O que a renascença do impresso pode nos ensinar?
Não se trata apenas de nostalgia, mas de uma reinvenção inteligente, surfando a onda do retorno de certos produtos analógicos num mundo saturado digitalmente
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BuscarNão se trata apenas de nostalgia, mas de uma reinvenção inteligente, surfando a onda do retorno de certos produtos analógicos num mundo saturado digitalmente
Na era do scroll infinito e da distração constante, as revistas impressas emergem como um refúgio, no qual o frenesi do digital dá lugar a uma experiência de consumo mais consciente, tátil e atenta. Longe de serem vistas como relíquias do passado, essas publicações estão se transformando em símbolos de connaisseur e exclusividade, atraindo tanto leitores quanto marcas que buscam credibilidade e impacto duradouro.
Esse renascimento não é apenas sobre nostalgia, mas sobre reinvenção inteligente. Revistas icônicas como Vogue, The New Yorker e Vanity Fair mantiveram sua relevância ao entregar algo que vai além do conteúdo: uma experiência imersiva, repleta de cuidado e execução perfeita. Seus leitores não estão apenas buscando informações, estão investindo em um produto que proporciona prazer estético, narrativas bem elaboradas e imagens memoráveis — tudo envolto em uma assinatura que é quase um item de coleção.
Enquanto o digital entrega velocidade e imediatismo, o impresso oferece o sensorial: o toque das páginas, o cheiro do papel, a satisfação de completar uma edição que foi idealizada por tantas mãos. Jamais me esqueço de caminhar pelo parque gráfico da Editora Abril, empresa na qual trabalhei por oito anos, e sentir aquele poder das máquinas e ver em primeiríssima mão uma edição antes dos assinantes. É um momento de pausa, um antídoto para a hiperconexão. Mais do que um meio de comunicação, as revistas tornam-se objetos colecionáveis, carregados de significado.
Para as marcas, investir nesse formato é uma escolha estratégica. Dados da agência britânica Magnetic revelam que 90% dos leitores visualizam os anúncios nas revistas, e 70% já compraram ou visitaram empresas após serem impactados por essas publicidades. Sem pop-ups ou algoritmos tomando conta da experiência, os anúncios no impresso dialogam de forma relevante com o público, criando uma conexão mais profunda e menos invasiva.
Esse movimento está alinhado a uma tendência maior: o retorno de produtos analógicos, como discos de vinil e câmeras de filme. A geração Z, em especial, lidera essa busca por desconexão dos dispositivos digitais, sem abrir mão de conteúdo e entretenimento de qualidade. Para eles, o impresso é mais do que mídia, é uma forma de expressão e uma maneira de viver experiências mais significativas.
Editoras independentes estão na vanguarda dessa transformação, com tiragens limitadas e edições feitas para serem colecionadas e revisadas com o tempo, feitas para públicos mais nichados e interessados. Grandes veículos, como Capricho e Elle, também estão apostando em edições especiais, reforçando o apelo especial e luxuoso das publicações. Até a Manchete, sucesso absoluto nos anos 1980, voltou às bancas em março. Espero que o seu bordão volte à cena: “Aconteceu, virou Manchete”. E os nativos digitais estão entrando na onda do offline, também. A ByteDance, proprietária do TikTok, viu a oportunidade na tendência e no crescimento da hashtag Booktok para expandir as atividades de sua editora para incluir edições impressas.
Enquanto o digital nos empurra para a pressa, o impresso nos convida a desacelerar. A folhear páginas, a explorar histórias com calma e a apreciar o valor de algo feito para durar. Em um mundo no qual tudo é efêmero, o impresso prova que ainda há espaço — e demanda — por aquilo que deixa sua marca de forma duradoura. Aposto que há espaço nas bibliotecas, mesas e cabeceiras para esta apreciação.
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