Carta à minha mãe
Em algum lugar do universo que você hoje habita desde o dia 9 de março de 2012 sei que está ouvindo essas palavras que escrevo muito emocionada

(Crédito: Arquivo pessoal)
Mãe querida, tenho pensado muito em você nesses últimos dias, pois hoje é seu aniversário de 90 anos. Em algum lugar do universo que você hoje habita desde o dia 9 de março de 2012 sei que está ouvindo essas palavras que escrevo agora muito emocionada.
Quando você partiu eu estava gerando Candy, que nasceu naquele mesmo ano de 2012, no dia 3 de agosto. Sim, agora é um adolescente de 13 anos com tudo o que essa idade traz de descobrimentos e desafios.
Me lembro tanto de você ao ver Candy se maravilhar com as músicas do The Cure, The Smiths, Pixies, The Police, Duran Duran… Lembra que eu passava o dia ouvindo essas mesmas bandas? Mesmo com 40 anos de diferenças entre nós, o bom e velho som dos anos 1980 continua sendo referência. Ele também adora as novas divas do pop, claro, em especial, Taylor Swift, de quem é muito fã e a quem eu aprendi admirar.
O pequeno Theo tornou-se um homem de quase um 1,80m. Faz Taekwondo, ama muito futebol e não é lá muito fã de rock – prefere rap e trap (um gênero que cresceu muito na última década, derivado do próprio rap, com batidas mais pesadas). Mas pelo menos torce para o São Paulo. Sabe que o nosso time — sei bem da sua relação afetiva com o Palmeiras (!) — não anda lá essas coisas há anos? Acredita que desde sua partida não ganhou nenhum grande título?
O Theo acabou de ganhar dois prêmios na escola de melhor roteiro e direção de um vídeo que ele mesmo editou no celular. Ah, o celular não é mais como você conheceu. Fazemos praticamente tudo por meio dele agora: banco, compras, assistimos programas de TV. E agora temos um negócio chamado Inteligência Artificial que está revolucionando muito a forma como lidamos com tudo.
Tim está ótimo. Trabalhando e viajando muito. Somos hoje um casal 50+ com tudo de bom que a maturidade traz. Faremos em novembro 16 anos de casamento. Passou muito rápido.
Você acredita que eu saí do Meio & Mensagem? Já faz 10 anos. Montei minha própria agência, chamada Gume, depois fui trabalhar num grande grupo de comunicação e hoje dirijo uma entidade chamada Cenp – Fórum de Autorregulação do Mercado Publicitário. Continuo no mesmo mercado, mas agora numa posição diferente. Não atuo mais como jornalista como antes, mas essa minha formação me ajuda muito na cadeira que hoje ocupo.
Te contei tudo isso para dizer que as coisas deram certo! Sinto muita falta de te ligar ao final do dia para contar como tudo anda. Mas, não posso reclamar. O universo foi tão generoso comigo que me deu Theo e Candy ao mesmo tempo em que você partia.
O mundo está bem complicado atualmente. O ódio e uma coisa horrorosa chamada cancelamento dominam uma boa parte das conversas, dividindo as pessoas. Mas, sempre me lembro de como você era uma pessoa da paz e, como boa libriana, muito equilibrada.
É com esse espírito que tento levar a vida, educar os meninos e construir minhas relações. Fique tranquila que as sementes que você plantou germinaram e, como diz o grande poeta Gilberto Gil, que está mais vivo e produtivo do que nunca:
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce, trigo
Vive, morre, pão
Feliz aniversário, dona Julita!