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Opinião

Uma questão de sorte

O que você faria se soubesse que uma mulher muito próxima a você, e muito querida, estivesse sofrendo algum tipo de abuso?


28 de outubro de 2022 - 14h58

Mila Kunis é protagonista do filme Uma garota de muita sorte, adaptação do romance best-seller homónimo da escritora Jessica Knoll (Crédito: Divulgação)

O novo filme da Mila Kunis, Luckiest Girl Alive (Uma garota de muita sorte, Netflix), me pegou de jeito, tipo bola curva. Não vou dar spoilers, mas é um filme necessário. Ele discute aspectos importantes sobre abuso e violência das quais nós, mulheres, somos grandes alvos.

Minha reflexão começa com uma pergunta: o que você faria se soubesse que uma mulher muito próxima a você, e muito querida, estivesse sofrendo algum tipo de abuso? Como seria a sua conversa com ela? Que tipo de apoio você daria a essa mulher? Quais ferramentas usaria e de que maneira?

Como o filme, estas questões também são necessárias. 

De acordo com a OMS (2021), uma em cada três mulheres no mundo (736 milhões) já sofreram algum tipo de violência sexual, seja causada por parceiro ou por qualquer outro homem. É uma estatística que não muda há 10 anos, ou seja, não estamos mais protegidas pelos avanços tecnológicos ou quaisquer outros.

A violência contra as mulheres afeta, na maior parte dos casos, as de baixa renda. Em países pobres, a taxa é de 50%, ou seja, 1 em cada 2 mulheres passa por essa experiência.

É uma informação tão escancarada e terrível, e tão pouco se fala sobre o assunto. Vergonha, medo, tabu, respeito, preocupação com outros (filhos, pais, outros entes queridos) estão entre as razões pelas quais eu não sei o que você passou e você não sabe o que eu passei. Nos calamos e seguimos adiante, deixando que aconteça o que acontecer.

Se eu estou escrevendo aqui e você está me lendo, somos mulheres de sorte. Ou por estarmos do outro lado dessa estatística, ou por termos superado traumas. De alguma maneira nos blindamos para seguir com as nossas vidas, deixando o passado para o tempo nublar. Nos fizemos fortes, em posições de liderança, falamos firme e assertivamente, e somos respeitadas. Mas poderia ter sido diferente, como tem sido para tantas outras mulheres.

Há muito o que fazer. 

Por hoje, minha sugestão é simples: somos Women to Watch. Estão nos observando. Que sejamos também Women to Watch Out: mulheres que cuidam umas das outras. Que possamos ter ouvidos atentos para ouvir as histórias mal-contadas ou sussurradas em entrelinhas, olhos aguçados para enxergar o que acontece ao nosso redor, e que usemos as nossas vozes poderosas para que todas (nós e tantas outras) possamos gritar, pedir ajuda, falar sobre o tema, e mudar essa estatística.

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