Não ao Cannes da marmota
Nesta edição do festival espero não ter a sensação que vi as mesmas pessoas, as mesmas palestras e as mesmas ideias
Nesta edição do festival espero não ter a sensação que vi as mesmas pessoas, as mesmas palestras e as mesmas ideias
6 de junho de 2019 - 20h09
Déjà vu, uma expressão francesa que significa já visto.
Uma sensação estranha de já ter vivido algo, mas muitas vezes agradável.
Nada melhor do que sentir isso na Riviera Francesa, não é?
Não no Festival de Cannes.
Imagina acordar todo dia e sentir que já viu as mesmas pessoas, as mesmas palestras, as mesmas ideias e não perceber em qual ano do festival você está.
Não é o que eu espero.
Não à agenda da marmota:
Lundi
8:30 – Acorda naquele hotel ou Airbnb que você sabe que já esteve, mas não se lembra.
9:00 – Comer um croissant com uma bela manteiga francesa com café au lait.
10:00 – Pegar a fila com as mesmas pessoas que você sempre vê na fila para ver uma palestra que fala pelo terceiro ano consecutivo sobre AI.
12:00 – Ir ao Café Roma e pegar a mesma mesa próxima à calçada que você sempre pega e comer aquele spaghetti com vôngole que você sabe de cor o sabor.
13:00 – Encontrar aquele amigo da produtora que você encontra na mesma esquina da Rue Notre Dame com a Rue des Belges.
15:00 – Ir naquela reunião que parece que você já foi alguma vez.
16:00 – Pegar aquela última palestra com aquele famoso que você acha que já viu em 2012.
17:00 – Ir naquele happy hour na praia e encontrar os mesmos velhos amigos que você ama e sempre encontra.
18:30 – Ir jantar com seu chefe pela vigésima vez no mesmo restaurante no “Pelorin” (o pelourinho francês).
21:00 – Encontrar a mesma galera no Martinez e pagar aquela cerva de 15 euros.
00:00 – Ir dormir.
Mardi
9:30 – Acordar cansado, mas você já sabe que ainda é o primeiro dia e isso vai piorar.
10:00 – Comer um croissant com uma bela manteiga francesa com café preto.
11:00 – As palestras começam a melhorar e você fica outra vez no final daquela fila enorme com as mesmas pessoas do dia anterior.
12:00 – Ir ao Café Roma e pegar a mesma mesa próxima à calçada que você sempre pega e comer aquele spaghetti com vôngole que você sabe de cor o sabor.
15:00 – Correr pra palestra com algum papa da propaganda.
16:00 – Outra palestra sobre algum protótipo que é bacana, mas ainda está longe de funcionar.
17:00 – Mesma cervejinha que sempre acaba no solarium do Palais.
17:20 – Ir em outro happy hour parecido com o de segunda-feira.
18:30 – Ir jantar outra vez no “Pelorin”, enfim, é o melhor custo benefício.
20:00 – Ir em alguma festa que você esqueceu de fazer o RSVP.
22:45 – Encontrar a mesma galera no Martinez e pagar aquela cerva de 15 euros para dois amigos que você não vê há algum tempo.
02:00 – Ir dormir.
Mercredi
10:30 – Acordar ainda mais cansado, com pouca dor de cabeça.
11:00 – Comer um croissant com uma bela manteiga francesa com café preto duplo, bem forte.
12:00 – Chegar tarde no Pallais… Como as palestras da manhã já estão acabando, você vai dar um confere no shortlist do dia e dos dias anteriores. Vê um monte de boas ideias, mas vê um monte de ideia que você tem certeza que já viu.
16:00 – Vai até os restaurantes em frente do Vieux Port e pede um clássico steak tartare com um rosé.
16:00 – Outra palestra sobre algum protótipo que é bacana, mas ainda está longe de funcionar.
17:00 – Mesma cervejinha que sempre acaba no solarium do Palais.
18:00 – Ir em outro happy hour parecido com o de terça-feira.
19:30 – Ir jantar outra vez no “Pelorin”.
20:00 – Ir em alguma festa que você esqueceu de fazer o RSVP.
23:45 – Encontrar a mesma galera no Martinez e pagar aquela cerva de 15 euros para quatro amigos que você não vê há algum tempo.
03:00 – Ir dormir.
Jeudi
11:30 – Acordar ainda mais cansado, dessa vez, com ressaca.
12:00 – Comer um croissant com uma bela manteiga francesa com Coca-Cola.
13:00 – Chegar ainda mais tarde no Pallais… Pegar as palestras de tarde.
14:45 – Se tocar que você perdeu o New Directors’ Showcase.
15:00 – Ver alguma palestra que você nem sabe o assunto e ficar pescando a palestra inteira.
16:00 – Outra palestra sobre brand content ser “the new trend in advertising”.
17:00 – Mesma cervejinha que sempre acaba no solarium do Palais.
18:00 – Ir em outro happy hour parecido com o de quarta-feira.
19:30 – Ir jantar outra vez no “Pelorin”.
20:00 – Ir em alguma festa que você esqueceu de fazer o RSVP.
23:45 – Encontrar a mesma galera no Martinez e pagar aquela cerva de 15 euros para seis amigos que você não vê há algum tempo.
03:50 – Não saber como chegou no hotel.
04:00 – Ir dormir.
Vendredi
12:00 – Acordar ainda mais cansado, dessa vez, com uma puta ressaca.
12:30 – Comer um croissant com uma bela manteiga francesa com RedBull.
13:00 – Chegar ainda mais tarde no Pallais… Deixar as palestras de lado… Você já viu o suficiente.
13:15 – Passar a tarde toda vendo os shortlists e premiados que você ainda não viu.
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17:00 – Mesma cervejinha que sempre acaba no solarium do Palais.
18:00 – Ir em outro happy hour parecido com o de quinta-feira.
19:30 – Ir jantar outra vez no “Pelorin”.
20:00 – Ir em alguma festa que você esqueceu de fazer o RSVP.
00:00 – Encontrar a mesma galera no Martinez e pagar aquela cerva de 15 euros para oito amigos que você não vê há algum tempo.
04:50 – Não saber como chegou no hotel.
05:00 – Ir dormir.
Realmente, espero que ninguém repita Cannes anteriores.
Mas não deixe de ir provar o peixe na pedra de sal no Keller:
La Plage Keller
1035 chemin de la Garoupe
06600 Antibes
Tél. 04 93 61 33 74
www.plagekeller.com
PS: Isso sim é um déjà vu, já dei essa dica em outro Diário de Cannes
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