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Opinião

Uma data ou um compromisso?

Em um país onde mais da metade da população identifica-se como preta ou parda, mas nem 5% ocupam cargos de liderança, há inúmeras possibilidades de atuar sobre o tema


22 de novembro de 2022 - 6h00

Estamos no mês em que celebramos a Consciência Negra no Brasil. É um período em que vemos uma série de ações e mensagens de posicionamento de marcas a respeito da temática racial — um movimento positivo, pois demonstra uma mobilização em favor do antirracismo. Entretanto, mais do que concentrar esforços em apenas um mês, é fundamental termos uma agenda estruturada e propositiva, que gere impacto ao longo do ano todo e em diversas esferas — dentro e fora do âmbito organizacional.

Precisamos agir mais. Em um país onde mais da metade da população identifica- se como preta ou parda — e, no entanto, nem 5% dessas pessoas ocupam cargos de liderança nas empresas, segundo a pesquisa Ethos/Época de Inclusão de 2022 (ht-tp://glo.bo/3V4cdUu) —, há inúmeras possibilidades de atuar sobre o tema e fazer a diferença para a coletividade.

Trata-se de uma jornada que não começa no dia 1º de novembro e acaba no dia 30. Esse processo envolve aprendizado, letramento, construção de parcerias sólidas, cumprimento de metas, prazos e compromissos. Requer intencionalidade e leva tempo. Nos últimos anos, liderando a comunicação de uma marca que tem uma sólida agenda para a questão racial, entendo que a experiência e a consistência dessa agenda de diversidade e inclusão mostram que três pilares são fundamentais para sustentar o compromisso de inclusão racial nas organizações.

O primeiro deles é a representatividade interna —, ou seja, pensar a diversidade de dentro para fora. Quando se tem representatividade racial nos times, especialmente naqueles que concebem e lideram iniciativas dessa agenda, há priorização da temática, além de um processo de construção genuíno e sustentável no longo prazo. A pesquisa da Ethos/Época apontou um significativo crescimento do número de empresas que têm metas de recrutamento de pessoas negras: em 2018, eram 27%, hoje, são 39%.

O segundo pilar diz respeito ao desenvolvimento de uma consciência coletiva capaz de ecoar por toda a organização. A pauta racial deve ser transversal em uma empresa, presente nas decisões de negócio, campanhas de marca, escolha de fornecedores e até nas conversas diárias entre colaboradores. Como se trata de um pilar aparentemente menos tangível, já que está ligado à cultura da companhia, algumas ações podem ser efetivas para sua construção, como analisar os resultados das pesquisas internas de clima para compreender se a inclusão de pessoas negras é uma realidade ou não.

Por fim, unir-se às pessoas, parceiros, organizações que vivem as questões raciais no dia a dia. Esse pilar ajuda a tornar a cadeia de valor mais inclusiva e diversa, trazendo para perto quem tem autoridade para embarcar nessa jornada. Não se pode assumir que a intenção de mudar a realidade étnico-racial no universo corporativo é o suficiente. Precisamos conduzir esse processo com quem importa, entende e vive a temática. Isso pode acontecer por meio da curadoria de projetos que tenham proponentes negros, na parceria com creators, influenciadores e produtores negros, na representatividade da comunicação e dos projetos da marca, por exemplo.

É importante também lembrar a importância dos aliados na causa, e do nosso papel enquanto gestores de marcas no compromisso com a pauta antirracista e com uma agenda que efetivamente ajude a transformar o mercado. Não estamos apenas diante de uma data. Estamos falando de uma jornada que vai muito além do dia 20 de novembro. Trata-se de um compromisso que deve ser pensado e estruturado, para que seus efeitos ecoem no longo prazo, numa transformação real da nossa sociedade.

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