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Opinião

Descarbonização na logística: o que podemos acelerar no Brasil?

Sustentabilidade, responsabilidade, descarbonização e outros temas ESG: são modismos ou uma realidade? Para quem ainda tem dúvidas, que fique claro: são uma questão de sobrevivência


10 de junho de 2022 - 9h45

Crédito: Shutterstock

Ano após ano, os temas relacionados a um ambiente e sociedade mais sustentáveis se tornam mais presentes, fazendo crescer a relevância de trazermos à mesa discussões profundas com soluções urgentes. Afinal, qual é o mundo que você quer deixar para as próximas gerações? Aliás, quais as condições exigidas pelas novas gerações, muito mais críticas e conectadas com essa agenda? Cada vez mais, produtos e serviços são escolhidos justamente em função do (menor) impacto que causam à sociedade.

Ninguém duvida de que há uma jornada a ser percorrida quando o tema é descarbonização. A boa notícia é que de 2016 a 2021 foram investidos, globalmente, cerca de US$ 160 bilhões em tecnologias de baixo carbono e estes investimentos vêm crescendo de maneira exponencial. Somente o ano de 2021 responde por cerca de 1/3 deste montante, segundo relatório do Boston Consulting Group (BCG). Entretanto, para zerar as emissões líquidas até 2050, conforme estipulado no Acordo de Paris, estima-se necessário um investimento de US$ 21 trilhões nos próximos 8 anos, segundo a Agência Internacional de Energia.

Boa parte destes investimentos estão concentrados na indústria de veículos elétricos. No entanto, o investimento em tecnologias combustíveis emergentes, como o hidrogênio, vem ganhando representatividade, tendo passado de 1% do share de investimentos em 2016 para 6% em 2021.

Quando o assunto é descarbonização na cadeia logística, fica claro que a nossa bala de prata são os caminhões elétricos ou movidos a hidrogênio. São estas as tecnologias que nos permitirão zerar a emissão de carbono; mas o quanto essa já é uma realidade no Brasil de hoje?

Por um lado, sabemos que, globalmente, a tecnologia de veículos elétricos ou movidos a hidrogênio capazes de transportar altas tonelagens e com alcance de longas distâncias ainda não está disponível em larga escala. Por outro, já vemos uma quantidade importante de veículos elétricos de menor porte circulando nas ruas de grandes capitais, geralmente de empresas de E-Commerce, o que nos dá uma pequena amostra do que virá nos próximos anos.

E enquanto o amanhã não chega, as principais empresas de bens de consumo já apresentam os seus compromissos para os próximos 5 a 10 anos. É uma jornada de transformação que requer tempo de adequação e maturação. A semente de hoje vai trazer resultados concretos alguns anos à frente; quem não começou já está atrasado.

Pensando nisso, uma solução que nasce como aposta de curto prazo para a realidade brasileira é a utilização de combustíveis biogênicos, como o biometano, oriundo da purificação e concentração do Biogás. Esse combustível “verde” tem origem em diversas fontes renováveis como aterros sanitários e atividades agropecuárias, através de um processo de decomposição que resulta na geração de biogases. O biometano é quimicamente equivalente ao gás natural, podendo substituí-lo como fonte de energia e garantindo uma redução de até 80% nas emissões de CO2. Ou seja, o advento recente dos caminhões de alta capacidade movidos a gás natural aliado ao desenvolvimento da cadeia do biometano parece ser a saída mais rápida para uma redução substancial de emissões. A pujança da agroindústria brasileira como fonte de biogás faz com que alguns apelidem esse potencial energético de “pré-sal caipira”. A tecnologia já existe. Restam ainda os desafios de produção em escala, distribuição, pontos de abastecimento e certificação necessários para a regulação do mercado e dos seus benefícios, e é nisso que a indústria de vanguarda tem se debruçado ultimamente. Garantir que o gás esteja inserido em uma cadeia circular, verdadeiramente renovável, também será crucial. Mecanismos de certificação poderão ainda ampliar o acesso de mais empresas aos benefícios do biometano por meio da venda de atributos renováveis.

A solução de descarbonização na logística dificilmente se dará com uma única tecnologia, mas sim através de alternativas que possam se adequar aos desafios de custos, distância, capacidade e infraestrutura. Neste ponto, os veículos movidos a biometano se somarão aos elétricos e movidos a hidrogênio, formando uma matriz de soluções para atender diferentes necessidades operacionais. E todas mais sustentáveis que o velho motor a diesel.
A verdade é que não dá para ficar parado. Em meio a tecnologias emergentes, balas de prata e incertezas, é preciso se mover. Há, principalmente, que se criar um ecossistema capaz de fazer a roda girar, envolvendo cada vez mais setores da indústria, governo e sociedade. E aqui vale aquela máxima: sozinhos vamos mais rápidos; juntos vamos mais longe.

Tic-Tac… O tempo está correndo.

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