O tamanho do meu sapato

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Opinião

O tamanho do meu sapato

Quem nunca engoliu sapo, foi chorar no banheiro ou se exaltou com a pessoa errada? Não pedir demissão diante de um sapão é um desafio constante para qualquer um


19 de abril de 2018 - 11h23

Créditos: Jolkesky-iStock

Recorrentemente, me perguntam sobre os desafios que enfrentei para chegar, com a idade que tenho, na posição de presidente de uma agência de um grupo internacional de publicidade. E quanto mais penso no tema, menos tenho uma resposta precisa.

Os desafios que enfrentei são, possivelmente, os mesmos desafios que todo mundo que ingressa no mercado corporativo enfrenta: medo de errar e realmente errar, e continuar fazendo e errando mesmo assim, até acertar, mesmo com medo. Ficar frustrada com o resultado do trabalho, uma, duas, três vezes, e descobrir que frustração faz parte do processo, e deixar de lado essa emoção. Fazer sem ter a certeza absoluta, mas tendo a convicção que a opção escolhida teve como mote o propósito genuíno de fazer o bom, o justo e o certo.

E os sapos? Quem nunca engoliu sapo, foi chorar no banheiro ou se exaltou com a pessoa errada, dependendo da vocação? Não pedir demissão diante de um sapão é um desafio constante para qualquer um.

Meu maior desafio foi entender que dificilmente um sapato seria perfeito para o meu pé – mas que caberia a mim moldá-lo a cada instante. Assim, todas as vezes que ele ficava muito confortável, procurava um “novo calo”, um novo cargo, uma nova responsabilidade

Não entender a posição do gestor, não entender a posição do cliente. Não entender um monte de coisas e mesmo assim varar a noite para entregar um trabalho no prazo. Perder alguns aniversários importantes. Cancelar férias. Todos esses desafios que eu enfrentei, mas que, sem sombra de dúvidas, todo mundo em menor ou maior grau enfrenta.

Ninguém nasce estagiário. Os desafios enfrentados para que eu me enquadrasse no mundo como “estagiária” foram imensos – acho que até maiores que os demais, porque as emoções eram mais vivas e mais fortes. O tempo ajuda bastante no quesito emoções (e que alguns chamam maturidade).

Ninguém nasce assistente, coordenador, gerente, diretor. Por mais livros e palestras que você assista, por mais legal que você seja, ninguém pode efetivamente preparar você para a responsabilidade que cada uma dessas posições vai trazer, se você não estiver preparado para compreender que o problema que se apresenta só é problema porque, possivelmente, você nunca teve que enfrentar aquela situação antes. Na vez seguinte, você fica melhor, e melhor e melhor, e o problema deixa de ser problema. E assim sucessivamente, até o sapato tomar a forma do seu pé.

De forma geral, meu maior desafio foi entender que dificilmente um sapato seria perfeito para o meu pé – mas que caberia a mim moldá-lo a cada instante. Assim, todas as vezes que ele ficava muito confortável, procurava um “novo calo”, um novo cargo, uma nova responsabilidade. E meu sapato foi ficando cada vez maior, cada vez mais confortável, cada vez mais perfeito para mim.

Esses desafios permanecem e continuam, sempre, ocupando ou não esse cargo. A diferença, com a cadeira, é que minha voz pode ser ouvida mais longe, e por isso, eu tenho maior responsabilidade por ela.

 

*Créditos da imagem no topo: SergeyNivens/iStock

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