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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Jornada da Economia da Paixão

Da solidão à solitude rumo a cura da desconexão, escolha a sua palavra guia e ative a coleta de dados sensoriais!


6 de março de 2024 - 9h43

“A IA está nos tornando mais ou menos solitários?”;

“Qual o papel da tecnologia na cultura da solidão? E que papel ela pode ter na resolução deste problema? Como podemos nos tornar mais saudáveis construindo conexões verdadeiras? Quais ferramentas podem nos ajudar a abrir espaço para a união?”

Estas são algumas das inquietudes que aparecem nos descritivos da programação do SXSW 2024, mas não é preciso muito aprofundamento para captar o destaque da cultura da solidão nesta edição do festival: “Sinto sua falta quando você está perto de mim” é o título da participação de Jay Shetty, empreendedor e apresentador do premiado podcast “On Purpose with Jay Shetty”. A continuação do título é digno de identificação para muitos, ou pelo menos para a Geração Z – a qual mais declara sentir solidão segundo um levantamento da Insider: “Mesmo quando estamos fisicamente próximos de alguém, nos distraímos em nossos telefones e pensamentos. Nestes momentos, a presença física não se traduz em interações ou conversas significativos, resultando perda de tempo”.

A psicologia junguiana sugere o que se repete em diferentes teorias sobre polarização e dualidade: no mesmo lugar que existe a sombra, encontramos a luz. Logo, neste mesmo contexto de solidão de uma sociedade sinteticamente hiperconectada, buscamos a solitude como caminho de cura para a desconexão sistêmica que estamos sentindo na pele e que encontra remédio em conexões humanizadas, autênticas e profundas.

A solitude é o sentimento de aproveitar a própria companhia, sem se sentir sozinho, ainda que esteja. É uma manifestação da autoconexão, partindo de questionamentos que favorecem jornadas de evolução contínua, outro tópico que aparece na programação. Paul Barnett, CEO da “Now What, The Creative Question Company”, justificará como a curiosidade é contagiante, enquanto na apresentação de “Supercommunicators” novo livro de Charles Duhigg, também autor do best seller “O Poder do Hábito”, será analisado como pessoas que fazem as melhores perguntas e escutam o que não está sendo dito são as mais capazes de se conectar com outras.

Barnett e Duhigg ajudam a fazer não parecer irônico propor a autoconexão em um festival que reúne pessoas em busca da conexão com o externo, trazendo à tona o fato de que buscar a conexão consigo é justamente a chave para a qualidade das conexões com o outro. Através do protagonismo nutrimos e somos nutridos pelo pertencimento, nos conectando em comunidades que favorecem experiências, aprendizados e insights. Esta é a lógica da metodologia da economia da paixão, uma das economias regenerativas que aplico nas jornadas de evolução de pessoas e inovação de organizações.

Como a palavra “regeneração” sugere, as novas economias, como a economia da paixão, resgatam as raízes do funcionamento da própria natureza para que nossa economia, o que traduzo como “estilo de vida”, esteja orientada para a vida – e não para a produtividade, como no padrão vigente. Não somente viver mais, mas viver melhor, também está entre os principais assuntos do SXSW que esbarram em diálogos que evitamos, como por exemplo, a morte, tão invisível na nossa rotina como é ilusório o fim dos produtos e embalagens que produzimos em cadeias lineares e descartamos no lixo após “consumidos”.

A transição de cadeias lineares para cadeias regenerativas é um imperativo de sobrevivência, como o autor Doug Fine apresentará afirmando que “para que a Terra permaneça habitável para o ser humano, uma área do tamanho da América do Norte precisaria ser convertida imediatamente para modelos regenerativos”. Os líderes da 5th World Land Regeneration Consulting, Rob Avis e Marc Ziade, também navegarão nesta trilha e introduzem que “segundo especialistas, utilizando as atuais técnicas de agricultura extrativista, restam no mundo apenas 60 colheitas”.

Esta condição de definhamento do ambiente que vivemos, o planeta Terra, é a mesma condição de ameaça da vida humana que nos mantém em estado de alerta estimulando gatilhos constantes para as crises de saúde mental e geral. Todos estamos adoecendo, não à toa, há anos o bem-estar ganha holofotes e neste SXSW 2024 teremos a oportunidade de compreender como esta é uma indústria transversal e dominante. Por sinal, a Economia do Cuidado também é uma das economias regenerativas e o cuidado um pilar estratégico e fundamental para a sustentação da nossa evolução como espécie e de tudo aquilo que criamos, o que não deve ser esquecido em meio aos diálogos sobre a transformação de máquinas em humanos e pessoas em robôs através da digitalização de nossos corpos, emoções e comportamentos – é interessante observar como é cada vez mais tênue a linha entre talks do SXSW sobre ficção e sobre desenvolvimento científico e tecnológico, “humanoides” e afins serão muito falados.

Esbarrando em digitalização, nos aprofundamos na humanização. Diante das habilidades mais importantes para nos atentarmos considerando dados como o levantado pela IBM, que aponta que 40% dos profissionais precisarão se requalificar nos próximos 3 anos em função da IA, sem conectar muitos pontos – sendo “a arte de conectar” uma das habilidades em questão mais valiosas – chegamos no motivo pelo qual a programação do SXSW 2024 traz belos convites para o mindset regenerativo, agindo conforme a nossa natureza de SER humano, ativando a criatividade, a consciência, a intuição e a presença para a captura e análise de dados sensíveis e tangíveis – e não somente os que aparecerão de forma numérica e em slides nas telas! Por sinal, uma das apresentações introduzirá o “DataWagashi”, projeto inspirado no Wagashi, tradicional doce artesanal japonês, para tornar tangíveis os dados referentes ao clima. E, falando nela, a alimentação e sua capacidade de fomentar conexão, despertar a sensorialidade e expandir a inovação, segue em evidência.

A exploração de dados sensíveis é parte da metodologia da jornada da economia da paixão que pratico, abrindo os sentidos para a conexão com histórias e experiências promovidas também por linguagens sensoriais. De certa forma, esta foi uma prática incitada pelo sociólogo Yuval Harari há algumas edições do SXSW, quando em conversa com a atriz e neurocientista Mayim Bialik, afirmou que os nossos aprendizados existem através de histórias e experiências, partindo da condição de ser social. Este ano Mayim, reconhecida pela atuação na série The Big Bang Theory, abrirá uma conversa com Jonathan Cohen, propondo a intersecção entre a espiritualidade e a ciência no que se refere à saúde física e mental.

Certamente será curioso acompanhar a gravação deste podcast ao vivo – “podcast” é outro tema de destaque – após ouvir no SXSW 2023, Steve Grasse falando sobre marcas que se tornam virais pela magnitude de humanização que carregam, um conceito que esbarra na espiritualidade e que ele rotula “branding místico”. Com a hashtag “espiritualidade” atingindo mais de 6 bilhões de visualização no TikTok, este tema tabu está ganhando espaço e se tornando mais acessível, podendo ser lido, de forma simples, como ferramenta de conexão interna para a expansão da conexão externa.

O simples pode ser difícil, mas a complexidade do cenário de policrise que enfrentamos pode se tornar mais fácil do que parece quando “jornamos” através de dados sensíveis, escutando o que não está sendo dito e buscando mais perguntas do que respostas para aguçar o nosso poder de conexão. Estes são princípios regenerativos que podem ser experimentados de forma prática na imersão SXSW 2024 para quem acompanhará o evento presencialmente ou à distância.

Dando um passo por vez, ao fluir por diferentes assuntos e decidir em quais se aprofundar para absorver a complexidade e interconexão de todas as dimensões do festival, a principal ferramenta da jornada da economia da paixão que uso e sugiro é a palavra guia. Adote uma palavra chave como lembrete conscientes da intencionalidade da sua jornada do protagonismo ao pertencimento em comunidades. “Conexão” sempre é uma das palavras que carrego na bagagem e, aliás, se estiver se perguntando, “paixão” como estilo de vida – ou “economia” – é justamente uma referência a conexão e ao entendimento de que assim como a conexão entre as raízes das árvores sustenta florestas inteiras, o “relacionamento” garante a vida da humanidade, sendo a verdadeira moeda das economias regenerativas.

Qual palavra guiará os passos para chegar em lugares, conteúdos, pessoas, insights e aprendizados que poderá integrar para aplicar de forma prática na evolução do seu protagonismo e, consequentemente, na inovação dos seus espaços de pertencimento? Desejo a você, uma jornada desperta por conexões de qualidade, a começar pela autoconexão!

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