de São Paulo, um dos principais jornais do país e um dos primeiros a adotar o paywall, anunciou na metade do ano passado que os assinantes online haviam ultrapassado os impressos. Tendência? Realidade.
Mas talvez você diga que há como burlar as barreiras para não-assinantes. Claro que é possível. Assim como roubar o jornal do vizinho, aquele gato da TV por assinatura ou utilizar a conta da Netflix de um amigo. É possível e errado.
A opção pelo paywall é apenas um dos caminhos para tornar o site rentável. A flexibilidade permite que usuários não-assinantes tenham acesso a um número restrito de matérias de forma gratuita e sejam motivados para assinar após exceder o limite. Vale lembrar que muitas tentativas de hard walls – quando 100% do conteúdo é exclusivo para assinantes – foram realizadas e fracassaram.
O fato é que você já consome mobile news. Onde você busca informações durante 90% do seu tempo? Na web. Qual o dispositivo que está com você até ao lado da sua cama? O smartphone. Junte essas características com as redes sociais como Facebook, Twitter e Youtube e canais de comunicação como Messenger e WhatsApp e verá que você já consome o mobile news. Aquela leitura de jornal é apenas um velho hábito – e muito perto do fim…
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