23 de maio de 2023 - 9h34
Desde os nossos primeiros anos de vida, somos treinados e educados a responder aos questionamentos com gestos afirmativos e negativos. Nesta fase, bastam poucas e rápidas palavras. E assim evoluímos ao longo da nossa formação escolar e acadêmica, sejam nas provas de múltipla escolha, dissertativas ou nas exposições de nossos trabalhos de conclusão de curso. Em geral, temos muito mais espaço para a exposição de nossas ideias do que para perguntas, escuta e diálogo.
No dia a dia, com a pressão de tempo e volume de demandas, somos levados a dar rápidas respostas para tudo. Muitas vezes, é como se me transpusesse para uma pista olímpica. Como em uma corrida de obstáculos, em que cada trave é um problema a ser resolvido, e a cada trote as decisões devem ser tomadas de maneira sempre veloz. Para cruzar a linha chegada e terminar a corrida, basta ser capaz de dizer a maior quantidade de “sins” e “nãos” por dia. E, assim, vou dando repostas e tomando decisões a tudo que me chega pela frente, de maneira ágil e automática.
Ter resposta adequada e solução imediata para tudo nos leva a crer que temos superpoderes. Uma sensação de plenitude, já que confiamos em nosso profundo conhecimento técnico, na experiência, vivência, e no repertório adquirido ao longo da vida nas áreas que atuamos. Além disto, nos leva àquele estado extasiante de altíssima produtividade no quesito de resolver e tirar os problemas da frente!
Será que é assim mesmo que deveria funcionar? Será que esta deve se a melhor medida do nosso sucesso de nossas atividades? Nos últimos anos, tenho me questionado muito sobre este processo. Às vezes, o tempo urge e sim uma resposta certeira e imediata tem inestimável valor. Na realidade, no entanto, muitas vezes podemos dominar a nossa ansiedade e não transformar este comportamento em um hábito e quase uma obrigação.
Oferecer a primeira e rápida resposta pode funcionar bem, mas estamos deixando o dia a dia rodar dentro da nossa zona de conforto. A maior armadilha aqui é que, nem sempre, uma boa resposta é a potencial melhor solução! À medida que nos preparamos e priorizamos sempre as respostas rápidas e imediatas, estamos deixando de potencializar outras possibilidades de reflexão e de criação.
Mudar esta lógica dentro do processo rotineiro de decisão não significa apenas dar tempo para refletir e amadurecer o pensamento de forma progressiva, mas é também se permitir a formular mais perguntas, devolver questões profundas, dialogar mais e não se obrigar a ser o responsável pela autoria individual de todas as respostas.
Claro que, quando me refiro ao produto da minha atividade como uma profissional de inteligência de dados e mídia, dependo e me desafio sempre a formular as melhores perguntas, de forma de aplicá-las para buscar os insights sobre o comportamento do consumidor e todas as dinâmicas da atividade publicitária.
Não tenho dúvida que essa competência me ajuda muito nas demais atividades do meu exercício diário de gestão e liderança. A prática, porém, não é trivial, requer bastante disciplina e deve valer sempre, seja num processo individual ou na interação com outras pessoas. Quando nos propomos a nos questionar mais ou devolver mais perguntas, múltiplas repostas combinadas nos levam a caminhos inexplorados, a alternativas não pensadas, construções plurais, diversas e inovadoras.
Fazer boas perguntas e explorar novos conceitos, caminhos e abordagens, a partir das próprias respostas, sempre foi uma competência importante para indivíduos e organizações. E seguirá sendo ainda mais imprescindível em um cenário de ampla evolução e ganho de escala de aplicação para uso da Inteligência Artificial.
Em meio a tanta evolução tecnológica, a humanização das relações estará também em como dialogar com pessoas e com algoritmos. Seguramente, essa coexistência trará agilidade e velocidade na tomada de decisões e inevitavelmente mudaremos a nossa mentalidade a respeito do quão ou mais importante é saber fazer as perguntas certas, escutar, e cocriar, do que ser o único autor de todas as respostas!
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