A trajetória de Camila Hamaoui, presidente da W+K São Paulo
A executiva destaca como sua carreira no atendimento foi uma preparação para assumir a liderança da agência
A trajetória de Camila Hamaoui, presidente da W+K São Paulo
BuscarA executiva destaca como sua carreira no atendimento foi uma preparação para assumir a liderança da agência
Lidia Capitani
5 de maio de 2025 - 11h21
Camila Hamaoui, presidente da Wieden+Kennedy São Paulo (Crédito: Divulgação)
Apesar de nascer numa família de engenheiros, Camila Hamaoui sempre esteve conectada com seu lado criativo. Criada em São Paulo, no colégio optava por fazer as aulas seletivas relacionadas ao universo das artes, como fotografia, pintura e cerâmica. Ainda na adolescência, passou um dia numa agência de publicidade. Foi quando decidiu que aquele seria seu futuro.
Formada em publicidade, teve seu início de carreira na Fischer America, como atendimento. Apesar dos desafios da área, sentia prazer em contribuir na agência com suas habilidades de organização e gestão. Passou um breve período no planejamento, mas logo retornou ao atendimento, onde descobriu seu lugar. “Voltei para o atendimento com o apoio da minha chefe na época, Laura Chiavone, que me deu um conselho valioso: ‘É muito mais importante você ser um atendimento com visão estratégica do que um planejamento frustrado’”, lembra.
Depois da Fischer, passou por Leo Burnett e F/Nazca, que confirmaram seu desejo de atuar em agências criativas. Devido a uma mudança no trabalho do marido, eles foram para o Rio de Janeiro, onde Camila passou pela DM9. “Foi uma experiência interessante, pois saí de uma agência consolidada para uma com modelo de startup, começando no Rio”, conta. Depois, esteve na NBS, onde se tornou diretora de conta aos 27 anos, com clientes como O Boticário e Petrobras.
Em 2016, tornou-se mãe. “Com a ausência da minha rede de apoio, decidi dar uma pausa no mercado publicitário para me dedicar à maternidade”, afirma. Entretanto, aquilo não parecia ser suficiente, e logo Camila entendeu que precisava fazer algo de diferente. Com uma amiga, elas fundaram uma marca de moda praia infantil, a Pingo Praia, que existe até hoje. “Esse negócio me manteve ocupada e me deu uma perspectiva mais ampla, pois tive que lidar com todas as áreas, desde a concepção criativa até a administração financeira”, diz.
Dois anos depois, retornou à São Paulo, e com o nascimento do seu segundo filho, decidiu que era a hora de voltar ao mercado. Assim, entrou na Wieden+Kennedy como diretora de atendimento de marcas como Facebook e Nike. Em pouco tempo, foi ganhando mais contas, até assumir a posição de head de atendimento em 2023, e presidente em 2024. “Tenho muito orgulho de ter crescido dentro da agência e de agora liderá-la. A Wieden é uma das agências que sempre admirei, e é um privilégio fazer parte dessa história”, reforça.
Para Camila Hamaoui, o atendimento tem um papel fundamental na gestão de uma agência. “Você precisa saber reconhecer um bom trabalho criativo, ter boas relações interpessoais, e também habilidades de gestão de prazos e orçamentos”, afirma. Além disso, na sua visão, o atendimento atua como um filtro entre o cliente e a agência, ajudando a montar uma campanha que ao mesmo tempo é criativa, sem perder de vista o objetivo.
“Muitas vezes, trabalhamos com marcas que querem ser inovadoras e disruptivas, mas enfrentam limitações de orçamento ou políticas de marca”, reflete. Isso faz com que profissionais de atendimento acumulem bagagem para lidar com as mais diversas situações e problemas. Esse conjunto de habilidades que ela adquiriu como atendimento estão sendo essenciais em seu papel como presidente. “Isso inclui tanto a gestão do negócio quanto a gestão de pessoas, que talvez seja a parte mais difícil, mas, pessoalmente, é uma das que mais gosto”, revela.
Mesmo sendo um grande desafio, a liderança de Camila é movida pelas pessoas ao seu redor. Para a líder, a colaboração é a chave para o crescimento profissional de seus subordinados. E, por ter crescido dentro da agência, as pessoas que hoje reportam para ela eram seus pares no passado, o que possibilita uma relação mais próxima e facilita a transição.
“Entendo, hoje, o peso da minha responsabilidade em dar direcionamento, algo que antes eu fazia de forma mais colaborativa. E o atendimento me ajudou bastante nesse sentido. O atendimento lidera os times, as restrições de orçamento e como levar ideias para os clientes. Essa experiência contribuiu muito para a minha abordagem de liderança”, reflete.
Camila assumiu a presidência da Wieden+Kennedy São Paulo em setembro de 2024 e, apesar de ser uma grande responsabilidade, ela se preparou muito para o momento. “Tive o benefício de contar com um mentor incrível, o André Gustavo, que hoje é o nosso COO global. Ele foi meu chefe na F/Nazca e, apesar de seguirmos caminhos diferentes, ele sempre foi um mentor na minha vida”, afirma Hamaoui. André Gustavo é o ex-presidente da Wieden+Kennedy São Paulo, e, durante sua gestão, deu suporte à Camila, que viria a assumir a posição.
“Esses primeiros meses foram ótimos, porque não senti que estava ocupando um lugar totalmente novo. Foi uma transição muito natural. Aos poucos, fui compreendendo o tamanho da responsabilidade e também comecei a imprimir meu próprio estilo de liderança”, destaca.
No cenário atual da publicidade nacional, marcado por aquisições e fusões entre agências, Camila Hamaoui celebra o DNA independente que a Wieden+Kennedy carrega desde o princípio. “É um privilégio trabalhar em uma agência independente, que existe há 43 anos e é fiel aos seus valores. A Wieden tem uma estrutura sólida, com um trust que garante que a agência nunca será vendida, o que nos dá uma grande sensação de segurança e propósito”, pontua.
Para a presidente, a independência reflete uma clareza sobre a identidade da agência, sobre o tipo de trabalho que fazem e até sobre os clientes com quem querem trabalhar. Além disso, ela destaca a flexibilidade e agilidade para tomar decisões como uma das vantagens do modelo, que, muitas vezes, contrasta com o fluxo de uma agência de grande grupo.
Mesmo com esses pontos positivos, Camila enxerga que tanto agências independentes quanto aquelas de grandes grupos enfrentam os mesmos desafios. Para ela, vivemos um momento em que a comunicação está cada vez mais complexa, e realizar uma campanha com apenas um filme não é mais suficiente como há dez anos, e a remuneração e os orçamentos não acompanharam essa complexidade. “Manter-se relevante no mercado, continuar mostrando aos clientes a importância de uma comunicação eficiente para seus negócios, e ainda garantir a saúde financeira da agência, entregando trabalhos dessa magnitude em um cenário cada vez mais competitivo, é um grande desafio”, reflete.
Uma mulher no comando de uma agência criativa não é mais uma novidade. Camila Hamaoui assume a presidência numa época em que outras mulheres também estão desbravando esse terreno. “Quando olho para o lado, é ótimo chegar nesse lugar e não me sentir sozinha, porque vejo mulheres que admiro muito na liderança de agências e também como CMOs e CEOs de grandes clientes”, afirma.
“Para citar algumas, temos a Carol Boccia na Havas, a Karina na VML e a Renata Bokel na McCann. São mulheres que admiro muito, com quem já me relacionei ao longo da minha carreira e que estão fazendo um trabalho exemplar. O mais legal de estarmos vivendo esse momento é que há um certo acolhimento entre nós. Temos a consciência dos desafios que enfrentamos para chegar até aqui, que não foram fáceis, mas sentimos uma confiança mútua, sabendo que damos conta do negócio. Sabemos exatamente o que estamos fazendo e ocupamos um espaço que é nosso por direito”, complementa Camila.
Apesar de liderar uma grande agência, para Camila, seu maior sucesso foi ter construído sua família. “Estou com meu marido há 25 anos, desde a escola, e conseguir equilibrar isso com a realização profissional é o que considero meu maior êxito. Para mim, essas duas coisas caminham juntas. Consegui realizar meu sonho de ser mãe e construir minha família enquanto perseguia minha paixão pela profissão que escolhi. Isso, sem dúvida, é o meu maior sucesso”, reflete.
Esse caminho, entretanto, também foi marcado por adversidades, mas a líder prefere sempre enxergar o copo meio cheio. “Acho que o maior desafio está relacionado ao meu maior sucesso, que é equilibrar minha vida como empreendedora, executiva e mãe”, pontua. A solução para ela está em entender que nunca conseguirá dar seu 100% em tudo ao mesmo tempo.
“Há dias em que sou mais executiva e menos mãe, e outros em que sou mais mãe e menos executiva. Essa ideia de que mulheres podem dar conta de tudo é uma ilusão. E, sem dúvida, o maior desafio é como dar conta de tantos papéis sendo gentil comigo mesma”, afirma. “Muitas vezes, as mulheres se cobram demais e caem na armadilha de se autoacusarem, achando que não estão sendo boas o suficiente, seja como mães, executivas ou empreendedoras. Acredito que devemos encontrar realização em diferentes funções, sabendo que nem tudo será perfeito e que não podemos controlar tudo”, conclui.
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