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Hyper Island anuncia primeiro curso no Brasil e chama a atenção para a necessidade de se adotar metodologia na formação de novos talentos, de fato, inovadores


28 de julho de 2014 - 5h36

Por Jonas Furtado
De Nova York*

Os pedestres passando em frente à faixada envidraçada cheia de post its coloridos, na esquina da Dominick Street com a Hudson Street, parte baixa do lado oeste da ilha de Manhatan, às 13h35 da quinta-feira 17 de julho, certamente imaginam que há uma aula de dança em curso dentro da sala – cujas paredes são decoradas por desenhos no sense feitos à mão, no dia anterior, por cada uma das 17 pessoas chacoalhando o esqueleto naquele momento ao som de “Shine Happy People”, clássico dos anos 1990 da banda R.E.M.

Todos os desajeitados dançarinos são, na verdade, profissionais de marcas e agências e alunos da Hyper Island, cultuada escola de inovação digital em negócios voltada para o desenvolvimento do pensamento criativo que realizará suas aulas inaugurais no Brasil, em setembro. “Atividades físicas mudam a dinâmica do grupo e geram uma nova energia no ambiente”, afirma Lisa Pertoso, instrutora do curso de Digital Awareness e dona da voz que puxou a contagem regressiva para que todos deixassem a timidez de lado e dançassem como se não houvesse amanhã. “E ajudam as pessoas a se manterem acordadas após o almoço”.

Com uma carreira construída nas áreas de educação e relações internacionais permeada por cursos de teatro, o ensino de inglês na China e uma atuação como arrecadadora de fundos para causas ligadas aos direitos humanos, Lisa refere-se não apenas ao exercício batizado como “Day Parting”, mas também às rodas de palmas arrítmicas e a uma versão anárquica de siga-o-mestre improvisada, dentre outras movimentações propostas durante a parada para as refeições nos três longos dias de aulas necessários para os cursos intensivos no programa de Master Class, uma versão reduzida das disciplinas regulares oferecidas pela escola, dentro do qual os participantes são constantemente colocados à prova quanto à capacidade de improviso e de apresentar soluções em deadlines curtíssimos.

“Essas atividades extras estão relacionadas ao trabalho em equipe, à força da inteligência coletiva, à prática de inclusão entre departamentos e funções, ao desmantelamento da hierarquia, ao encorajamento da experimentação, à solução de problemas, ao uso da memória para a compreensão de relacionamentos, sempre com o incentivo para que se deixe a própria zona de conforto”, avalia Terri Simon, parceira de Lisa na condução das aulas em Nova York.

Os métodos não convencionais respondem por parte importante da reputação construída pela Hyper Island desde que foi criada em 1995, em uma ilha na cidade Karlskrona, sudoeste da Suécia. As primeiras aulas foram ministradas no ano seguinte, em um edifício que serviu como base para a marinha local até os anos 1960. A origem naval reflete na doutrina por trás dos ensinamentos difundidos pela instituição, nos quais há uma forte influência de programas usados desde a década de 1990 pelas forças armadas da Suécia em seus treinamentos de liderança, desenvolvidos pela área de área Understanding Group and Leader (UGL) da Escola Sueca de Defesa Nacional.

“A Hyper Island nasceu sob a crença de que os métodos tradicionais de educação, como leitura e aplicação de testes, não eram os mais efetivos para se ensinar habilidades demandadas pelo mundo real. Assim, foi implementada a metodologia pela qual o processo holístico de aprendizado se dá a partir da experiência prática de cada aluno”, afirma Buz Sawyer, diretor do conselho da Hyper Island e encarregado da estratégia de expansão de negócios. Com mais de 35 anos de atuação na indústria da comunicação, ele foi vice-presidente de operações internacionais e diretor geral para América Latina da BBDO entre 1983 e 1989. Mais recentemente, entre 2011 e 2013, foi presidente e CEO da Cheil para as Américas, o que incluía a supervisão da operação brasileira. Também foi diretor geral da Wieden+Kennedy Nova York de 2001 a 2010 e presidente da Lowe & Partners de San Francisco por três anos.

Em linha com a proposta de motivar os alunos a impulsionar o próprio desenvolvimento, os dias na Hypers Island começam com uma reflexão individual sobre o aprendizado da aula anterior. Em seguida, cada um na sala é incentivado a compartilhar seus pensamentos com o grupo, com a condição de que as sentenças comecem com o pronome pessoal intransferível do poeta Torquato Neto – “eu, hoje, farei isso…”, “eu mudarei aquilo…”, “eu, ontem, me dei conta”. Quem faz parte dessa roda é desafiado a encarar de frente seus grandes receios e a relembrar momentos marcantes em suas vidas pessoais e profissionais. “Nessas horas, me vejo como um guia espiritual aventureiro”, diverte-se Terri. “Junto com os demais professores e alunos, me proponho a gerar curiosidade, a identificar pontos de fricção criados pela própria pessoa, e, no final, construir novas possibilidades de enxergar, ser e se mostrar para o mundo.”

A jornada de autoconhecimento coletivo é tão intensa que por vezes se assemelha às reuniões de alcoólatras anônimos exibidas em filmes e novelas, com direito a depoimentos reveladores e aplausos ao final. O criativo espanhol radicado em Nova York Ynaki Escudero, professor da Hyper Island e diretor do campus da Miami Ad Scholl na cidade, endossa a percepção da reportagem. “Em um primeiro momento, parece mesmo uma reunião do A.A. O segundo passo é a aceitação de que toda mudança é sacrificante. Mas temos de lembrar que a única constante no mundo é a mudança”, pondera.

Outra característica das aulas é o fato de computadores não serem usados como ferramenta, salvo raras exceções relacionadas à pesquisas úteis para as atividades, todas realizadas a partir de ideias na cabeça e uma caneta na mão – até no trabalho em que os alunos foram desafiados a criar o protótipo de um aplicativo, a plataforma para o desenvolvimento do conceito foi uma folha de papel. A mesma metodologia conduziu os exercícios da projeção de cenários futuros até o ano de 2030 para diversos setores da economia e da sociedade, assim como a estimativa de como morrerão algumas das principais empresas do nosso tempo e a criação de serviços inovadores a partir de um mix de palavras relacionadas a três grandes categorias: necessidades humanas, fontes de informações e a plataformas tecnológicas.

“As habilidades táticas necessárias hoje mudarão rapidamente, assim como a tecnologia. É a transformação na competência, no aprender em como aprender, que será essencial para ser bem-sucedido no futuro”, analisa Amy Rae, que completa o trio de professores da turma de julho da Master Class que a Hyper Island realizou em Nova York. “Nosso foco está em fazer os alunos compreenderem o verdadeiro impacto da era digital sobre os negócios, os consumidores e seus comportamentos, ajudando-os a desenvolver planos de ações cuja entrega corresponda às necessidades”, acrescenta Lisa.

As afirmações do staff da escola vão ao encontro da opinião de Fabio Resende, primeiro brasileiro a fazer um curso da Hyper Island, o de Interactive Art Director, em 2007. “Muitas vezes é complicado explicar a quem não estudou na Hyper Island que eles não ensinam uma habilidade específica, mas, sim, a como pensar”, diz Resende, que atualmente é design lead do Twitter nos Estados Unidos. “Muitas pessoas não entendem isso de cara. Mas o que a Hyper Island faz é dar ferramentas que solucionem problemas. As habilidades sempre mudarão – o que precisamos aprender é a encontrar as respostas certas.”

* O jornalista viajou a convite da Hyper Island

BOXES LATERAIS

Primeiro curso no Brasil (PAGINA 2)
O Brasil será o quarto país além da sede a receber os cursos da escola, presente também na Inglaterra, Estados Unidos e Cingapura. Com duração de três dias, as aulas de Digital Acceleration e Business Transformation do programa de Master Class acontecerão entre os dias 25 e 27 de setembro, dentro do Coworking Space da FIAP, na Avenida Paulista. Três dos cinco profissionais que ministrarão as aulas já estão definidos: Jonathan Briggs (um dos fundadores da Hyper Island) Sarah Gregersen (Head of Learning Design da Hyper Island) e Per Hakansson (especialista em inovação baseado em São Francisco, na Califórnia).

Os próximos passos (PENÚLTIMA PÁGINA)
Dentre as principais razões para o desembarque da Hyper Island em São Paulo está o fato de os brasileiros formarem o segundo maior contingente de alunos da matriz sueca para as disciplinas com quatro meses ou mais de duração, atrás apenas dos nórdicos. Até por isso, a meta a médio prazo é que a escola tenha uma casa própria em São Paulo (como acontece com os campus de Estocolmo, Manchester, Nova York e Cingapura). Além das aulas de setembro, há apenas mais um curso confirmado para este ano, a ser realizado em novembro. Com o passar do tempo, a intenção é oferecer o portfólio completo de programas ao mercado A diretora da escola na América Latina e consultora da Faculdade de Informática e Administração Paulista, Nathalie Trutmann, lidera a chegada ao País. A Naked é a responsável pela divulgação.
 

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