Mudar deixou de ser uma escolha

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Opinião

Mudar deixou de ser uma escolha

A existência de incertezas pede atitudes, não recolhimento


8 de janeiro de 2018 - 12h41

Até muito recentemente, prevalecia no mercado a ideia de que nada era mais importante que o resultado financeiro e parecia fazer pouca diferença qual caminho era percorrido para que fosse alcançado. Agora, com a questão da sustentabilidade no centro das discussões de negócios, está claro que precisamos viver com os danos decorrentes do caminhar, o que significa alterar e acelerar processos. Sem isso, vamos continuar remediando ou compensando impactos negativos.

Foi assim que começou uma das conversas mais interessantes que tive em 2017, um diálogo que misturou valor, sustentabilidade e negócios com Denise Hills, superintendente de sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú. Para quem observa os encontros do Fórum Econômico Mundial, lamentou as decisões de Trump relacionadas ao Acordo de Paris, comemorou o posicionamento de corporações que afirmaram que manteriam seus compromissos independentemente da decisão do presidente americano e acompanhou o encontro de líderes mundiais, empresários e cientistas no dia 12 de dezembro em Paris, a necessidade de aceleração de processos colocada por Hills já é um assunto velho. Mas ainda vivemos em um mundo onde grande parte dos negócios foram criados e geridos dentro da lógica de geração de resultado a qualquer custo. A novidade? Grandes corporações já perceberam que isso não faz sentido nenhum.

Segundo Hills, a criação de valor compartilhado, conceito que defende a ideia de que é possível gerar saúde para a sociedade enquanto geramos lucro, se torna cada vez mais importante. Para ela, precisamos trabalhar a favor do mundo onde vivemos e, do ponto de vista das corporações, isso significa que a atividade das empresas tem de agregar valor para o sistema e que a possibilidade de viver do sistema gerando dano não existe mais. Não à toa, Hills enfatiza: se sua atividade não agrega valor para o sistema, em breve você não fará mais parte dele porque não é sustentável, é muito menos eficiente e não traz mais valor no tempo.

Todos sabemos que o contexto de negócios precisa não apenas se adaptar, mas sintonizar- se às mudanças que estão ocorrendo na sociedade. A revolução tecnológica deixou os jogos políticos e empresariais mais visíveis e aumentou o poder de participação e organização individual e coletivo.

Denise Hills enfatiza que muita gente ainda acredita que não existe necessidade de mudar antigos padrões de comportamento em decorrência de novas realidades que muitas pessoas ainda consideram tendências que envolvem incertezas que significam risco. Em sua visão, talvez essas pessoas precisem ser lembradas do significado dessa equação em um contexto de negócio: tendências são ocorrências que já foram observadas em volume suficiente para serem consideradas processos de mudança, não são previsões sem fundamento. Incertezas são decorrências naturais do conjunto de variáveis que interagem com o processo enquanto ele acontece. Tendências são traqueadas, incertezas são monitoradas enquanto acontecem e com isso podemos observar no que elas se transformam antes que se tornem um risco. A existência de incertezas pede atitudes, não recolhimento. E isso é necessário exatamente para que tenhamos como evitar cenários de grandes riscos.

É claro que sair do lugar onde estamos e alcançar o lugar onde o valor será criado e compartilhado com a sociedade em toda a cadeia de relacionamento entre empresas e sociedade pede tempo, mas só vai acontecer se, de fato, nos relacionarmos com a realidade que existe a nossa volta. O fato é que é urgente que o resultado financeiro esteja comprometido com o bem-estar social.

Para Hills, não estamos mais discutindo se é necessário. Nem mesmo estamos discutindo como. Já sabemos que a primeira providência é a tomada de consciência, seguida de um processo de desenvolvimento de pessoas e de mecanismos que gerem um processo real de transformação e, como já foi dito, passamos do momento da consciência.

Tudo isso quer dizer que mudar ou não deixou de ser uma escolha. A necessidade de transformação, em vários sentidos, está colocada, é um fato inegociável e resistir a ela é uma perda de energia impossível de ser recuperada. De fato, as únicas coisas que estão em discussão são quando e com que velocidade, questões razoavelmente fáceis de responder: o quando é agora e a velocidade deve ser a mais rápida possível. Em 2018, acelere.

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