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Nós normalizamos os “washing” e já vivemos os impactos

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Opinião

Nós normalizamos os “washing” e já vivemos os impactos

É necessário entender o cenário, reconhecer os processos normalizados com washing e agir rapidamente


10 de agosto de 2023 - 12h42

(Crédito: Krasula/Shutterstock)

Sim, normalizamos o “washing” em nossa rotina corporativa em diferentes níveis com impactos relevantes. E não está tudo bem. A triste notícia é que os impactos desta normalização já são sentindo atualmente e só irão ser potencializados se não pararmos, admitirmos que estamos em uma zona de conforto que um bonito designer de um relatório de sustentabilidade pode nos proporcionar versus a realidade que nossos stakeholders vivenciam em seu dia a dia. E se você é um líder ou ocupa uma posição de tomador de decisão, sugiro que faça esta reflexão com o máximo de urgência possível.  

Se existem 3 “washing” mais falados que o meme “attenzione pickpocket” atualmente, não tenho dúvida nenhuma que são o Greenwashing, Diversitywashing e Socialwashing. Palestrantes e eventos adoram incluir estes “washing” em seus conteúdos, mesmo sem perceber que 90% destes eventos são estruturados justamente executando os processos envolvendo os 3 washing mais amados. Um belo exemplo de que normalizamos o que não poderia ser normalizado… 

Comecei a notar uma demanda de novos washing sendo propagados por aí, como Compliance washing, HR washing e Corporate washing, mas de forma geral, a minha análise de riscos sobre este tema não é somente sobre um específico washing, mas sim como as empresas não estão entendendo o quanto eles são perigosos e os impactos que eles vêm causando nos processos, produtos e principalmente nos colaboradores. O que tenho neste momento é uma certeza: mais cedo ou mais tarde você sofrerá, se ainda não tiver sofrido, os impactos de não dizermos o óbvio: falamos demais e agimos de menos. E por que não agimos mais? Porque agir para acabar com os washing requer abrir mão de privilégios e status sociais e econômicos e para as pessoas que constroem e mantêm o sistema em funcionamento. E, em 2023, isso é inaceitável.  


Exemplos dos impactos desta normalização são narrados em roda de conversa, jantares, grupos de whatsapp, redes sociais profissionais com uma recorrência jamais vista e envelopadas em desculpas corporativas sem admitir que são washing, como:  

  •  O CNPJ que ganha prêmios como empresa com o maior número de mulheres em liderança e normaliza o desligamento 1 dia após o término do período de estabilidade da licença maternidade com a justificativa de “reestruturação” ou “performance”? Washing;
  • O CNPJ que apoia a diversidade racial de forma pública, mas é patrocinador de grandes eventos para discutir temas como futuro da educação no país ou integridade e não tem palestrantes negros em seu pipeline? Washing;
  • O CNPJ que monta uma estrutura exemplar para canais de denúncia ou processos refinados para investigações internas e a equipe destas áreas não tem diversidade (pessoas, áreas e expertises)? Washing;
  • O CNPJ que cria uma campanha de marketing incrível, ganhadora de prêmios nacionais e internacionais e centraliza o crédito somente na liderança do projeto, que foi criado através de um ecossistema complexo e exaustivo de times, prestadores e colaboradores operacionais? Washing;
  • O CNPJ que acha que o ambiente de segurança psicológica dos seus colaboradores é composto por benefícios em academia, plano de saúde com direito a quarto, folgas em emendas de feriados ou aderência a causas sociais, mas suporta e mantém entre os seus principais líderes, representantes da liderança tóxica e incoerente? Washing. 

Estes são alguns dos exemplos baseados em relatos pessoais, indicadores de pesquisas, e inclusive, eu já vivi alguns deles. Para quem ainda está incrédulo sobre os impactos dos washing, recomendo verificar os indicadores de saída voluntária ou calcular o número de atestados médicos ligados a doenças como depressão e burnout. Não é à toa que o ministério da saúde define burnout como síndrome do esgotamento profissional e, com isso, nomeia o principal impacto da normalização dos washing: ESGOTAMENTO. 

Clientes estão abandonando as marcas porque estão ESGOTADOS de serem enganados; Colaboradores estão ESGOTADOS de tentar colocar boas práticas ligadas a  ética, integridade e responsabilidade social sem sucesso; CEO e  C-leves estão ESGOTADOS de receberem relatórios de sustentabilidade ou de auditorias com mais do mesmo ou com foco unicamente financeiro (eu sei que não são a maioria, infelizmente, mas temos uma porção relevante pensando desta forma). 

Fornecedores estão ESGOTADOS de tentar negociar os seus pagamentos em prazos menores de 120 dias para conseguir manter os seus negócios (principalmente os fornecedores e prestadores de serviços representantes dos pilares de diversidade ou PME). Estamos em sua maioria #ESGOTADOS.  

O que fazer para mudar: entender o cenário, reconhecer os processos normalizados com washing das nossas empresas e agir rapidamente. Programas como Lideranças Virtuosas, da Virtuous Company e universidades como Singularity University são boas fontes para ajudar na desconstrução desta normalização em tempo ainda de revertermos os impactos e conseguirmos nos orgulhar do legado que criamos em nossas empresas para as gerações futuras, que já perceberam que não irã normalizar o  legacy washing que estamos deixando para elas.  

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