Assinar

O conto do sábio chinês

Buscar
Publicidade
Opinião

O conto do sábio chinês

A democracia das palavras pode ser mais tirana do que se imagina


22 de julho de 2016 - 17h59

Atrás das telas, todo mundo é valente e intelectual. Fala-se de tudo e ganham-se ares de sábio. Escolhe-se um tema específico e o fulano vira expert. Emitem-se análises infundadas e não falta quem acredite que se trate de um formador de opinião nato. Mas, como cantou Raul Seixas, até o sábio chinês tem dúvidas. E não é difícil perceber que algo está errado.

É muita gente dizendo o que quer, como quer, quando quer. Isso é maravilhoso e estranhamente perverso ao mesmo tempo. A mesma voz inegavelmente poderosa que ecoou das redes sociais, agora berra bobagens, ataca, calunia, insulta e esbanja hipocrisia. Escondida em sua eloquência, arma conflitos indignos da tecnologia que deveria ser utilizada para fazer amigos, e não para hostilizá-los.

Mais do que refletir sobre a relevância é preciso saber relativizar opiniões e informações publicadas por toda sorte de “produtores de conteúdo”. Será que estamos vivendo na era da desinformação? Neste curioso paradoxo, a democracia das palavras pode ser mais tirana do que se imagina.

Se podemos escrever ou produzir qualquer material em vídeo, áudio, ilustração, edição de imagens, entre outros formatos, o que é verdadeiro, afinal?  De onde se extraem os fatos, de fato?

É fantástico que se tenha a chance de gerar conteúdo. Porém, é extremamente incômodo que se tenham opiniões atadas a um emaranhado de “achismos”

Confinadas em uma redoma, as pessoas escolhem crenças de forma cada vez mais pessoal e perdem a chance de ouvir. Só se escuta o que interessa, por conveniência ou pelo comodismo de acatar causas já estabelecidas como certas. Ei, amigo! Não se esqueça dos algoritmos! Eles fazem crer que você detém o discurso do rei. Mas cuidado para não gaguejar por aí. Isolado e cego em sua verdade, você pode arrebanhar servos prontos para tirar a sua coroa a qualquer instante.

Nessa terra de ninguém, mora a ignorância de alvos e articulistas. Relativizar é a palavra de ordem para trazer a realidade à tona e fertilizar o território de atuação das marcas. De que forma consigo me conectar ao público? Uso o espaço do blogueiro ou associo o meu produto ao conteúdo jornalístico?

Para descobrir quem é que realmente entende do assunto que fala, esmiuçar o perfil do pretenso gerador de conteúdo, entender de que forma ele dialoga com as pessoas, confrontar ideologias, criar uma mensagem que faça sentido para as pessoas, sem ser invasiva, e disseminá-la nas plataformas corretas, o papel de uma agência preparada para lidar com o mundo da comunicação integrada é essencial.

Influenciador, youtuber ou embaixador. Não importa. As marcas podem perder relevância se estiverem coladas a key opinion formers que se julguem os reis da verdade. Mas podem também ter a paciência do sábio chinês, aquele que não sabia se sonhou que era uma borboleta ou se era uma borboleta sonhando que era um sábio chinês. Ninguém é dono da verdade, mas as marcas podem sim ter a sabedoria de se associarem ao parceiro certo de comunicação para criarem a sua própria história, construírem o seu próprio conteúdo e a sua própria realidade, e, ainda assim, ganharem likes e comentários positivos de seus consumidores.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quando menos é muito mais

    As agências independentes provam que escala não é sinônimo de relevância

  • Quando a publicidade vai parar de usar o regionalismo como cota?

    Não é só colocar um chimarrão na mão e um chapéu de couro na cabeça para fazer regionalismo