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Executivas apostam na influência como estratégia de negócio

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Executivas apostam na influência como estratégia de negócio

Líderes corporativas têm se tornado influenciadoras, redefinindo o papel da liderança na comunicação das marcas nas redes sociais


8 de maio de 2025 - 15h53

(Crédito: Shutterstock)

Há muitos exemplos de mulheres influenciadoras digitais que criaram seu próprio negócio e viraram empresárias. Bianca Andrade (Boca Rosa) e Virgínia Fonseca são algumas delas. Porém, com a proliferação e o crescimento das redes sociais, o movimento inverso também tem sido cada vez mais comum: executivas que viraram influenciadoras digitais. Elas não apenas representam as companhias das quais são líderes, mas também construíram uma marca pessoal própria.

Ana Fontes, fundadora e CEO da Rede Mulher Empreendedora (RME), é uma das que construiu seu empreendimento ao mesmo tempo em que consolidava sua imagem pessoal. “Comecei a produzir conteúdo por volta de 2011, quando lancei o blog que viria se tornar a Rede Mulher Empreendedora, em que compartilhava dicas para ajudar mulheres a empreender. No mesmo ano, com a chegada do Facebook, comecei a criar conteúdo para a plataforma. Depois, criei um grupo para que essas mulheres pudessem se reunir, trocar experiências e se apoiar mutuamente”, conta. Hoje, o blog se transformou em negócio, e Ana cresceu como influenciadora, com 122 mil seguidores no Instagram e 89 mil no LinkedIn.

“Meus conteúdos no Instagram e no LinkedIn são sempre educativos e informativos, com o objetivo de trazer algum benefício para o dia a dia das mulheres, especialmente das empreendedoras. Compartilho dicas, divulgo programas com inscrições abertas, relato vivências do meu cotidiano e dou orientações práticas, como, por exemplo, sobre precificação de produtos e serviços ou desenvolvimento de carreira. Meu objetivo é produzir um conteúdo que tenha valor, que seja inspiracional e que ajude no desenvolvimento das pessoas”, afirma Ana Fontes.

Para Sissi Freeman, diretora de marketing & vendas da Granado com 12,8 mil seguidores no Instagram, a produção de conteúdo online era, inicialmente, um passatempo. “Comecei a produzir conteúdo há muitos anos, justamente depois de ter filhos. Minha ideia era montar um álbum nas redes sociais com meus registros. Adoro tirar fotos e fazer vídeos, mas não postava. Quando resolvi publicar, foi o maior sucesso”, lembra. Em suas redes, ela mescla um pouco da sua vida pessoal, com fotos da família e viagens, e conteúdo sobre seu trabalho, incluindo lançamentos de produtos da Granado e bastidores das fábricas, por exemplo.

Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado (Crédito: Divulgação)

Outra executiva que se tornou influenciadora digital foi Ju Ferraz, sócia-diretora da Holding Clube, que tem 183 mil seguidores no Instagram. Entretanto, diferente de Ana Fontes e Sissi, Ju passou a produzir conteúdo online impulsionada por um momento delicado que enfrentou. “Comecei em 2018, logo após ser diagnosticada com burnout. Na época, a doença não era tão conhecida como hoje, e me senti muito sozinha. Foi nesse momento que pensei que poderia ajudar pessoas que pudessem estar passando por isso e não sabiam do que se tratava”, conta. Para além do Instagram, ela também está no LinkedIn, onde tem quase 15 mil seguidores, no TikTok (38 mil), no Threads e no YouTube, onde publica o #JuFerrazCast.

Ju Ferraz transita entre diferentes temas em todas as suas redes sociais. “Hoje, meus perfis são um mix de conteúdos com um tom mais informativo de interesse geral, pautas sociais e relacionadas à vivência da mulher, moda, beleza, cultura, decoração, música, projetos, entre outros recortes. Além de tudo, também gosto de mostrar meu cotidiano, minha vida real e momentos felizes ao lado da minha família e das amigas, seja no dia a dia ou em viagens. Gosto de contar essas duas histórias, e como elas se conectam de alguma forma durante a minha rotina”, afirma.

Karla Felmanas, VP da Cimed, é outra executiva que tem grande relevância online como influenciadora digital. Apenas no Instagram, tem 1,7 milhões de seguidores. No LinkedIn, são mais 94 mil e, no TikTok, 1,8 milhões. A líder começou a se dedicar às redes sociais em 2021, quando foi eleita Mulher de Sucesso pela Forbes no mesmo ano. O passo foi estrategicamente calculado, tanto na família quanto no trabalho. Houve uma conversa em casa, com sua família, sobre a exposição que teria nas redes sociais e tudo foi acordado. Seu conteúdo mistura momentos pessoais e viagens com os bastidores de eventos e das fábricas da Cimed.

Karla Felmanas, VP da Cimed (Crédito: Divulgação)

O crescimento foi rápido e muito impulsionado pelos conteúdos no TikTok, principalmente após o lançamento do Carmed Fini, hidratante labial que é um dos carros-chefes da Cimed em parceria com a Fini, marca de guloseimas. “A gente só conseguiu alcançar o número de faturamento que alcançamos pelo trabalho que realizamos no nosso TikTok”, conta Karla. O lançamento aconteceu no início de 2023 e viralizou nas redes sociais antes mesmo de chegar às lojas. O resultado foi um sucesso, com esgotamento dos estoques e grande faturamento. Em 2023, a Cimed faturou R$ 400 milhões somente com os produtos Carmed, com uma alta de 1.566% em relação aos R$ 24 milhões registrados no ano anterior.

Produção de conteúdo como ativo de marca

Para Sandra Chayo, sócia-diretora do Grupo Hope, a produção de conteúdo digital se tornou uma forma de fortalecer a imagem da marca. “Sempre fui uma pessoa tímida e reservada, mas ao longo do tempo entendi a importância de construir minha presença nas redes sociais para fortalecer a imagem e o posicionamento do Grupo Hope. Meu pai, Nissim Hara, fundador da marca, sempre foi muito admirado por funcionários, clientes e parceiros, e dar continuidade ao seu legado tornou-se uma missão”, afirma.

Sandra Chayo divide suas redes entre os conteúdos pessoais e de trabalho. Enquanto no LinkedIn publica temas relacionados à gestão, o TikTok e o Instagram são reservados aos conteúdos mais pessoais e leves. “A comunicação nessas redes é mais próxima e interativa: compartilho momentos do meu estilo de vida e vivências pessoais além do ambiente profissional, abordando temas como negócios e empreendedorismo de maneira leve e acessível”, conta. Atualmente, a executiva tem 132 mil seguidores no Instagram, 23 mil no LinkedIn e um podcast chamado Papo Íntimo, no qual entrevista outros executivos e lideranças.

Sandra Chayo, sócia-diretora do Grupo HOPE (Crédito: Divulgação)

De certa forma, as redes sociais se tornaram um cartão de visita para as pessoas no mundo digital, principalmente para grandes lideranças. “As redes sociais assumiram esse papel de espaços para compartilhar não só a vida pública, como também a profissional. Os seguidores amam ver os projetos que toco como executiva da Holding Clube, e quando se trata de ativações de marca, principalmente em festivais, eles querem visitar. Às vezes, até encontro alguns”, destaca Ju Ferraz.

Hoje, as barreiras que diferenciam uma marca das pessoas que estão à frente dela estão cada vez menos evidentes. “Quando vejo um executivo se posicionando, compartilhando sua visão de mundo, expressando suas ideias, isso, para mim, adiciona valor à marca porque sinto mais transparência e proximidade”, reflete Ana Fontes. “Por isso, acredito que é cada vez mais essencial que essas pessoas estejam visíveis, abertas ao diálogo e dispostas a construir uma relação de proximidade com seu público”, continua.

Esse movimento também contribui para a humanização das empresas. “Percebi que o engajamento ficava maior quando eu mostrava curiosidades, viagens, backstage da fábrica, eventos. A ideia é humanizar a marca, mostrar quem está por trás, quem são as pessoas que participam das criações e divulgar o que a gente faz”, complementa Sissi.

Dessa forma, as redes se tornaram um espaço de contato direto entre marca ou liderança e clientes ou franqueados. Para Zica Assis, fundadora do Instituto Beleza Natural, as redes possibilitaram que ela compreendesse melhor quem era seu público e até o quão diverso ele era. “Percebi que consigo me comunicar com um público muito amplo: mulheres mais maduras como eu, pessoas com cabelos cacheados e crespos, empreendedoras, empresárias e, claro, as clientes do Beleza Natural”, responde. Hoje, Zica reúne quase 90 mil seguidores no Instagram, em seu perfil pessoal, além dos 509 mil do Instituto Beleza Natural na plataforma. 

Zica Assis, fundadora do Instituto Beleza Natural (Crédito: Divulgação)

Para Karla Felmanas, as redes sociais se tornaram um canal de contato direto com o público. “Quando vou lançar um produto novo, faço a pesquisa direto no meu próprio Instagram. As pessoas respondem e eu consigo entender o que elas esperam e o porquê”, afirma. A executiva também destaca a proximidade que tem com os consumidores de seus produtos, e como as redes sociais criam uma sensação de pertencimento.

Mesmo sendo tímida, a sócia-diretora do Grupo Hope logo percebeu o efeito positivo de manter uma comunicação mais direta com seus clientes e franqueados por meio das redes sociais. “Muitas lideranças compartilham a história por trás de suas marcas, seja na criação de um negócio do zero ou na inovação de produtos já existentes. E é exatamente nas redes sociais que conseguimos criar uma conexão verdadeira com o público, trazendo um lado mais pessoal e humano, além de compartilhar nossos valores, missão e toda a experiência que construímos ao longo da nossa trajetória”, aponta Sandra. “Essa interação e escuta ativa não só fortalecem a credibilidade dos nossos negócios, mas também nos ajudam a evoluir de forma mais alinhada e assertiva”, complementa Chayo.

Autenticidade, responsabilidade e dedicação

Autenticidade virou a palavra da vez para quem produz conteúdo digital nas redes sociais. O conteúdo autêntico é aquele que reflete a essência de quem o produz. “O primeiro desafio é se conectar de verdade com o público e abrir espaço para uma conversa real, de troca. O segundo é mostrar a realidade e não um mundo perfeito, irreal. É preciso ser você mesma”, reflete Zica. Isso também significa ser capaz de mostrar suas vulnerabilidades, desafios e inseguranças. 

Além disso, Ju Ferraz destaca a importância de não se render às trends. “É preciso seguir uma linha própria e que gere identificação, pois boa parte das pessoas que te seguem querem fazer parte do mercado onde você atua, querem tirar seu negócio ou projeto do papel assim como você fez. Então, devemos conversar quase que de igual para igual”, pontua.

Ju Ferraz, sócia-diretora da Holding Clube (Crédito: Leca Novo)

Antes de tudo é preciso entender com quem você irá se comunicar. “Quando conseguimos identificar nosso público, fica muito mais fácil encontrar a linguagem certa e criar uma comunicação que flua de forma natural e verdadeira”, afirma Sandra. “Também é importante olhar para dentro e refletir sobre o que queremos conquistar: aumentar a visibilidade, fortalecer nossa autoridade ou inspirar pessoas”, complementa.

Dedicação é outro ponto de destaque para quem produz conteúdo online. Enquanto Sissi Freeman gerencia e produz conteúdo para suas próprias redes, há aquelas que contam com o apoio de uma equipe, como é o caso de Zica Assis. “Junto com minha equipe, desenvolvo um trabalho estratégico para que meu Instagram tenha conteúdo pensado, planejado. Nada ali é por acaso”, diz. O que nos leva ao terceiro conselho de Zica: “oferecer um conteúdo de qualidade, que agregue algo à vida de quem te segue. Tem que inspirar, ensinar, provocar reflexão. Não pode ser só uma vitrine publicitária, seja da sua imagem ou da sua empresa”, reforça. 

Ana Fontes, fundadora e CEO da Rede Mulher Empreendedora (Crédito: Ana Paula Silva_Anapê)

Para Ana Fontes, o primeiro passo é começar. “E comece falando sobre aquilo que domina. Se você é CEO, pode compartilhar sua rotina, os bastidores da empresa, ou temas ligados à companhia ou marca que está à frente”, diz. Já o segundo passo é ter constância. “Não adianta fazer uma publicação hoje e só voltar três meses depois. É necessário ter frequência, disciplina e uma interlocução contínua com o público”, complementa. Ela também reforça que, apesar de existirem várias redes sociais, você não precisa estar em todas. “Hoje existe um desespero para marcar presença em todas as plataformas. Há, por exemplo, executivos que estão apenas no LinkedIn e não utilizam o Instagram de forma profissional, e está tudo bem.”

Como todo e qualquer líder sabe, construir e manter uma reputação online é um desafio e uma grande responsabilidade. “É importante ter cuidado com o que se publica, com o que se mostra. Isso não é para gerar medo nas lideranças, mas, sim, reforçar a importância de estar presente de forma estratégica: com consistência, relevância e coerência, para que as pessoas compreendam, de fato, a mensagem que você quer passar”, adiciona a CEO da RME.

“Eu tenho que ter responsabilidade, pois qualquer posicionamento que eu faça pode impactar a própria companhia. E, se a Cimed tiver qualquer problema, com certeza também irá impactar diretamente minhas redes sociais. Hoje em dia, as pessoas cobram posicionamento, principalmente nas redes. Então, tenho uma grande responsabilidade com meus posicionamentos”, reflete Karla Felmanas.

“Para finalizar, acredito que a rede social é um canal, um espaço extremamente positivo que nos permite chegar a mais pessoas. Mas, além de positivo, é também um lugar de muita responsabilidade. Como o próprio nome sugere, hoje, existem milhares de influenciadores, e é importante entendermos a responsabilidade que a nossa voz carrega nas redes sociais”, conclui Ana Fontes.

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