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O primeiro passo é admitir o problema. E depois?

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17 a 21 de junho de 2024 | Cannes - França
Diário de Cannes

O primeiro passo é admitir o problema. E depois?

Cannes segue falando sobre a importância da diversidade, mas a distância entre falar e mudar ainda é muito grande. Até quando?


22 de junho de 2018 - 13h02

Insisto em dizer o óbvio, mas Cannes é reflexo do nosso mercado. E reflexo de um mercado que, muitas vezes, a gente finge que não é bem assim, em uma tentativa coletiva de se enganar e fingir que as coisas estão evoluindo – quando, na verdade, falamos muito, fazemos muito pouco.

Saindo um pouco do nosso país razoavelmente mais diverso e de agências que já entenderam que diversidade deixa o trabalho criativo melhor, chegar em Cannes traz o choque de ver um mercado muito mais igual, branco, hétero e masculino do que o nosso dia a dia em casa.

É só andar pelo Pallais e pelos espaços dos patrocinadores para ver que diversidade é discurso, mas ainda está longe da prática. Ainda mais em um evento tão caro, inacessível, restrito, baseado em relacionamento, high society. Até mesmo programas como o Young Lions, que seriam essenciais nessa mudança, escorregam na tradicional forma de sustentar o mercado como sempre foi e acabam afastando profissionais que poderiam mudar essa realidade.

Ao longo dos últimos dias, vi palestras incríveis sobre o tema. Madonna Badger, Queen Latifah e Katie Couric fizeram um ótimo painel sobre serem exemplo e agentes de mudança da sociedade – as três moderadas por um homem, é claro. Tive a oportunidade de conhecer o júri de Glass, que premia justamente campanhas que trabalham pela igualdade, diversidade e por uma mudança real no mundo.

Mas, no geral, percebe-se o mesmo: lindas histórias, filmes emocionantes, muito discurso, pouca ação de fato. Como se continuar falando sobre uma crise econômica fosse de fato resolver uma crise econômica.

Somos de comunicação, e temos, sim, que usar comunicação para mudar a sociedade. Acredito muito no poder da palavra, no seu impacto nas pessoas, na educação coletiva para mudar uma realidade que se perpetua há tanto tempo. Mas é preciso mais do que isso nesse momento. É preciso cota, é preciso estímulo, é preciso #YesSheCannes, é preciso Fair Lions, é preciso campanhas reais e não só vídeos compartilháveis.

Saio daqui na esperança de que a diversidade não seja só mais uma das ondas de assuntos que dão leão. E sabendo que, só quando o Festival entender que a mudança precisa ser mais feita do que falada, é que vamos conseguir voltar para Cannes sem o peso na consciência de fazer parte desse mercado como ele é.

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