Como montar seu bloco de carnaval, com Cristina Naumovs

Lidia Capitani
15 de fevereiro de 2023 - 8h40

Já pensou em criar um bloco de carnaval? Para Cristina Naumovs, fundadora e consultora de criatividade e inovação da Apego Inc, bastou uma faísca de inspiração e coragem. Talvez naquele momento, ela não sabia que um projeto como aquele precisava de alguém com coragem. Mas, como uma boa brasileira que não desiste nunca, Cris criou o Bloco do Apego em 2017. Agora, em entrevista ao Women to Watch, ela dá dicas de como montar um bloco de carnaval.

Desfile do Bloco do Apego em 2020 (Crédito: Laura Wrona/Divulgação)

Saiba o que você quer

Um ponto importante é entender o que você quer fazer com esse bloco. Será banda? bateria? DJ? Você quer um bloco grande ou pequeno? Qual o seu público? Tudo isso guiará o desenvolvimento do seu bloco. “Por exemplo, eu não era a fim de ter uma bateria. Queria fazer uma festa na rua. Essa era a minha vontade. Então, o meu bloco é de discotecagem na rua”, conta.

Autorização da prefeitura

A autorização da prefeitura é fundamental. Com ela, você se assegura que as vias serão bloqueadas, além de contar com o apoio e a legalidade. “Tem gente que sai sem autorização. Não recomendo, porque você fica sem segurança pra quem tá na rua. Porque você não bloqueia a via, não tem banheiro no caminho”, explica Cris.

Junte a sua galera

Uma vez que você tem vontade, a ideia de como será seu bloco e a autorização, é hora de se unir aos seus amigos e colegas que topem participar desse “devaneio”, como Cris coloca.

Dinheiro

Nesse ponto, você poderá decidir por diferentes vias de arrecadação financeira. Seja por patrocínio de alguma marca, venda de apetrechos, crowdfunding ou até mesmo do seu próprio bolso. No primeiro ano, a Cris usou o dinheiro do próprio 13º salário para bancar o primeiro desfile.

Estrutura

A depender da sua ideia, talvez você precise alugar um trio elétrico, um caminhão ou equipamentos de som. Sem falar da decoração do seu carro, da escolha das atrações musicais e do que for necessário para garantir a diversão.

Divulgação

Use sua criatividade para caprichar na divulgação. Seja pelas redes sociais, pelo boca a boca, panfletos ou sites especializados. Esse é o momento de pensar em como atingir o seu público.

“Vamos fazer um bloco de carnaval?”

A ideia de criar um bloco de carnaval veio durante uma reunião com o time de marketing da Editora Abril, quando Cristina Naumovs era Diretora de Redação da Revista Cosmopolitan. “Ninguém me deu a menor pelota. E aí eu, enfim, brasileira, não desisto nunca”. Assim, ela mesma decidiu fazer a inscrição do bloco no site da prefeitura, em outubro de 2016.

“Na hora de colocar o nome, eu pensei que, lá atrás, nos anos 2000, tive um podcast chamado ‘Música de Apego’. Isso em 2002, na Trip. Então eu pensei: ‘quer saber, o nome será Bloco do Apego’”. Entretanto, a ideia inicial era se inscrever como pessoa física e depois passar a titularidade e mudar o nome para ser o bloco da revista.

Após dois meses, veio a autorização, mas naquele ponto ela já tinha esquecido completamente da ideia. “Quando veio a autorização, eu pensei: por que não? Vai ser legal, vai ser divertido”. Assim nasceu o Bloco do Apego, em 2017. Sem muito planejamento, apenas uma ideia, uma fundadora e amigos para ajudar. No final, o CPF e o nome continuam até hoje, na quinta edição do desfile.

Colocando o trio na rua

Naquele primeiro evento, Cris pegou o seu 13º e usou para bancar as despesas do bloco de carnaval. Ela chamou mais um amigo para discotecar, o Zé, que retornou agora na quinta edição do Apego. Já para a decoração, ela também pediu ajuda para mais duas amigas. “Eu falei com a Isabela Capeto, liguei pra ela e disse: ‘Isa, vou te fazer um pedido meio bizarro, você pode me falar não. Você toparia fazer um estandarte pro meu bloco?’. Ela disse que sim, e uns 10 dias depois chegou um estandarte pelo correio. Inclusive, é o que a gente usa até hoje”, conta.

Outra amiga, Ciça Pinheiro, hoje, Diretora de Criação da Livraria Dois Pontos, também ajudou Cris a decorar o caminhão alugado. As duas foram na Rua 25 de março, em São Paulo, e compraram todos os enfeites para o primeiro desfile. Logo às nove da manhã, estavam elas na rua, decorando o carro, conta Cris.

Desfile do Bloco do Apego de 2020 (Crédito: Laura Wrona/Divulgação)

Do bloco do Apego à Apego Inc

As coisas mudaram bastante de 2017 para 2023 no Bloco do Apego. Ao longo dos anos, o bloco foi crescendo, juntando mais amigos, novos patrocinadores, novos DJs. Inclusive, há uma festa pré-carnaval com ingressos esgotados em uma hora. O Baile do Apego aconteceu no dia 11 de fevereiro, no Clube Homs, em São Paulo. “Levamos uma grande surpresa. Achei que tivesse dado um pau no site da Sympla. Mas não, os ingressos voaram. Quando vi e percebi, falei ‘Caramba!’ Foi muito rápido, foi bizarro. Mas enfim, foi muito legal. Fiquei feliz”.

A semente do que viraria sua consultoria em inovação e criatividade começava ali naqueles carnavais. No ano de 2020, a prefeitura de São Paulo exigiu que os trios tivessem cordas de segurança. “Levamos 20 mulheres trans, da Casa Florescer, que foram trabalhar no bloco com dignidade, ganhando direito. Como deveriam ser todos os dias de trabalho para as pessoas. Pagamos para elas, sei lá, três vezes mais do que paga uma empresa de cordeiro”.

No mesmo ano, Cristina participou de um projeto para remunerar os catadores de lixo para o carnaval. Do mesmo modo, no ano seguinte, a iniciativa focou no comércio de ambulantes. “Isso tem a ver com o meu carnaval, de trazer um olhar mais sensível para o tema”, conta.

Desfile do Bloco do Apego em 2020 (Crédito: Laura Wrona/Divulgação)

Uma coincidência “cósmica”

O intuito de Cristina para o Bloco do Apego é trazer mais gente que queira fazer parte. Dessa forma, seu trabalho é para ser transversal, e não necessariamente inclusivo. “Acho que ser inclusivo é como deveria ser. Eu não deveria parar e pensar ‘ah, estou sendo inclusivo’. Ainda estamos trabalhando desse jeito, mas não deveria ser. A ideia é que mais pessoas olhem aquilo e que encontrem sentido”. É este olhar que Cris quer trazer para a comunicação das marcas, que hoje se configura no trabalho da consultoria Apego Inc.

Os dois projetos têm o mesmo nome não por coincidência. Uma vez que o primeiro desfile do bloco de carnaval teve patrocínio da Skol, quando se aproximava a data da segunda edição, Cristina entrou em contato com a Mafe Albuquerque (Maria Fernanda), na época Diretora da Skol, para discutir uma nova proposta. “Quando eu cheguei lá, ela estava conversando com o Ricardo Dias, que tinha acabado de chegar pra ser o VP de Marketing da Ambev. Ele olhou pra mim e disse: ‘queria te contratar’”, conta.

Naquele momento, Naumovs trabalhava na Mesa Company, e estava mais interessada em experimentar do que em ter um emprego numa empresa grande. Entretanto, a proposta do Ricardo envolvia o projeto de conteúdo da Draftline, em que ele queria alguém com experiência em redação. “Então, enfim, falei ‘isso aí eu sei fazer’. E foi assim. Na verdade, foi uma coincidência dessas que eu chamaria de cósmica”. Assim, começava o início da sua jornada como consultora, que depois se tornaria a Apego Inc.