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O que a Copa do Mundo tem nos mostrado sobre inclusão (e exclusão) de mulheres

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Opinião

O que a Copa do Mundo tem nos mostrado sobre inclusão (e exclusão) de mulheres

Em campo, os homens estão disputando a taça, mas elas também estão batendo um bolão neste Mundial


8 de dezembro de 2022 - 9h30

Brasileira Neuza Back na equipe de arbitragem da Copa do Mundo 2022 (Crédito: Reprodução/MB Media/Getty)

Em campo, os homens estão disputando a taça, mas as mulheres também estão batendo um bolão nesta Copa. Até mesmo dentro das quatro linhas já temos importantes avanços pela equidade de gênero: pela primeira vez, a Fifa escalou três mulheres para apitar os jogos. Também foram convocadas três bandeirinhas, sendo uma delas a catarinense Neuza Back. Outras brasileiras vêm fazendo história, mas do lado de fora dos gramados: Renata Silveira se tornou a primeira mulher a narrar uma partida do Mundial na TV aberta no Brasil. Já a jornalista Ana Thaís Matos se tornou a primeira mulher a comentar um jogo da seleção brasileira em Copas do Mundo na televisão. Nas arquibancadas, muitas cataris foram pela primeira vez a um estádio, espaço que elas não eram incentivadas a ocupar.

O movimento não está restrito à Copa. Em setembro, em Porto Alegre, batemos o recorde de público do futebol feminino no Brasil, com mais de 36 mil pessoas no Beira Rio para assistir à partida entre Internacional e Corinthians, na final do Campeonato Brasileiro. O ano também tem sido especial para a Seleção Brasileira Feminina de Futebol, que conquistou a Copa América. E ainda temos a rainha Marta, que faz história com números impressionantes: eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo, ela tem 17 gols em Copas e 118 gols pela seleção brasileira, recordes que nenhum homem bateu.

É claro que nem tudo são flores. Esses fatos inéditos merecem ser evidenciados, mas precisamos avançar muito para diminuir o grande abismo da desigualdade de gênero no futebol. Falta espaço para mulheres e pessoas LGBTQIA+ em cargos de liderança da Fifa, sem falar que as remunerações no esporte seguem discrepantes, assim como os investimentos.

Esse sexismo no esporte prejudica, inclusive, o desempenho das mulheres em campo. Um estudo recente aponta que a ciência por trás do futebol negligencia as mulheres. Isso porque os avanços científicos são pensados para a modalidade masculina. O artigo publicado na revista Sports Engineering identificou dez áreas em que o mundo do futebol ignora as particularidades do corpo feminino. Quer exemplos? Os shorts claros viram uma preocupação de jogadoras em período menstrual. As chuteiras também não levam em conta que o pé feminino é menor e tem menos volume. O encaixe ruim pode causar lesões e deformações.

E por falar em roupa, a atriz Deborah Secco foi alvo de uma polêmica machista por conta do look que usou na estreia como comentarista do programa “Tá na Copa”, do SporTV. Em uma entrevista, rebateu os comentários, afirmando que a hipersexualização da mulher não é feita pela roupa e, sim, pelo patriarcado. Como ela bem ressaltou, as mulheres não devem mudar a forma como se vestem ou se comportam, mas precisam lutar para mudar a forma como são vistas. No Catar, país de maioria muçulmana, as mulheres são sujeitas ao sistema de tutela masculina. Elas devem pedir autorização ao pai, marido ou irmão para casar, viajar e estudar no exterior (até 25 anos), trabalhar em empregos públicos, entre outros.

Há uma parcela da população feminina, no entanto, que precisa lutar ainda mais por direitos no Catar: a LGBTQIA+. A perseguição a essa comunidade é um dos temas mais comentados desta edição da Copa devido à visibilidade dada à causa por jogadores que têm protestado em campo. Atletas da seleção alemã posam antes do início da partida contra o Japão tapando a boca com a mão numa crítica à Fifa, que proibiu os capitães de usarem a C1 – Internal use braçadeira com as cores do arco-íris e a inscrição “One Love” (um amor). As manifestações não pararam por aí, os jogadores iranianos se negaram a cantar o hino do país na primeira partida, numa demonstração de apoio aos atos desencadeados após a morte da jovem Mahsa Amini pela polícia moral do país.

A visibilidade desses protestos em uma Copa do Mundo é enorme, assim como os holofotes sobre a participação feminina na arbitragem, na narração, nas arquibancadas. Ainda falta muito para chegarmos a um mero empate na luta por equidade de gênero, mas sou do time que gosta de comemorar cada gol marcado pela diversidade e inclusão.

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