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19 de maio de 2018 - 9h35
Por Cambises Bistricky Alves (*)
Pedro Kelson, coordenador de programas educacionais e co-realizador da Virada Política, maior evento independente de cultura política do país, nos lembra: “Às vésperas da Copa do Mundo, é possível que muitos brasileiros saibam nomear os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e não conheçam os 11 jogadores da Seleção Brasileira”. Isto mostra que passamos por um momento de politização nacional, no qual voltamos a reconhecer o espaço político como fundamental para o desenvolvimento do País. Em contrapartida o acesso à informação sobre política é factual e não didático, não aprendemos sobre política na escola, mas sobre os fatos políticos. O Brasil passa por um período desafiador e histórico na política, existe um descredito nacional nas instituições e nos políticos.
Com este cenário em mente e amparado por uma pesquisa realizada pelo Sonho Brasileiro da Política em 2013, onde 65% dos jovens gostaria de aprender sobre o assunto na escola, o hacker ativista Pedro Markun, em conjunto com a Labhacker e Énois, desenvolveu o “Jogo da Política”, e de uma forma totalmente colaborativa junto a jovens que participaram de todas as etapas, da concepção à validação, foi também validado por diversos educadores, gerando uma metodologia ativa, que coloca os jovens nos papéis de políticos para compreenderem a complexidade do fazer político e desenvolve empatia pelas pessoas que ocupam esses cargos. Um jogo estilo RPG, que tem a pretensão de gerar um real conhecimento sobre o processo político, nele os participantes compreendem como funciona os 3 poderes:
- Legislativo
- Executivo
- Judiciário.
No Legislativo simula a aprovação de um projeto de lei, a partir da vivencia de diferentes papéis: do presidente da câmera, dos relatores, das comissões e o processo de votação de leis. No Executivo simula a construção de um orçamento público: do que é composto, quanto custa e como é feito, colocando o participante no papel de prefeito. E no Judiciário o julgamento de um homicídio que permite os participantes experimentarem todos os personagens presentes no processo judiciário.
O jogo têm bases educacionais em:
- Active Learning, aprendizagem ativa através de jogos de simulação.
- Quatro pilares da educação no século XXI propostos pela UNESCO,
- Eixos cognitivos do ENEM.
E para quem é apegado em métodos e metodologias, processos e procedimentos já deve estar atendido lendo este texto até aqui, agora vou me dirigir a você que gosta mesmo de um game, o que vale mesmo é jogar este incrível jogo da política, no alto dos meus 53 anos pensei entender bem o mecanismo orçamentário da cidade, mas o que eu aprendi de novidades em 1 hora 30 minutos, foi inimaginável. Simulamos o orçamento da cidade de São Paulo, primeiro sem explicação nenhuma, apenas com o conhecimento de quem estava no meu grupo (8 pessoas), co-criamos um orçamento que achamos bem legal, mas sem lembrar que há leis que amparam o aporte financeiro em cada área da cidade, então fomos convidados a refazer, agora com bases legais, foi um trabalho bem desafiador. Ao final comparamos a nossa criação ao real orçamento da cidade, conseguimos realizar toda a complexidade que envolve este jogo politico. Percebi que muito embora tenha sido criado para jovens, ele pode, e deve, ser jogado por adultos, existe uma troca de experiências numa miniatura onde posso compreender um universo gigante, que nem todos têm acesso.
Como especialista em Cooperação eu percebi que o jogo é cooperativo… mas por que “jogo cooperativo”? Segundo Fabio Brotto, os Jogos Cooperativos surgem a partir de excessiva valorização da vitória, do ganhar e ser o primeiro, repare que temos competido em lugares com pessoas e em momentos que não deveríamos, como se essa fosse nossa única opção, na política têm sido assim. Competir e cooperar são valores culturais, construídas pela educação formal e informal, não ensinamos nossas crianças a terem prazer em buscar conhecimento, mas em alcançar notas altas; da mesma maneira não ensinamos a gostar do esporte, mas em vencer jogos. Os Jogos Cooperativos são jogos com uma estrutura alternativa onde os participantes jogam COM o outro, e não contra o outro. Joga-se para superar desafios e não para derrotar os outros; joga-se para se gostar do jogo e pelo prazer de jogar.
E após viver esta experiência cooperativa, num ambiente de descontração, integração e conhecimento, de onde saí leve mas profundamente provocado e desafiado a acompanhar ainda mais as decisões e rumos da nossa comunidade, com senso de protagonismo, fiquei imaginando este jogo na base curricular escolar, e o Brasil daqui a 15 anos, depois dos jovens terem aprendido desta forma política na escola, como será?
O Jogo da Política tem licença Creative Commons e está gratuito na internet no site do Jogo da Política.
(*) Cambises Bistricky Alves é pós-graduado e consultor em técnicas de cooperação e colaboração corporativa.