Pyr Marcondes
24 de janeiro de 2018 - 9h19
Por Lima Santos (*)
Empreender é uma guerra. O empreendedor é um militar. A analogia é conhecida, mas foi a partir da minha vivência nos dois universos – no Exército, onde construí minha carreira durante 20 anos compondo a tropa de elite do Exército no Comando de Operações Especiais, e agora como investidor de startups – que descobri o quanto construir um negócio é mesmo semelhante ao sangrento campo de batalha.
Uma das primeiras coisas que aprendi nas Forças Armadas é que o poderio bélico não é necessariamente o fator decisivo para vencer. Tão importante quanto, ou mais, é a inteligência e a estratégia.
Tem sido assim, também, no mundo corporativo depois da revolução digital, onde empresas entrincheiradas em garagens e com pouco ou nenhum capital constroem modelos disruptivos com força suficiente para derrotar gigantes supostamente muito melhor preparados para destroçar tropas pequenas, recém-formadas, mas que, municiadas pela força da inovação, acabam por avançar e conquistar novos territórios.
O empreendedor vive todos os dias uma guerra não declarada, a guerra do mercado. É fundamental, então, saber que habilidades deve desenvolver para ser um soldado bem preparado. No exército me tornei paraquedista e no mundo dos negócios vivo todos os dias uma sensação similar ao primeiro salto: mesmo com todo planejamento prévio e de saber que eu mesmo preparei meu equipamento nunca tive a total certeza de que iria sobreviver.
Para me atirar de um avião tive que estudar, entender como funciona o paraquedas, como manobrar, como agir em situações de emergência, quais os melhores ventos para um voo seguro, quais são meus limites, o que fazer para mitigar riscos.
Agora, na minha vida empreendedora, faço o mesmo em cada startup que invisto. Afinal, não queremos, eu e meus soldados no comando das novas empresas, nos esborrachar no chão e morrer logo no primeiro conflito.
Quando recebemos um pitch, nossa primeira análise está focada nos comandantes (sócios e CEO) e nos soldados (time de colaboradores). Sem um exército forte e preparado é impossível vencer a guerra. Depois olhamos para estratégia de mercado e arsenal (qual o modelo de negócios e que armas tecnológicas e estruturais dispõem para lutar).
Avaliamos quem são as forças inimigas (os concorrentes) e que táticas empregaremos para ganhar terreno e abocanhar market share. Por fim, partimos para o mapeamento (estudo de mercado) e desenho da estratégia, passo a passo, para conquistar nossa vitória (sucesso empresarial).
Se está disposto a se alistar no exército empreendedor, enumero aqui 10 táticas militares essenciais para começar um negócio, crescer com solidez e superar as forças inimigas usando mais inteligência e menos força bruta:
- Antes de mais nada, planeje cada passo e defina a estratégia (desenhe um canvas minucioso).
- Procure conhecer o inimigo (faça benchmarking).
- Estude o terreno, tenha um mapa e uma bússola (conheça o mercado em que irá atuar e não entre na batalha sem saber onde está e onde quer chegar).
- Analise os riscos e adversidades (o cenário econômico, legislação, carga tributária e outros que podem impactar negativamente o negócio).
- Faça simulações antes de atacar (MVP, teste A/B) e defina a hora certa de avançar (o time to market).
- Escolha quais armas irá usar (quais tecnologias empregar, como direcionar os investimentos, que diferenciais desenvolver, quais paradigmas quebrar).
- Monte trincheiras para estudar a melhor estratégia, se defender e se preparar para o ataque (crie barreiras de entrada aos concorrentes).
- Mantenha seus soldados (seus colaboradores) disciplinados, engajados e motivados e procure dar tudo que precisam para vencer (a tropa que está na linha de frente sabe que arsenal precisa para garantir a sobrevivência, portanto escute-os).
- Forme continuamente sua tropa, avalie o desempenho a cada embate e retome o treinamento sempre que necessário.
- A partir dosinsights da tropa, faça análise de cenários (SWOT) e seja firme na tomada de decisões para surpreender o inimigo (o comandante, o CEO, tem a palavra final e um exército sem liderança está fadado ao fracasso).
Pronto pra luta?
Se ainda não se sente preparado, além das 10 táticas militares fecho também com a reflexão incontestável de Sun Tzu, general, estrategista e filósofo chinês:
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”.
(*) Lima Santos é CEO da 5xmais Holding Business, empresa de investimento em startups, e ex-integrante da Tropa de Elite do Exército Brasileiro