O que aprender quando o futuro já era
Fazer planos cria objetivos, aspirações, necessidades e nos desafiam; o problema é depositar excessivamente nos planos futuros a expectativa de ter uma vida melhor
Fazer planos cria objetivos, aspirações, necessidades e nos desafiam; o problema é depositar excessivamente nos planos futuros a expectativa de ter uma vida melhor
Passei a minha vida fazendo planos para o futuro. Sempre falando que no futuro eu iria fazer isso ou aquilo, que trabalharia menos, que teria uma vida com mais satisfação pessoal e por aí vai. Isso até o ano passado, quando a minha esposa foi diagnosticada com um grave câncer e tudo virou de cabeça pra baixo. Aí o futuro se transformou completamente. Na verdade, aquele futuro imaginado, de repente, se foi… desapareceu, porque o importante virou mesmo o presente. Se tem uma lição que aprendi no ano passado, foi a importância do presente.
Vivemos juntando dinheiro para o futuro. Guardamos livros para ler no futuro. Protegemos uma garrafa de vinho mais cara para beber num momento especial… no futuro. Planejamos aquela viagem dos sonhos para fazer no futuro, talvez na mesma época que esperamos viver uma vida mais saudável. Enfim, todos nós imaginamos uma nova vida no futuro, cercado das coisas que guardamos ou poupamos para quando esse momento chegar. A questão é que o futuro nunca chega. O futuro é apenas… uma promessa… uma expectativa… uma carta de intenção.
Algo repentino pode mudar completamente a direção das nossas vidas, como um acidente ou doença, a perda de um emprego ou até uma notícia boa, como o nascimento de um filho. Uma ocorrência dessa dimensão pode mudar os planos de um futuro que desenhamos e criar uma nova rota de vida. E daí? Isso não é ruim, isso não é bom, isso é apenas viver. Viver é permitir mudar o curso da sua vida, de forma intencional ou não. O que vale é a vida de agora.
A minha experiência no ano passado mostrou que a história de viver cada dia como se fosse o último é uma baboseira. Eu não preciso viver todos os dias como se não houvesse amanhã. Eu não preciso conhecer 1.001 lugares antes de morrer. Eu não preciso pular de paraquedas para a vida valer a pena. Eu não preciso atuar numa startup para trabalhar bem e me sentir realizado. Enfim, aprendi que eu não preciso ter planos mirabolantes para ter uma vida digna, prazerosa e interessante.
Por favor, não pense que estou afirmando que fazer planos é ruim. Na verdade, fazer planos é ótimo: cria objetivos, aspirações, necessidades e nos desafiam. Os sonhos nos movimentam. O problema é depositar excessivamente nos planos futuros a expectativa de ter uma vida melhor.
Eu aprendi que o mais importante é viver o presente de forma que eu me sinta bem, física, mental e espiritualmente… em paz com a minha realidade, usufruindo dos recursos que tenho e agradecendo pelas oportunidades que a vida oferece… hoje! Tento fazer o meu presente valer a pena. A minha felicidade está na minha cabeça, na minha autossatisfação com a vida que levo e escolho, diariamente. Pode estar num sábado tranquilo em família. Pode estar em ler um livro ou simplesmente deitado numa rede tirando um cochilo. Aprendi a levar a vida da forma que julgo que vale a pena, que dê paz de espírito e dignidade para minha família, que nos faça bem, sem stress por sentir que o vizinho está fazendo mais.
Hoje faço planos possíveis: os meus planos e não os dos outros. Obviamente, continuo planejando o futuro e tenho os meus planos pessoais de longo prazo, mas não jogo mais a minha felicidade nesse futuro. Vejo pessoas dizendo que a vida hoje é ruim, e que no futuro será diferente. Jogam tudo numa promessa e numa perspectiva. Eu aprendi, a duras penas, a não cair mais nessa armadilha.
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