Dandara Pagu: O pessoal é político
Erguer a voz talvez não tenha sido um problema ao longo da vida para a ativista, produtora cultural e de conteúdo, mas se conscientizar lhe deu a firmeza que o mundo está o tempo todo tentando tirar
Erguer a voz talvez não tenha sido um problema ao longo da vida para a ativista, produtora cultural e de conteúdo, mas se conscientizar lhe deu a firmeza que o mundo está o tempo todo tentando tirar
5 de outubro de 2022 - 10h21
Por Carol Scorce
“Enfrentar o medo de se manifestar e, com coragem, confrontar o poder, continua a ser uma agenda vital para todas as mulheres.” Essa frase é do livro “Erguer a Voz”, da escritora feminista e anti-racista norte-americana Bell Hooks. Erguer a voz talvez não tenha sido um problema ao longo da vida para a ativista, produtora cultural e de conteúdo Dandara Pagu. Mas se conscientizar com as ideias de Hooks lhe deu a firmeza que o mundo está o tempo todo tentando tirar.
“Eu sou uma mulher negra, nordestina, bissexual, de uma família pobre, que nunca teve medo de falar o que pensa, e isso choca. As pessoas esperam que uma mulher com as minhas características não tenha essa coragem. A Bell fala isso no livro, que vão esperar o nosso silêncio. Então, eu vou lá e falo”, conta a produtora cultural, que em 2021 foi escolhida pelo Twitter para estampar a foto de capa do Clubhouse, plataforma de áudio para salas e debates coletivos.
E a estratégia para ser notada ali foi justamente levantar a voz. Dandara conta que com a pandemia, todos os contratos de shows e eventos que estava produzindo foram interrompidos; foi quando ela caiu no Clubhouse, e passou e mediar debates sobre questões raciais, gênero e outros temas de forma voluntária. “A plataforma era nova e tinha muita gente famosa ali. Boninho, Luciano Huck, uma galera que se eu tentasse acessar no Instagram jamais conseguiria. Então eu passei a dizer coisas que me ajudassem a ser notada, e que no geral têm a ver com tudo aquilo que esperam que a gente não fale.”
Nas redes hoje, Dandara fala muito sobre moda e beleza pela perspectiva do corpo negro e gordo, rompendo com o padrão das campanhas publicitárias com mulheres altas, magras e brancas. Beleza não foi um caminho natural. Na infância e adolescência, era muito ligada à maquiagem e cosméticos, conta. Filha mais velha de doze irmãos, ela tampouco tinha condições de ter muitos produtos em casa. “Foi na vida adulta, depois que eu já tinha refletido, discutido e estudado muito sobre questão racial que eu comecei e dizer pra mim mesma: pô, se arrumar é legal. Eu quero andar bem vestida e maquiada, sim. Eu posso e é legal.”
Nativa do Recife, em Pernambuco, Dandara não teve a figura dos pais como presença. Ela atribuiu aos avós, em especial ao avô, e aos professores da escola a força e educação que recebeu para poder moldar sua história até aqui. “Tenho muitos amigos, mas sempre vivi meio só. Tinha de correr atrás do meu e fazer dar certo. Minha sorte é que eu sempre gostei muito de me comunicar, e conversar com as pessoas, de ser compreendida, e é isso que tem me feito chegar onde eu estou”, conta.
E Dandara está em muitos lugares. Hoje lidera projetos com diversas marcas, entre elas o Itaú, junto de um coletivo de criadores de conteúdo e embaixadores. Nesses espaços tenta, além de cuidar de si e da sua carreira, gerar impacto. “Eu nasci com uma cara de pau bem grande, e tenho consciência que enquanto estou ascendendo, tem muita gente como eu que está morrendo. Eu não quero morrer; não quero ser mártir. Sou uma mulher preta e preciso me resguardar, mas no trabalho com as marcas, aonde eu vou, digo o que eu penso. Uma das coisas que eu mais tenho dito para as marcas é que é preciso colocar as pessoas pretas que estão ali para encenar o comercial, para falarem. Contar a história delas e o que elas pensam sobre as coisas.”
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