Influenciadoras usam força digital pela manutenção do planeta
Criadoras de diferentes regiões, origens sociais e etnias veem influência como ferramenta para falar sobre pautas de sustentabilidade
Influenciadoras usam força digital pela manutenção do planeta
BuscarCriadoras de diferentes regiões, origens sociais e etnias veem influência como ferramenta para falar sobre pautas de sustentabilidade
22 de maio de 2025 - 13h33
Por Dimalice Nunes
Os efeitos do aquecimento global atingem a todos, mas não da mesma forma. Então, nada mais justo do que as vozes defensoras do avanço da agenda ambiental sejam diversas. E mais: que sejam amplificadas na mesma medida em que representam aqueles que mais sofrem com o caos climático e a destruição da biodiversidade. Dos centros urbanos ou da floresta, dos bairros nobres ou da periferia, em comum elas têm a indignação e levam para as redes, mas também para o mundo real, a força de seus discursos.
“As influenciadoras das regiões Norte e Nordeste têm desempenhado um papel fundamental na descentralização do discurso climático”, afirma Ira Maragua, criadora de conteúdo da etnia Baré, que vive em São Gabriel da Cachoeira (AM), a 852 quilômetros de Manaus. “Estamos ressignificando quem tem voz no debate ambiental. Não são mais apenas técnicos e representantes institucionais, mas também quem vive na linha de frente das mudanças climáticas”, completa.
Para ela, ao levar para redes as vivências territoriais, sua cosmovisão e o pertencimento cultural, é possível formar opinião a partir de um lugar legítimo e, ao mesmo tempo, crítico. “Questionamos o protagonismo historicamente branco, urbano e masculino, e mostramos que o conhecimento tradicional e comunitário também é ciência”, defende.
Ira Maragua, criadora de conteúdo da etnia Baré, no Amazonas: “As influenciadoras das regiões Norte e Nordeste têm desempenhado um papel fundamental na descentralização do discurso climático” (Crédito: Secom)
O ato de descentralizar visões não reside apenas na floresta, pode estar nas franjas dos grandes centros. A ativista climática Amanda Costa é fundadora do Perifa Sustentável. Vive na Brasilândia, zona norte de São Paulo, e usa as redes como uma extensão de sua atuação política. “Compartilho desde o que está rolando nas conferências da ONU até o que significa ficar parada no trânsito da Brasilândia quando chove. Acredito que comunicação é poder, e quanto mais acessível e enraizada for, mais chance de conscientizar e mobilizar. Parte da minha missão é democratizar o debate, fazer pontes e ser parte da mudança”, afirma.
“É fundamental que as vozes dos territórios falem pelos territórios”, completa Kamila Camilo, fundadora da Creators Academy, uma experiência de imersão voltada para criadores de conteúdo adquirirem conhecimento sobre a Amazônia. “Claro que é possível ter aliados, mas sem vozes locais o discurso pode ficar vazio”, pondera.
Amanda Costa, fundadora do Perifa Sustentável: “Comunicação é poder, e quanto mais acessível e enraizada for, mais chance de conscientizar e mobilizar” (Crédito: Divulgação)
A Menos 1 Lixo nasceu há dez anos, quando o debate climático ainda engatinhava nas redes, mas a sua criadora, Fê Cortez, já tinha um objetivo em mente: levar conscientização ambiental de forma acessível para o maior número possível de pessoas. “Quando fui impactada pela questão do plástico nos oceanos, em 2012, entendi que poderia usar o mesmo mecanismo de criar conteúdo para marcas venderem coisas para disseminar informação relevante”, lembra.
Para ela, é uma questão de responsabilidade usar sua influência para o que realmente importa, sempre guiada pela coerência entre o que é exposto e as escolhas que faz em sua própria vida. Ira também tem na coerência o ponto de partida para uma influência genuína. “O segredo é coerência com quem eu sou: uma mulher indígena, amazônica, digital e politizada”, afirma.
“Estamos usando as ferramentas do próprio sistema para subvertê-lo”, define Ira sobre sua presença nas redes. “Tornar o debate climático ‘instagramável’ não significa superficializar o conteúdo, mas, sim, traduzir temas complexos para uma linguagem que dialogue com o público”, afirma. Amanda concorda. “Não é superficializar, é democratizar. A gente transforma dor em potência e usa as redes sociais como trincheiras de luta e afeto.”
“É fundamental que as vozes dos territórios falem pelos territórios”, diz Kamila Camilo, fundadora da Creators Academy (Crédito: Edgar Azevedo/Divulgação)
Incorporando elementos visuais da estética ancestral e storytelling a dados, relatórios e marcos teóricos, Ira tem como resultado uma comunicação acolhedora, sensível e politizada, onde conscientização e criação de conteúdo caminham juntas. “O espaço foi conquistado com conteúdo de alta qualidade, inclusive técnica”, avalia Kamila.
A presença de influenciadoras indígenas em campanhas publicitárias ou processos de formulação de políticas públicas é um avanço importante, mas precisa ser acompanhada de escuta ativa e protagonismo real, defende Ira. “Não basta nos convidar para compor a imagem, é preciso que nossas pautas estejam no centro”, afirma. “Quando a representatividade é estratégica e não apenas simbólica, ela transforma estruturas”, completa.
Na mesma linha, Amanda diz que, embora essenciais, a diversidade de vozes ainda é subaproveitada. Segundo ela, a periferia tem conhecimento, repertório e soluções. “Quando uma marca ou uma política pública inclui uma influenciadora periférica, não pode ser só para preencher cota ou gerar engajamento. Representatividade real é quando há espaço para criação, tomada de decisão e, principalmente, remuneração justa”, completa Amanda. “Essas vozes precisam estar nos espaços não apenas visualmente. Para transformar essa representatividade em algo legítimo, essas pessoas precisam ser cocriadoras da mensagem que será disseminada”, finaliza Kamila.
Compartilhe
Veja também
Como as empresas estão medindo práticas ESG?
Algumas lideranças, especialmente mulheres, não só consideram a sustentabilidade crucial para a perenidade dos negócios, como já a traduzem em dados
Livro Mulheres Negras no Conselho celebra 5 anos do Conselheira 101
Obra inédita retrata histórias de mulheres que romperam barreiras no mercado e em suas trajetórias profissionais