O ciclo vicioso de Cannes que impulsiona a publicidade global
Por trás do glamour de Cannes, uma engrenagem onde agências, anunciantes, plataformas e produtores sustentam o ciclo da indústria
O ciclo vicioso de Cannes que impulsiona a publicidade global
BuscarPor trás do glamour de Cannes, uma engrenagem onde agências, anunciantes, plataformas e produtores sustentam o ciclo da indústria
21 de junho de 2025 - 7h00
De um lado, temos as maiores agências do mundo, disputando cada categoria do festival como quem luta por medalhas olímpicas.
Cada Leão conquistado é uma vitória que alimenta não só o ego, mas também o portfólio, reforçando sua relevância perante anunciantes e a mídia.
Do outro lado estão os anunciantes, essas figuras cobiçadas que são tratadas como astros de Hollywood, sendo paparicados e perseguidos por todos. Eles sabem que têm um poder enorme nas mãos: a verba de mídia, que é o que move a economia criativa.
Curiosamente, muitos desses anunciantes agora também são plataformas de mídia — Netflix Ads, Amazon Ads, DoorDash Ads e tantos outros —, transformando o jogo numa espécie de “comer ou ser comido”.
Falando em plataformas, elas estão aqui com um único objetivo: vender pacotes de mídia para a próxima temporada. Sim, é quase como uma feira de negócios disfarçada de festival criativo.
Mas não podemos esquecer dos veículos de mídia, que são peças fundamentais nesse tabuleiro e têm a missão de iluminar tudo o que acontece aqui, gerando awareness para empresas, profissionais e, claro, para o próprio evento. Sem eles, Cannes seria apenas um encontro exótico à beira-mar, sem eco no resto do mundo.
E por fim, há nós, os estúdios, produtoras, desenvolvedores e outras empresas que atuam na execução das campanhas. Somos como formigas operárias, movimentando esse ecossistema e dependendo de praticamente todos os outros lados para sobreviver.
E assim, no meio dessa dança caótica, surgem os networkers. Esses personagens, munidos de sorrisos estratégicos e cartões de visita, estão aqui para fazer marcação cerrada nos clientes atuais, prospectar novos parceiros e, claro, aproveitar o clima paradisíaco da Riviera Francesa. Afinal, quem não gosta de misturar negócios com um pouquinho de glamour?
Mas vamos falar a verdade: decidir investir em Cannes não é fácil. O retorno não é 100% mensurável, e isso deixa muita gente com aquela pulga atrás da orelha.
Para quem vive nas Américas como nós da 20Dash com uma parte do time no Brasil e outra na Califórnia, cruzar o Atlântico já pesa no bolso — e ainda tem o custo do ingresso, que chega a ser três vezes mais caro que a passagem de avião.
Sem mencionar os hotéis e Airbnbs, que triplicam de preço durante o evento, graças ao pico turístico do verão europeu. E, ah, estamos na França! Aqui, comer mal não é uma opção. Então, quando você soma tudo isso, começa a se perguntar: será que vale mesmo a pena?
No fundo, a resposta para essa pergunta depende muito do ângulo pelo qual você olha. Cannes é um ciclo vicioso, onde cada lado puxa o outro para justificar o investimento.
As agências precisam dos Leões para impressionar os anunciantes; as plataformas de mídia querem vender seus pacotes às agências e anunciantes; os anunciantes aproveitam a competição acirrada para negociar melhores condições; os jornalistas exploram o frenesi do evento para criar conteúdo único; e nós, os produtores das campanhas, corremos atrás de garantir os projetos do próximo ano.
É como uma engrenagem gigante, onde cada peça empurra a outra, mantendo o motor funcionando a todo vapor.
O mais fascinante é perceber como Cannes consegue equilibrar esse caos organizado. Apesar de toda a complexidade e da aparente falta de sincronia, o festival segue girando, impulsionado pela energia coletiva de todos os envolvidos.
E sabe de uma coisa? No final das contas, quem realmente sai ganhando é o próprio Cannes Lions. Ele controla todo esse ecossistema, definindo quem brilha e quem fica nas sombras – até a próxima campanha. É quase como um curador invisível, orquestrando a sinfonia bagunçada que mencionei antes.
Então, se sua conta fechar — literalmente, porque a fatura do seu cartão de crédito vai chegar para te cobrar por cada euro gasto —, nos veremos aqui em 2026. Quem sabe até lá as engrenagens terão mudado um pouco, mas algo me diz que o ciclo continuará girando, como sempre.
Compartilhe
Veja também