O que os discursos de Anitta e Raquel Virgínia dizem sobre representatividade
As falas da cantora no VMA e da CEO da Nhaí no W2W mostram que a história tem sido cada vez mais contada por corpos e vozes femininas
O que os discursos de Anitta e Raquel Virgínia dizem sobre representatividade
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1 de setembro de 2022 - 9h18
A semana é das mulheres. Começou com um debate presidencial, no domingo, que evidenciou o óbvio e o conhecido: a importância das mulheres e da pauta feminina no debate público. Neste mesmo dia, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, uma outra mulher fez história. Larissa de Macedo Machado brilhou no evento mais emblemático da música pop mundial. Uma etapa fundamental para qualquer cantor ou cantora se tornar global. Além da apresentação, que enalteceu seu passado no funk, o que mais me emocionou foi o seu discurso.
Com tudo milimetricamente calculado, dos passos da apresentação ao seu figurino, altamente instagramável – a joia em formato de coração da grife Schiaparelli – a imponência das suas palavras foi memorável. Agradecimento à família, aos fãs, e, principalmente, lembrando de sua origem. De onde ela veio, chegar ali é algo tido como impossível. Foi uma noite para não falar de si, mas de uma nação, do coletivo. Da representatividade daquela apresentação e daquelas palavras.
“Meu Deus! Eu realmente não esperava isso, acho que vou chorar. Eu só quero dizer, para quem não sabe: essa noite é histórica. É a primeira vez do Brasil aqui. É a primeira vez que meu país esteve em uma premiação como essa. Quero agradecer a minha família e aos meus fãs. Essa noite eu performei aqui um gênero que por muitos anos foi considerado crime no meu país. Sou nascida e criada no gueto do Brasil, e para quem nasceu lá, nós nunca poderíamos pensar que isso seria possível. Então, muito obrigada.”, disse em seu discurso.
Na terça-feira, em São Paulo, numa festa das mulheres, cheia de muitas pessoas inspiradoras e da celebração de trajetórias femininas, uma outra mulher chamou muito a atenção, também pelo ineditismo. No almoço de homenagem a Women to Watch 2022, Raquel Virgínia fez história e abriu seu discurso já com essa frase, além de relembrar das dificuldades de empreender, da sociedade com mãe e chamou ao palco outras pessoas trans presentes no evento.
“Este é um dia histórico. Sou a primeira mulher trans e negra que sobe nesse palco. Mas não é histórico por mim, e sim pelo mercado que está passando por essa transformação. Todos aqui estamos fazendo história. Esse mercado está abrindo a escuta para muitas das pautas das quais a minha empresa e outras empresas estão trazendo. Eu quero agradecer à minha família. Mesmo quando a minha família foi transfóbica e não aceitou a minha transição, eu não fui abandonada. E quero agradecer às minhas ancestrais. A todas as pessoas trans que morreram. Infelizmente, tem muito sangue derramado para que eu pudesse chegar aqui e quero chamar ao palco todas as pessoas trans que estão hoje aqui.”
Como escrevi nas minhas redes sociais, entre os muitos privilégios profissionais que tenho, sem dúvida alguma, foi ter participado de alguns momentos históricos do mercado publicitário brasileiro, ao longo dos últimos 26 anos. E ter sido testemunha desse, na última terça-feira, ainda reverbera na minha mente e, principalmente, no meu coração.
Estamos ainda engatinhando para ter um mercado mais plural, especialmente, nos espaços de poder. Mas esse é um processo implacável e demos um passo importante nesse sentido nessa semana.
Feliz pelo fato de que a história esteja sendo contada agora por corpos e vozes femininas.
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